Os catalães votam hoje num referendo “ilegal” para dizer que querem continuar a fazer parte de Espanha ou se escolhem a independência. A meio do dia de votações, o sucesso desta consulta popular não se mede pela abstenção ou afluência, mas pela quantidade de mesas de voto encerradas, das urnas apreendidas e dos feridos resultantes dos confrontos com os mais de 12 mil polícias que o Governo de Madrid destacou para a região.
Para já, os serviços de emergência médica da Catalunha afirmam ter transportado para o hospital 38 pessoas, três delas com ferimentos de maior gravidade, provavelmente provocados pelas balas de borracha com que a polícia tentou dispersar os manifestantes que rodeiam as mesas de voto para impedir que as autoridades as fechem.
O Governo regional discorda e afirma que são já 337 as pessoas feridas nos confrontos com a polícia, ao mesmo tempo que Ada Colau, presidente da câmara de Barcelona, já veio a público pedir a demissão de Rajoy por causa das cargas policiais, que o presidente do Governo Regional já classificou de injustificadas, irracionais e irresponsáveis. Carles Puidgemont – que foi obrigado a ir votar a 15 km de distância de onde estava inicialmente previsto por causa da ocupação desta mesa de voto pela polícia – afirmou mesmo que “a imagem exterior do Estado espanhol continuou a piorar e hoje atingiu um nível de vergonha que o acompanhará para sempre”.
Apesar das ações da polícia, a Generalitat afirma que 93% das assembleias de voto abriram, ao passo que o Governo afirma que nenhuma mesa de voto tem rede e que os votos se registam em papéis. O Governo regional não nega a existência de falhas, mas retorque que criou um sistema alternativo de voto, baseado no Census universal, que permite que qualquer catalão vote em qualquer mesa de voto e com boletins impressos em casa.
Mas confrontos não acontecem apenas nas ruas e as declarações dos responsáveis políticos revelam a grande tensão que se vive naquela região. Logo pela manhã, o delegado de Madrid na Generalitat, Enric Millo, afirmou que o Governo Central teve de fazer “o que não queria”, ou seja, usar as autoridades para impedir a votação. Ao mesmo tempo, Millo criticou a atuação dos Mossosd’Esquadra, a polícia regional, que em várias ocasiões limitou-se a registar a presença dos populares nos locais de voto, abandonando-os sob aplausos dos catalães. Ao contrário dos populares, o Governo Central já afirmou que iria agir processualmente contra os polícias, por sobreporem questões políticas às profissionais.
Em resposta às declarações de Enric Millo, o porta-voz do governo catalão, Jordi Turull, apelou à sua demissão, acusando-o de ser o “responsável direto pela repressão e violência do Estado” em algumas assembleias de voto na Catalunha.
A vice-presidente do governo espanhol, Soraya Sáenz de Santamaría, devolveu o ataque e pediu ao governo catalão que suspenda “irresponsabilidade” e a “farsa” do referendo independentista, que “nunca foi legal” e hoje ficou demonstrado que é “claramente irrealizável”.
Numa conferência de imprensa em Madrid, Sáenz de Santamaría disse que “continuar esta farsa não tem sentido e não leva a lugar algum”, pelo que os dirigentes catalães “devem terminar imediatamente” com o processo de votação.
O mais recente desenvolvimento nesta polémica é o anúncio, por parte do conselheiro da Generalitat para os Assuntos Exteriores, Raul Rovema, de que o Governo regional irá invocar o artigo n.º 7 do Tratado da União Europeia (UE), por alegada violação do artigo 2 do mesmo tratado, pois considera que a a forma como agiu o Executivo de Rajoy colocou em causa a garantia de “pluralismo, não discriminação, tolerância, justiça, solidariedade e igualdade entre homens e mulheres” que o diploma confere.
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