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França: a pior semana da Bolsa de Paris em dois anos

O CAC 40 caiu 4,88% desde o início da semana, que coincidiu com o momento em que o presidente Emmanuel Macron decidiu marcar eleições antecipadas. Entretanto, já há uma nova Frente Popular: o ‘fantasma de Leon Blum’ também não faz bem aos índices.
Martin Bureau/Reuters
14 Junho 2024, 12h18

A vitória da extrema-direita nas eleições europeias, seguida da dissolução da Assembleia Nacional e da formação da Nova Frente Popular à esquerda, não tranquiliza os investidores: a Bolsa de Paris caia 1,33% esta sexta-feira e na véspera, o índice registou a sua pior queda em quase um ano (-1,99%). Os analistas dizem agora que o mercado de capitais caminha para a pior semana desde junho de 2022.

Por outro lado, taxa dos yelds da dívida a dez anos da França caiu ligeiramente para 3,12%, mas afastou-se ainda mais do equivalente ao Estado alemão, considerada a dívida europeia mais segura. Os analistas franceses têm sempre em consideração o balanço entre as taxas dos dois países – ou seja, dão mais importância ao diferencial que compara a economia francesa com a alemã, que propriamente à taxa em absoluto. Neste contexto, a semana foi um desastre para a França.

“Essa diferença é um indicador da confiança dos investidores num determinado país. Atualmente, está em 0,71 ponto percentual, o maior desde 2017, e sua amplificação ao longo da semana é a maior desde 2020”, refere o jornal “Le Monde”. Sendo Á França o país europeu que mais investimento direto estrangeiro consegue captar, o indicador é especialmente preocupante.

Citado pelo jornal, Sebastian Paris Horvitz, chefe de pesquisa da gestora de ativos LBP AM, disse que “embora não haja programas económicos detalhados pelos partidos políticos, há preocupação de que partidos muitas vezes representando os extremos, e sem experiência no governo, possam tomar as rédeas do país. Isto levanta questões, ainda mais num contexto em que a França deve enveredar por um caminho de consolidação das suas finanças públicas”.

O fantasma de Leon Blun

Entretanto, esta manhã ficou definido que a esquerda (partido socialista francês incluído) vai mesmo apresentar-se às eleições em bloco – fazendo recordar a todos os franceses a experiência da Frente Popular original, liderada por Leon Blum em junho de 1936. Foi um momento efémero (a experiência acabou um ano depois) mas deu a entender aos franceses que a possibilidade de as esquerdas surgirem unidas não é apenas uma hipótese académica. Mesmo que não tivesse corrido bem, nomeadamente porque nem sequer teve força suficiente para ajudar os republicanos que entretanto lutavam no país vizinho contra Francisco Franco.

Seja como for, os quatro principais partidos de esquerda concordaram em formar uma Nova Frente Popular (FPN) para disputar as eleições antecipadas, fazendo campanha numa plataforma conjunta e lançando um único candidato em cada circunscrição. Partido Socialista, Verdes, Partido Comunistas e França Insubmissa (LFI), liderados por Jean-Luc Mélenchon, disseram que chegaram a um acordo após vários dias de difíceis negociações e apresentarão o seu manifesto ainda esta sexta-feira.

“Uma nova página na história da França foi escrita”, disseram em comunicado conjunto. Mélenchon transmitiu nas redes sociais os seus “mais calorosos parabéns e agradecimentos aos nossos negociadores, que estiveram quatro noites sem dormir”.

Mesmo que a FPN não venha a ter um forte resultado, a sua constituição é uma má notícia para Emmanuel Macron, mais uma, que tem agora de defender-se do facto de uma coligação pré-eleitoral ser sempre um ‘chamariz’ para os eleitores. Pior ainda, Macron tem um ‘chamariz’ à esquerda e outro em potencial a direita.

O ministro da Economia e Finanças, Bruno Le Maire, sublinhou esta manhã que o programa proposto pela união de esquerda é “a garantia de saída da União Europeia” pela rejeição da “disciplina europeia” em termos do Orlçamento.

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