[weglot_switcher]

Figos da índia: cultura inovadora com baixas necessidades hídricas

João da Silveira, João Calado da Maia, Miguel Oliveira e João Prego gerem a AGROFIAP, uma empresa nacional que vende figo da índia em polpa e está em processo de investimento para, num futuro breve, lançar “uma série de produtos provenientes do fruto e da palma (folha)”.
João da Silveira, João Calado da Maia, Miguel Oliveira e João Prego gerem a AGROFIAP.
19 Agosto 2023, 20h18

Os figos da índia são apreciados pelas sua versatilidade culinária e propriedades cosméticas. O seu cultivo é um exemplo de como as plantas podem ser adaptadas a condições climáticas adversas.

Esta cultura tem desempenhado um papel importante na alimentação, economia e tradições de várias comunidades, especialmente em áreas onde as condições climáticas são desafiantes. Os figos da índia são originários das Américas, mas, ao longo do tempo, foram-se espalhando por várias partes do mundo, incluindo regiões da África, Mediterrâneo, Oriente Médio e partes da Ásia.

Os figos da índia são cultivados em climas quentes e secos, adaptando-se bem a solos áridos e rochosos. A sua capacidade de crescer em condições adversas torna-os uma cultura valiosa para áreas onde outras plantas têm dificuldade em crescer.

Os figos da índia têm um alto valor nutricional e são apreciados pelas sua versatilidade culinária e propriedades cosméticas. Os seus frutos são conhecidos como “peras espinhosas” ou “tunas” e a planta suculenta perene faz parte da família cactaceae e género opuntia, que tem quase 200 espécies. São ricos em fibras, vitaminas (como vitamina C) e minerais. Podem ser consumidos crus, mas também são frequentemente usados para fazer sumos, geleias, doces e até mesmo bebidas alcoólicas, como licores. Além disso, as raquetes (as folhas planas e carnudas do cacto) são comestíveis, após serem descascadas e preparadas.

A planta em si é utilizada para alimentar o gado, graças ao seu valor nutricional e à sua capacidade de crescer em ambientes hostis. O óleo de semente de figo-da-índia, que é rico em ácidos gordos essenciais, é utilizado em produtos cosméticos e farmacêuticos. Além do seu valor económico e nutricional, os figos da índia têm um significado cultural em muitas comunidades. São frequentemente usados em cerimónias religiosas e festivais, simbolizando a resistência, a adaptação e a prosperidade em ambientes difíceis. Apesar da sua capacidade de prosperar em climas adversos, a cultura de figos da índia não está isenta de desafios.

O cultivo excessivo e a disseminação de plantas invasoras podem impactar negativamente os ecossistemas locais. Além disso, a colheita de figos da índia pode ser complicada, devido às suas espinhas e aos microscópicos gloquídios (espinhos) que cobrem a superfície dos frutos.

São estes desafios que enfrenta a empresa portuguesa AGROFIAP, de João da Silveira, João Calado da Maia, Miguel Oliveira e João Prego.

A AGROFIAP, sediada no Monte da Oliveiras, em Lavre, surge da união de três produtores de figo da índia. Num momento em que “deixaram de conseguir vender a fruta para o seu maior cliente”, tiveram que “pensar numa estratégia” para “não estarem dependentes de terceiros” para poderem comercializar a sua fruta. “Assim surgiu esta empresa”, explica João da Silveira.

Um dos sócios já era agricultor e os outros três arrancaram para este projeto agrícola vindos de “outras áreas completamente distintas”. Os quatro tiveram a mesma linha de pensamento: desenvolver uma cultura com baixas necessidades hídricas, versátil e inovadora.

Neste momento a AGROFIAP está a vender o figo da índia em fresco polpa. “Estamos em processo de investimento na nossa unidade de produção, com os equipamentos em fase de instalação, a fim de poderemos, num futuro breve, ter uma série de produtos provenientes do fruto e da palma (folha)”, adianta João da Silveira.

E como garantem a qualidade dos produtos? Quais os processos de controle de qualidade? “A AGROFIAP é uma empresa que se orgulha de produzir segundo algumas normas que consideramos serem uma mais valia para o cliente, para os trabalhadores e para o ambiente. Estamos certificados em Modo de Produção Biológico e os pomares têm certificação GLOBAL G.A.P e GRASP. Independentemente das certificações que temos, queremos sempre garantir aos nossos clientes que a fruta que produzimos é de elevada qualidade e que cumpre todos os requisitos que o mercado pede, para além de fazermos os possíveis para deixar a menor pegada de carbono possível”, diz o mesmo responsável. A AGROFIAP detém cerca de 40 hectares de pomares, divididos por áreas de implementação idênticas e situados nas Alcáçovas e em Lavre.

E como lidam com a sazonalidade? “Sempre foi nossa ideia obter o máximo de sub-produtos desta cultura e a questão da sazonalidade foi o que levou a AGROFIAP a investir na inovação. Não queremos que a nossa atividade fique cingida a três meses de colheita e venda da fruta. Esta cultura, pela sua versatilidade (fruta em fresco, polpa, sementes para extração de óleo, palmas para alimentação humana e animal) tem a capacidade de estar 12 meses por ano a fornecer vários produtos”, responde João da Silveira.

Os grandes desafios que a AGROFIAP enfrenta são “o delinear uma estratégia para que o figo da índia passe a ser uma fruta que os portugueses queiram ter à mesa, pois, para além de ser uma fruta com umas características nutritivas excelentes, é super saborosa”. Outro dos desafios “é o facto de ainda não haver uma estrutura organizada para compra e venda da fruta dos produtores nacionais, nos moldes de uma cooperativa como existe noutras fileiras, com sucesso. A estratégia que montamos passou por fechar a cadeia de produção, passando a sermos produtores, indústria transformadora e rede comercial, de forma a que todos estes produtos cheguem aos nossos clientes”.

Os sócios da AGROFIAP veem “com enorme esperança o potencial de crescimento desta cultura. Tanto o fruto como a palma têm características nutricionais excecionais, uma característica única, que é o facto de se poderem desenvolver sem recurso a água, o que nos tempos que correm, com a maior escassez de água, é uma característica que a distingue a de outras culturas”, diz João da Silveira. E acrescenta: “Foi também considerada pelo World Wildlife Fund como uma das 50 culturas do futuro. Por todas estas características, pela versatilidade, pelos sub-produtos que pode gerar e pela sua capacidade de sequestrar carbono atmosférico, estamos em crer que será uma fileira com um futuro promissor”.

A empresa está a delinear uma campanha de marketing e comercial “para que, quando tivermos um portefólio diversificado de produtos desta cultura, possamos entrar em força nalguns mercados ainda pouco explorados”.

A AGROFIAP já exporta fruta fresca há dois anos para a Europa e conta poder abrir o leque de produtos exportado em breve, nomeadamente a polpa e o óleo. “Existe uma série de países que são grandes conhecedores e consumidores desta fruta mas que, devido aos climas e geografias onde estão, não a conseguem produzir”, conclui João da Silveira.

A AGROFIAP detém 40 hectares de pomares situados nas Alcáçovas e em Lavre. Os seus pomares têm certificação biológica e os sistemas de rega implementados têm um consumo de água controlado. As caixas de embalamento são com cartão de origem FSC e recicláveis.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.