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Ferrovial. Trocar Espanha pelos Países Baixos vai muito além do pagamento de impostos

A decisão foi escrutinada ao detalhe pelo poder político e universo empresarial espanhol e colocou em foco aquilo que muitos apelidam de “política agressiva do Governo contra as empresas, sobretudo no âmbito fiscal”. No entanto, acreditam os analistas, a decisão da Ferrovial vai muito além de uma poupança no momento de pagar impostos.
4 Março 2023, 11h58

O tema marcou a semana em Espanha e levou a várias reações, incluindo de Christine Lagarde. A multinacional de origem espanhola, Ferrovial, empresa que se dedica à construção, financiamento e manutenção de infraestruturas de transporte e serviços urbanos, anunciou a mudança de sede de Espanha para os Países Baixos, no mesmo dia em que apresentou os resultados anuais.

A decisão foi escrutinada ao detalhe pelo poder político e universo empresarial espanhol e colocou em foco aquilo que muitos apelidam de “política agressiva do Governo contra as empresas, sobretudo no âmbito fiscal”. No entanto, acreditam os analistas, a decisão da Ferrovial vai muito além de uma poupança no momento de pagar impostos.

Esta sexta-feira, o “El Economista” tornou públicos os cálculos da empresa nesse particular. Assim, estimam os responsáveis da Ferrovial que a mudança de sede afetaria a fatura fiscal global da empresa em 2022 em oito milhões de euros, que em Espanha ascende a 282 milhões de euros. A poupança fiscal, portanto, seria inferior a 3% e corresponderia também às retenções sobre os dividendos pagos aos acionistas e aos custos da segurança social dos empregados que a Ferrovial planeia transferir para Amesterdão, estimados em cerca de 20 a 30 pessoas.

A Ferrovial foi fundada em 1952 por Rafael del Pino y Moreno. O objetivo passava por assegurar obras ferroviárias mas o negócio foi ampliado para a manutenção de estradas e outras obras de engenharia. A multinacional fez a estreia em bolsa em 1999 com uma capitação de 3,1 mil milhões de euros e neste quarto de século cresceu até aos 20 mil milhões de euros. Aparentemente, o índice espanhol Ibex 35 tornou-se pequeno para as ambições da Ferrovial que agora aponta baterias para a bolsa americana.

Uma das razões apontadas para a decisão da Ferrovial passa sobretudo pelo facto da bolsa espanhola – tal como a maioria das praças europeias – não ter um acordo com a sua homóloga norte-americana que lhe permita às cotadas negociar nos dois lados do Atlântico. A exceção é a Euronext, a bolsa dos países baixos, que abre desta forma a porta às ambições da Ferrovial. E negociar do outro lado do Atlântico permite à multinacional captar investimento norte-americano, alargar as fontes de financiamento e reduzir o custo de emissões de dívida em operações futuras.

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