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FMI corta crescimento global este ano em 0,5 pontos devido a incerteza comercial

Os EUA e a China serão as economias mais prejudicadas, bem como o bloco do sudeste asiático, mas a Europa – e Portugal – também não escapam às revisões em baixa do crescimento para este ano e o próximo.
FMI
The International Monetary Fund logo is seen during the IMF/World Bank spring meetings in Washington, U.S., April 21, 2017. REUTERS/Yuri Gripas
22 Abril 2025, 14h00

O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima uma perda de crescimento de 0,5 pontos percentuais (p.p.) este ano decorrente da política comercial norte-americana e da incerteza que esta criou na economia global, perdas essas que sobem para 0,8 p.p. se incluindo 2026. Este é “um momento crítico” para a economia mundial, que sofrerá um forte rombo mesmo com o recuo de Trump quanto às tarifas recíprocas anunciadas a 2 de abril – e Portugal não escapa, vendo a sua previsão de crescimento cortada em 0,3 p.p..

Na atualização de primavera das projeções macroeconómicas divulgada esta terça-feira, o FMI alerta para uma perda de 0,5 p.p. no crescimento este ano, que se fica assim pelos 2,8% este ano, e de 0,3 p.p. em 2026, isto quando comparando com as previsões feitas em janeiro. O crescimento para este ano já seria revisto em baixa por 0,1 p.p., refletindo sobretudo as tarifas de 25% sobre o aço e alumínio e a primeira ronda de tarifas acrescidas impostas à China, mas o anúncio de 2 de abril e o ziguezague que se seguiram causam ainda mais dificuldades.

Já Portugal regista uma revisão em baixa de 2,3% para 2% este ano, um corte de 0,3 p.p. de igual magnitude à atualização para 2026, de 2% para 1,7%.

O Fundo explicita que a sua avaliação se reporta apenas às medidas anunciadas até dia 4 de abril, ou seja, antes do recuo norte-americano nas tarifas recíprocas que planeavam aplicar à generalidade dos países, mas também da escalada de tensões com Pequim que levou a barreiras alfandegárias mútuas acima de 100%.

Incorporando estas medidas, o resultado não seria, contudo, muito distinto. A principal diferença será, explica o relatório, a composição do crescimento global, dado que “os ganhos de tarifas efetivas mais baixas em países inicialmente sujeitos a taxas mais altas serão compensados por resultados mais fracos nos EUA e na China que se propagarão ao longo das cadeias de valor globais”.

“Mais, as perdas nos EUA e na China tornar-se-iam maiores em 2026 e daí para a frente, enquanto os ganhos noutras regiões esmoreceriam, levando a um crescimento global mais fraco do que o tomado como referência”, continua o relatório.

A zona euro vê assim um corte de 0,5 p.p. na previsão de crescimento para este ano, com um consumo privado e o fim do limite da dívida alemão a compensarem parcialmente (e com maior intensidade a partir de 2026) os efeitos negativos criados pela incerteza e tensões comerciais. Espanha merece uma nota de destaque ao liderar o bloco da moeda única, devendo crescer 2,5% este ano, uma revisão em alta de 0,2 p.p. em relação às projeções de janeiro.

Já os EUA sofrem um corte de 0,9 p.p. este ano, crescendo apenas 1,8%, sofrendo fortemente com o seu protecionismo. No próximo ano, os efeitos das barreiras alfandegárias continuarão a pesar sobre o consumo, levando a um corte de 0,4 p.p. para 1,7% em 2026.

O FMI duvida ainda que a China atinja os objetivos propostos de crescimento para os próximos dois anos, antecipando um efeito negativo considerável da escalada de hostilidades com os EUA. O PIB deve assim avançar 4% em 2025 e em 2026, revisões em baixa em relação aos 4,6% e 4,5% anteriormente estimados em janeiro, isto apesar do carryover forte de 2024 e das medidas de estímulo orçamental.

Em sentido inverso, a inflação deve recuar menos do que se previa inicialmente, sobretudo nas economias mais avançadas. O FMI espera agora uma inflação global de 4,3% este ano e 3,6% no ano seguinte, embora com revisões em alta mais significativas nas economias mais desenvolvidas, nomeadamente EUA e Reino Unido.

A economia norte-americana viu a previsão de inflação revista em alta por 1,0 p.p., refletindo “as dinâmicas de preço teimosas no sector dos serviços”, além do impacto das tarifas nos preços domésticos. Já no Reino Unido, a revisão deve-se a “aumentos one-off em preços regulados”. Para a zona euro não há alterações à previsão de 2,1% de inflação este ano e 1,9% no próximo, enquanto Portugal deve fechar com 1,9% e 2,1%, respetivamente.

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