A moção de censura apresentada pelos grupos da Nova Frente Popular (NFP) contra o governo liderado por Michel Barnier não foi adotada pela Assembleia Nacional. A moção recebeu 197 votos dos 289 que teriam sido necessários para a sua adoção. A decisão já era esperada e, como também era esperado, o governo proposto pelo antigo comissário da União Europeia, foi ‘salvo’ pela direita parlamentar.
Para justificar a moção de censura, a deputada Clémence Guetté (La France Insoumise, partidp que lidera a Nova Frente Popular) disse na Assembleia que Michel Barnier governa como um “invasor”, lembrando que o partido do primeiro-ministro, Les Républicains, ficou apenas em quarto lugar nas eleições legislativas “com 6% dos votos”. Guetté também denunciou a “coorte de reacionários” que compõem o governo Barnier. “O seu governo é ilegítimo e hoje marca um momento essencial de esclarecimento”, diz a deputada. A moção de censura visa “restabelecer a ordem das coisas”.
O deputado ‘macronista’ Pierre Cazeneuve acusou a NFP de tentar “construir desequilíbrios quando os franceses precisam de um rumo”. Recorde-se que o país esteve mais de 50 dias sob a tutela de um governo demissionário, enquanto o presidente Emmanuel Macron tentava a verdadeira quadratura do círculo: encontrar um primeiro-ministro que não fosse nem da esquerda nem da extrema-direita, mas que conseguisse um compromisso com alguma dessas bandas para conseguir governar.
De algum modo, Macron consegui-o: Michel Barnier ‘enfeudou-se’ à extrema-direita de Marine Le Pen e Jordan Bardella e conseguiu, pelo menos para já, salvar o seu governo. Segundo os analistas, o prazo de vida máximo de novo governo francês é exatamente o das eleições presidenciais – mas isso é tudo o que Macron queria. De facto, o sistema francês coloca eleições parlamentares logo a seguir às presidenciais, na tentativa de quem ganhou as presidenciais não ter que se haver com um parlamento hostil.
Os mesmos analistas convergem na ideia segundo a qual Barnier terá de governar a contento da extrema-direita para que os seus líderes não caiam na tentação de avançarem com a sua própria moção de censura. Outros analistas afirma que Barnier pode fazer o que quiser que isso nunca acontecerá: Marine Le Pen quer chegar à primavera de 2027 sem ter o peso de uma passagem pelo governo que a pudesse tornar hostil perante os franceses.
Resolvido este primeiro ‘contra-tempo’, o antigo líder das conversações do Brexit pelo lado dos que ‘ficaram’ terá agora outro contra-tempo que poderá ser bem mais castigador: a rua. “É outro partido político em França”, diz o analista Francisco Seixas da Costa – que concorda que este será um ponto de enorme dificuldade para Mivhel Barnier. Como tem sido, aliás, para Macron neste seu segundo mandato como presidente.
Mas já a seguir o novo primeiro-ministro tem pela frente um outro exercício urgente: o Orçamento do Estado. Que deverá se ruma resposta à crise económica que assola o país – e que tem levado (como tudo em França) ao extremas de posições: de um lado os patrões, que consideram que não há espaço para nenhum aumento de benefícios sociais e muito menos do salário mínimo, e do outro os trabalhadores (os ‘mobilizáveis’ pelos poderosos sindicatos para encherem as ruas de Paris), que têm uma posição diametralmente oposto.
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