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FMI alerta para PME e dependência do turismo e serviços em Portugal

Poul Thomsen alerta que estes setores têm ‘almofadas’ financeiras limitadas, podendo “ser mais fortemente afetadas no curto prazo”. O ex-negociador do Fundo Monetário Internacional (FMI) no período da ‘Troika’ diz que em Portugal há ainda “algumas inflexibilidades no mercado de trabalho”.
Bogdan Cristel/Reuters
15 Abril 2020, 12h37

O diretor do departamento Europeu do FMI, Poul Thomsen, disse hoje que a dependência do turismo, dos serviços e as baixas poupanças das pequenas e médias empresas podem ser um problema para Portugal no contexto da pandemia de covid-19.

“A dependência do turismo, a dependência do setor dos serviços, e pequenas e médias empresas (PME) que têm ‘almofadas’ financeiras limitadas e, por isso, podem ser mais fortemente afetadas no curto prazo”, foram os principais fatores elencados por Poul Thomsen como potencialmente problemáticos para Portugal, numa teleconferência de imprensa, em resposta a uma pergunta da Lusa.

O economista, que foi negociador do Fundo Monetário Internacional (FMI) no período da ‘Troika’ (Programa de Assistência Económica e Financeira do FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu de 2011) em Portugal, disse que “ainda há algumas inflexibilidades no mercado de trabalho, comparando com outros países, que também podem entrar em jogo” na crise causada pela pandemia de covid-19.

“As implicações em Portugal serão, em larga medida, moldadas por alguns dos mesmos fatores que mencionei para Espanha e Itália”, referiu o economista dinamarquês, lembrando que a dependência do turismo também é um fator a ter em conta naqueles países.

Relativamente a Espanha, e tal como para Portugal, o diretor do FMI classificou de “especial vulnerabilidade” a dependência do turismo, tal como “um grande número de pequenas e médias empresas (…) que muitas vezes não têm os recursos para aguentar choques significativos”.

Na fase de recuperação, Poul Thomsen disse ser “difícil, nesta altura, dizer quem será mais impactado”, se os países do norte ou do sul da Europa.

“Sabemos que algumas das economias do norte são muito dependentes de exportações, e as perspetivas vão depender muito da trajetória pós-recuperação”, referiu.

Questionado sobre se a emissão conjunta de dívida pelos países da zona euro, os chamados ‘coronabonds’ ou ‘eurobonds’, seriam a solução adequada para a crise, o responsável do FMI frisou que a instituição “não tomou uma posição sobre isso”.

“A questão tem de ser se todos os países, incluindo os com uma dívida relativamente elevada, conseguem tomar as ações necessárias sem agitar os mercados e aumentar os ‘spreads’ [margem de lucro dos investidores face às dívidas públicas dos países]”, referiu.

Nesse sentido, Poul Thomsen considerou que o pacote de 500 mil milhões de euros aprovado pelo Eurogrupo, o grupo de ministros das Finanças da zona euro, “é a resposta certa” ao problema.

“O pacote totaliza 500 mil milhões de euros, é um apoio muito forte, e os líderes [europeus] sublinharam que se a situação ficar mais difícil que o esperado (…) estão prontos para fazer mais”, referiu.

O economista disse que, tal como “no passado, os líderes europeus irão provar que farão tudo o que for necessário”.

Poul Thomsen vai retirar-se do FMI em julho 2020.

O FMI prevê uma recessão de 8,0% da economia portuguesa e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020, devido à pandemia de covid-19, de acordo com as Perspetivas Económicas Mundiais divulgadas na terça-feira.

A economia da zona euro deverá ter uma recessão de 7,5% este ano, de acordo com o FMI, recuperando depois para um crescimento de 4,7%, e a taxa de desemprego agregada dos 19 países deverá subir dos 7.6% para os 10,4%, descendo depois para os 8,9% em 2021.

O FMI prevê ainda que a economia mundial tenha uma recessão de 3% em 2020, fruto do apelidado “Grande Confinamento” devido à pandemia de covid-19.

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