David Neeleman, ex-administrador e ex-acionista da TAP SGPS, acusou o Governo de interferência junto da administração e Comissão Executiva da companhia aérea, em resposta por escrito às perguntas da Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da TAP, documento a que o JE teve acesso.
O antigo acionista da companhia é perentório na resposta aos deputados à pergunta se existiram tentativas de interferência do Governo na operação da TAP. “É público e notório que o Governo em vários momentos procurou pressionar a administração e/ou a Comissão Executiva”, destaca David Neeleman.
Para este antigo acionista da companhia aérea, existem três momento em que se mostra deliberadamente essas tentativas de interferência: o bloqueio da oferta pública de venda, a definição de rotas internacionais e o pagamento de remuneração variável aos trabalhadores.
“Bloqueio da OPV foi um caso grave”
No que diz respeito ao bloqueio da oferta pública de venda (OPV), David Neeleman qualifica-o de “caso grave”: “Sem razões objetivas, o Estado/Parpública em incumprimento claro com o que tinha assumido no Acordo Parassocial, impediu que a empresa fosse colocada em bolsa. Naquele momento teria sido um sucesso extraordinário conseguir colocar uma empresa como a TAP no mercado de capitais europeu”, lamentou o ex-administrador.
David Neeleman refere que “infelizmente, os administradores nomeados pelo Estado não atuaram com independência e no melhor interesse da TAP e decidiram vetar o IPO. Optaram por tomar uma decisão assente em juízos de oportunidade política de
curto prazo e de agradar a um eleitorado específico”.
Definição de rotas internacionais
“Alguém imagina que um gestor profissional e com provas dadas no setor não procure sempre a melhor rentabilidade da empresa e que se esses voos fossem rentáveis ou mais rentáveis do que outros, os teríamos reduzido?”. A pergunta é lançada por David Neeleman e é respondida da seguinte forma a propósito da definição das rotas internacionais: “Mas não o poderíamos fazer porque, diziam-nos, a TAP era 50% do Estado. Havia grande dificuldade em perceberem, no Governo de então, que uma coisa é o Estado ter uma palavra a dizer na estratégia de uma empresa, outra muito diferente, é interferir numa gestão independente e que, precisamente porque é independente, está em melhores condições de cumprir com a sua obrigação fiduciária de proteger, em primeiro plano, o melhor interesse da companhia”.
Remuneração variável aos trabalhadores
Para David Neeleman, o caso do pagamento de remuneração variável aos trabalhadores “foi lamentavelmente transformado num caso público”. “Estávamos a falar de remunerações variáveis de valor relativamente baixo a um grupo muito alargado de trabalhadores que, com o seu mérito, dedicação e esforço cumpriram os seus objetivos. Em momento algum se falou de estender a política de remunerações variáveis à comissão executiva ou aos administradores”, referiu.
Explica Neeleman que “durante esses dias, o Governo pressionou a nossa Comissão Executiva e em particular o CEO, de uma forma lamentável e inaceitável, para que não pagasse as remunerações variáveis. Foram pressões muito duras através de mensagens de telemóvel e reuniões com o próprio Ministro das Infraestruturas. Felizmente, o CEO teve coragem para não ceder
às pressões e a Comissão Executiva acabou por pagar as remunerações variáveis, que eram devidas”.
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