[weglot_switcher]

FMI: “Medidas de apoio são essenciais para garantir o crescimento a médio prazo” na Europa

Diretor do Departamento Europeu do FMI defendeu que os países europeus “têm de fazer o que for preciso para conter a pandemia”, mas também que os países devem ter planos para o médio prazo. Recordou a importância de políticas no apoio à liquidez das empresas, bem como de assegurar que as empresas insolventes, mas viáveis, podem continuar ativas.
21 Outubro 2020, 18h10

É demasiado cedo para retirar os estímulos orçamentais e os países europeus devem continuar a endossar todos os esforços neste sentido, contudo, é preciso também ter planos de crescimento para o médio prazo, que permitam criar almofadas para absorver possíveis choques externos no futuro. A ideia foi defendida por Alfred Kammer, diretor do Departamento Europeu do FMI, que alertou ainda que a natureza da economia europeia irá transformar-se depois da crise provocada pela pandemia.

“As medidas de apoio são essenciais para garantir o crescimento a médio prazo e proteger a capacidade da economia”, disse o responsável do FMI nesta quarta-feira numa conferência de imprensa sobre as perspetivas económicas regionais para a Europa este ano e no próximo e as prioridades de política económica nos próximos meses.

Alfred Kammer, realçou que “é preciso reconhecer que os défices orçamentais refletem em primeiro lugar uma redução das atividades económicas, que estamos a proteger para que retomem o seu caminho, e refletem mais gastos na resposta sanitária e também um apoio muito grande para empresas e trabalhadores”. Realçando que estes fatores irão ter menos peso no futuro e que por isso os défices orçamentais irão diminuir, sublinhou, contudo, a necessidade de não esquecer a sustentabilidade.

“Defendemos a ideia de que os países devem ter planos para o médio prazo, criando amortecedores orçamentais. Temos que ter espaço orçamental para responder a novos choques. Temos que os ter para que a economia esteja preparada para responder à crise no futuro”, vincou.

Ainda assim, o diretor do Departamento Europeu voltou a defender, à semelhança do que tem feito a presidente do FMI, que as autoridades “têm de fazer o que for preciso para conter a pandemia e os seus prejuízos económicos”, pelo que “não devem retirar o apoio prematuramente para que não se repita o erro da crise financeira mundial”.

Num rasgado elogio ao impacto positivo que as medidas orçamentais discricionárias anunciadas este ano pelos países europeus tiveram para amparar os efeitos da pandemia, o FMI recordou que ascenderam em média a 6,2% do PIB para as economias avançadas e 3,1% do PIB para as economias emergentes da Europa.

“Este apoio discricionário veio juntar-se aos poderosos estabilizadores automáticos europeus. Uma grande parte dos pacotes de medidas orçamentais foi usada para os programas de manutenção do emprego e apoio à liquidez das empresas. Estes programas foram muito bem sucedidos em limitar o grau de destruição de empregos e evitar uma sucessão de falências e encerramento de bancos”, disse.

Destacou assim que as intervenções de política económica na Europa contribuíram para evitar uma recessão ainda mais profunda, projetando que sem estas e sem o “forte apoio da União Europeia”, a atividade económica entre os países da União poderia ter sido 3 a 4 pontos percentuais do PIB mais baixa em 2020.

“Com o tempo, o apoio deve ser mais direcionado e também mais flexível, para facilitar a realocação de recursos e a transformação da economia. Continua a ser imperioso proteger a saúde das pessoas, inclusive através da cooperação internacional”, afirmou, salientando que “a natureza dessas medidas de apoio deverá mudar”.

Para o FMI “a natureza da economia vai mudar e vai mudar também porque há muitas transformações que existem, como a digitalização”. Recorda ainda a importância de políticas no apoio à liquidez das empresas, bem como assegurar que as empresas insolventes, mas viáveis, podem continuar ativas.

No relatório “Perspetivas Económicas Regionais” publicado esta quarta-feira, explica que nas economias avançadas, cerca de um terço da queda da solvência como resultado da pandemia poderia ser sanada pelas políticas anunciadas, como subvenções salariais, subsídios ou reduções de impostos, uma vez que a pandemia pode colocar em risco os empregos em empresas insolventes que podem ascender a mais de 8% da força de trabalho na Europa.

“É necessário introduzir políticas que facilitem a célere reestruturação da dívida, seja ou não no contexto de falências, ou que, em alguns casos, disponibilizem capital para empresas viáveis”, defendeu.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.