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Financiamento de empresas com criptomoedas dispara 1.500% em 2018

O valor de criptomoedas como a bitcoin cai cerca de 60% este ano, mas o interesse por ‘initial coin offerings’ não arrefeceu. Os analistas antecipam que esta forma de financiamento continue a crescer.
15 Agosto 2018, 19h01

O financiamento de empresas através initial coin offerings (ICO) é cada vez maior e parece indiferente às correções do valor de grandes criptomoedas, como a bitcoin ou a ether. O montante angariado nestas operações disparou 1.527%, a nível global, para 13.616 milhões de dólares (equivalente a cerca de 11.690 milhões de euros), nos primeiros seis meses de 2018, face ao período homólogo.

Em menos de três meses, o montante ultrapassou a totalidade de 5.482 milhões de dólares (4.706 milhões de euros) angariados ao longo de 2017. Não só o número de operações aumentou (de 343 no total de 2017 para 394 nos primeiros seis meses de 2018), mas especialmente o momento investido em cada empresa.

“O disparo do montante levantado em ICO tem a ver com o aumento considerável da notoriedade e interesse do mercado”, explicou Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros. “O facto de as ICO terem conseguido atrair muito interesse por parte de investidores levou à criação de muitos projetos novos que pretendiam captar fundos – ou seja aumentou a oferta. Por outro lado, os ganhos registados por muitos detentores de tokens e moedas atraíram procura por este tipo de ativos”.

O consultor de blockchain, Justin Wu, acrescenta ainda que do lado das empresas há atualmente uma nova perceção. “As ICO só estão a acelerar porque são um meio de formação de capital muito mais eficiente que o financiamento tradicional de venture capital”, diz.

“Estamos a presenciar o estabelecimento de uma nova classe de ativos com ether e bitcoin”, afirmou, sublinhando que há profissionais da área financeira tradicional que estão a abandonar os negócios que tinham para se dedicar a criptomoedas e ICO. “Esta tendência irá apenas acelerar em 2018”.

O aumento expressivo aconteceu, no entanto, no mesmo período em que o valor das criptomoedas passaram por correções e quebraram os ciclos de valorizações do ano passado.

No caso da bitcoin, que negoceia nos 7.410 dólares, já perde quase 57% desde os máximos do ano tocados em janeiro, acima dos 17 mil dólares. Já a ether, nos 492 dólares, deu um tombo de mais de 64% em relação aos máximos de 1.380 dólares em janeiro.

“O mercado das criptomoedas corrigiu, no geral, cerca de 60% desde os máximos, neste primeiro semestre. É de louvar que continuem todos os dias a surgir novos projetos em forma de ICO, o que demonstra que não é o preço da bitcoin que define a saúde deste mercado, mas sim os agentes que o compõem, que continuam a mostrar uma vitalidade brutal”, afirmou Tiago da Costa Cardoso, senior broker da XTB.

Enquanto as criptomoedas acentuavam a volatilidade e acompanhavam o momento negativo nas ações, outras mudanças incentivavam o investimento cripto. “Investidores institucionais e instituições financeiras têm preparado infraestruturas e licenças necessárias para entrarem no espaço das criptomoedas”, disse Wu, dando o exemplo das bolsas norte-americana Nasdaq e suíça Six Group, que estarão a preparar a abertura de plataformas de transação, enquanto a gestora de ativos Blackrock pondera investir em cripto e o regulador dos mercados dos EUA suavizou as regras para exchange traded funds (ETFs) que poderá permitir a emergência de ETF de bitcoin e ether.

A expetativa do mercado é que estas mudanças permitam a gestores de ativos tradicionais entrarem no mundo cripto.

“A Coinbase acabou de receber luz verde dos reguladores norte-americanos para oferecer security tokens”, lembrou o consultor. “O primeiro boom cripto em 2017 foi alimentado por utility tokens em Ethereum. O segundo ‘boom’ cripto será muito maior em termos de magnitude e de security tokens, que estão ligados a ativos reais como imobiliário, ouro ou até mesmo ações e obrigações”.

Ao longo deste período, o disparo do financiamento através de ICO foi composto principalmente por grandes operações internacionais, como a da EOS, da Telegram, Dragon e HuobiToken. A uma escala consideravelmente menor, também há projetos portugueses, como é o caso da Bityond, cuja ICO está atualmente a decorrer. A WallID e a Abypay planeiam fazê-lo até ao final do ano.

“Para Portugal, o futuro próximo não é muito risonho, porque os projetos que existem disponíveis  de ICO não estão a ter um sucesso tão forte e, além disso, continua a haver um grande afastamento entre os portugueses e este mercado. Por outro lado, os avisos dos reguladores e o afastamento quase completo dos intermediários financeiros a estes mercados contribui para esse afastamento”, afirma Garcia, da IMF.

Costa Cardoso, da XTB, também vê menos entusiasmo por parte dos investidores devido à correção, mas está mais otimista. “Acredito que até ao final do ano, o sentimento do mercado deverá ser cada vez mais positivo, o que, juntando a um conhecimento cada vez maior da sociedade, nos pode trazer perspetivas muito otimistas em diante”, acrescentou.

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