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França: aprovada por unanimidade lei especial que substitui orçamento

Primeiro-ministro ouviu as forças políticas com representação na Assembleia Nacional. Quase unanimemente, as críticas centraram-se na dificuldade em perceberem qual é a agenda do próximo governo de François Bayrou.
François Bayrou
Francois Bayrou, leader of French centrist party MoDem (Mouvement Democrate), arrives to attend the second plenary session of the Conseil National de la Refondation (CNR – National Council for Refoundation) at the Elysee Palace in Paris, France, December 12, 2022. REUTERS/Gonzalo Fuentes
17 Dezembro 2024, 07h00

Foram esta segunda-feira aprovados todos os artigos do projeto de lei especial que permite à administração do Estado, na ausência de um orçamento para 2025, continuar a cobrar impostos e a pagar aos funcionários públicos a partir de 1 de janeiro. O projeto será analisado na quarta-feira no Senado para aprovação final e pretende servir de ‘muleta’ enquanto se aguarda a adoção do quadro orçamental que, no início de 2025, será a primeira preocupação – e também o primeiro teste – do futuro governo de François Bayrou.

Entretanto, depois de receber os dirigentes do Rassemblement National (RN, de Le Pen e Jordan Bardella), do Ensemble pour la République e do Partido Socialista (PS), o primeiro-ministro recebeu os Les Républicains (LR) ao início da tarde de segunda-feira. Embora nenhum deles tenha falado no final da reunião, o chefe dos senadores do LR, Mathieu Darnaud, disse à Agence France-Presse (AFP) que pediram a François Bayrou para “esclarecer o seu roteiro de governo”, apelando a incluí-los “significativamente” na sua equipa.

Recebido em Matignon juntamente com Laurent Wauquiez, chefe dos deputados da Direita Republicana (DR), Darnaud disse que lembrou ao primeiro-ministro as “prioridades” da LR, citando em particular a continuidade da soberania, a imigração e a emergência agrícola como matérias fundamentais que espera ver no âmbito das prioridades do novo governo. Sobre o orçamento, que deve ser votado no início de 2025, “cabe a Bayrou esclarecer o seu método, o que não fez nesta fase”, afirmou o senador.

No final deste encontro com François Bayrou, Marine Le Pen, presidente do RN na Assembleia – o maior partido em número de deputados – mostrou-se satisfeita por ter sido recebida e “ouvida” pelo novo primeiro-ministro. Discutiram, nomeadamente, disse, a implementação da representação proporcional nas eleições legislativas, defendida há anos por François Bayrou. Durante o encontro, os dois representantes do partido de extrema-direita recordaram as suas prioridades: “não ver o agravamento dos problemas de poder de compra”, “focar em encontrar soluções para a gravíssima crise de segurança que abala o nosso país, bem como a imigração”.

Por seu turno, embora Gabriel Attal não tenha falado à saída de Matignon, o seu primeiro secretário, Olivier Faure, disse que “ainda não temos indicações precisas sobre como o primeiro-ministro pretende governar”.

À saída do encontro em Matignon, os socialistas afirmaram mais ou menos o mesmo: o primeiro-secretário do PS, Olivier Faure, disse que “ainda não temos indicações precisas sobre como o primeiro-ministro pretende governar”, explicou ao lado dos presidentes dos grupos socialistas no Parlamento, Boris Vallaud e Patrick Kanner. Colocando-se “numa oposição aberta ao compromisso”, Olivier Faure fez saber, no entanto, que os socialistas procuram “compreender as condições a partir das quais podem ser levados a não censurar o governo”. O ‘pacto de não censura’ proposto pelos socialistas foi objeto de análise durante o encontro – recorde-se que os socialistas comprometem-se a não votar uma moção de censura se o primeiro-ministro não utilizar o artigo 49.3º, que lhe permitiria governar passando por cima da Assembleia Nacional. “Não há acordo neste momento” sobre este assunto, disse Faure, que apela a uma ‘reparlamentarização’ da vida política. “Se for para ter a mesma política [de Emmanuel Macron], as mesmas causas produzindo os mesmos efeitos, sancionaremos da mesma forma”, nomeadamente a votação de uma moção de censura.

De facto, segundo os analistas, Bayrou tem ouvido, mas não tem falado. Ou seja, ainda não explicou ao país quais são as suas prioridades. O silêncio compreende-se em parte, mas começa a ser desgastante que o primeiro-ministro nem sequer esclareça se vai ou não continuar nas suas funções autárquicas. François Bayrou é presidente da câmara de Pau, onde esteve na noite passada para presidir ao conselho municipal – e participou também, à distância, na reunião interministerial de crise sobre a situação em Maiote. Até agora, Bayrou não disse nada sobre as suas intenções em relação a manter ou não o cargo de prefeito, juntamente com seu cargo de primeiro-ministro. Os jornais franceses esclarecem que nada o impede, no papel, de combinar as duas funções. A lei de não cumulação de mandatos (de fevereiro de 2014) apenas menciona a proibição de um parlamentar “exercer funções executivas locais”. Quanto aos ministros, a única proibição que lhes é imposta é a de não permanecerem parlamentares quando entrarem no governo.

Nas últimas três décadas, apenas Alain Juppé permaneceu como presidente da Câmara de Bordéus após a sua nomeação para Matignon por Jacques Chirac em 1995. Desde então, todos os antecessores de François Bayrou que também tinham mandatos locais deixaram as suas funções – Jean-Marc Ayrault em Nantes, Jean Castex em Prades e Édouard Philippe no Havre.

 

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