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França: ‘carrascos’ de Barnier parecem querer poupar Bayrou

Desta vez, a extrema-direita parece que não votará favoravelmente a moção de censura apresentada pela extrema-esquerda. Mas não quis dar nenhuma garantia disso, tendo preferido manter o tabu que acabará esta manha na Assembleia Nacional gaulesa.
Francois Bayrou
French Prime Minister Francois Bayrou arrives to attend a state dinner on the occasion of the Angolan president’s visit, at the Elysee Palace in Paris, France, 16 January 2025. EPA/CHRISTOPHE PETIT TESSON
5 Fevereiro 2025, 07h00

O ‘ano francês’ de 2025 começa como acabou o de 2024: com o governo a tentar sobreviver a uma moção de censura, depois de ter ‘ousado’ aprovar o OrO ‘ano francês’ de 2025 começa como acabou o de 2024: com o governo a tentar sobreviver a uma moção de censura, depois de ter ‘ousado’ aprovar o Orçamento do Estado para 2025 com o recurso ao artigo 49.3, que permite fazer avançar uma lei sem que ela tenha necessariamente que ser aprovada na Assembleia Nacional. A lei só será derrubada se, na Assembleia, algum partido propuser uma moção de censura que seja votada favoravelmente. Foi isso que sucedeu ao governo do primeiro-ministro Michel Barnier em dezembro do ano passado e é isso que está em cima da mesa para suceder esta quarta-feira ao governo de François Bayrou.

A grande diferença face a dezembro – para além de o governo não ser o mesmo, mas ser da mesma extração política – é que a extrema-direita do Rassemblement National, liderada por Marine Le Pen e Jordan Bardella, pode, desta vez, não votar favoravelmente a moção de censura apresentada pela extrema-esquerda do La France Insoumise (liderada por Jean-Luc Mélenchon). Ou seja, os ‘carrascos’ de Michel Barnier podem, desta vez, deixar sobreviver o seu herdeiro político, François Bayrou. Só para apimentar o momento político – como se a realidade não o fosse já mais que o suficiente – a extrema-direita decidiu arranjar um pequeno tabu e passou estes dois dias (desde que a moção foi decidida pela extrema-esquerda) sem explicar aos franceses se votaria a favor ou contra a proposta.

A aposta dos analistas era que não votariam a favor. De facto, Marine Le Pen – que tem fundadas esperanças de passar a ser a presidente de todos os franceses a partir de maio ou junho de 2027 – não poderia apresentar-se ao eleitorado como uma das responsáveis pela falência de dois governos em pouco mais que dois ou três pares de semanas, sem que isso lhe trouxesse sérios dividendos políticos num futuro que está cada vez mais próximo.

Portanto, para a maioria dos analistas, François Bayrou vai conseguir deixar para trás a ‘sina’ do seu antecessor – até porque tem a garantia de que, pelo menos, o PS ‘furará’ o bloco de esquerda que fez parte da Nova Frente Popular e votará contra a censura. Depois disso, poderá concentrar-se no Orçamento do Estado, tendo na mente que é a primeira vez na V República francesa que o país não tem um Orçamento em fevereiro do ano em que deveria estar em vigor.

Parte do trabalho já está feito, mas os compromissos políticos não têm fim entre os gauleses – e o mais provável é que, se sobreviver à prova da censura, Bayrou tenha de regressar à mesa de negociações para burilar mais um ponto ou outro.

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