[weglot_switcher]

França continua a reforçar posição na relação económica com Portugal

Mesmo com a pandemia, a posição da França como investidor e como parceiro comercial tem sido reforçada. Em declarações ao JE, o presidente da Aicep refere que nos cinco anos terminados em 2020 o investimento direto líquido francês em Portugal multiplicou-se por mais de sete vezes.
24 Outubro 2021, 11h00

França tem ganho um peso cada vez maior na relação económica com Portugal, como fonte de investimento, mas também como mercado, com uma balança comercial que tem pendido para o lado luso, afirmando-se, assim, como estruturante para empresas e empresários. Em declarações ao Jornal Económico (JE), o presidente da Aicep Portugal Global – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, Luís Castro Henriques, refere que nos cinco anos terminados em 2020 o investimento direto líquido francês em Portugal multiplicou-se por mais de sete vezes. Em termos de stock, o investimento direto estrangeiro (IDE) francês ultrapassou os 12,8 mil milhões de euros, no final do primeiro semestre deste ano, representando 8,3% do total. França afirma-se, assim, como uma das cinco mais relevantes geografias de origem do investimento estrangeiro em Portugal.

 

Parceiro comercial em crescendo
Esta relação económica não se resume, apenas, a IDE, porque a importância relativa de França como parceiro comercial tem crescido, afirmando-se como o terceiro fornecedor e ocupando, em crescendo, a posição de segundo maior cliente, mesmo depois do impacto da pandemia. Em 2019, antes da emergência da Covid-19, mais de 7,7 mil milhões de euros de bens e 3,4 mil milhões de euros de serviços foram vendidos por Portugal a clientes franceses.
Responsável por um excedente comercial da ordem de 1,5 mil milhões de euros favorável a Portugal, o mercado francês é estruturante para as empresas e empresários nacionais.
E o volume de comércio significa criação de emprego, sendo que as filiais francesas são o grande empregador estrangeiro em Portugal, especialmente se tivermos em atenção sectores como o dos transportes e logística, do comércio, tecnologias de informação e comunicação, mas também a indústria, nomeadamente a relacionada com a fileira do automóvel, o que é visível, por exemplo no perfil das empresas selecionadas para os Troféus Luso-Franceses, promovidos pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa (CCILF).
Globalmente, estamos a falar de 750 empresas com capital francês, que empregam mais de 60 mil trabalhadores.
E, desde há alguns anos que foram empresas francesas que tornaram Portugal um destino privilegiado para os negócios de nearshoring, com grandes empresas de serviços ligados à banca e seguros a transferirem as operações para Portugal.
Não se pense, também, que os portugueses estão parados e não aproveitam o mercado francês para também investirem, de volta. Durante os primeiros nove meses deste ano, o stock de IDE português em França atingiu os 1,4 mil milhões de euros, com referência para a iniciativa de grupos lusos relevantes a atuarem em todo o território gaulês, caso dos grupos Amorim, Visabeira, Renova, Purever, Alves Ribeiro ou ainda, os “unicórnios” de matriz portuguesa, que se mostram muito ativos, como a Talkdesk e a Outsystems.

 

I&D em destaque
De realçar que a França é um potentado na capacidade de angariar investimentos industriais, a par de atividade de pesquisa e desenvolvimento (I&D), ficando à frente do Reino Unido e da Alemanha. Os sectores mais apelativos para os grandes investidores externos em França centram-se nas energias renováveis, algo fundamental no momento atual, onde se espera ficar menos dependente de energias fósseis e quando a União Europeia definiu regras para o processo de descarbonização da economia, com metas ambiciosas definidas já para o final da década. E é também um país para grandes investimentos na área da saúde, refletindo o elevado poder de compra dos seus cidadãos e também o problema na alteração da pirâmide demográfica.
Florence Mangin, Embaixadora de França em Portugal, realça (na entrevista publicada neste Especial) que o país está recetivo e aberto a projetos industriais onde a tecnologia portuguesa dá cartas, caso dos sectores ligados ao mobiliário, madeira, vidro e cerâmica. A nível de serviços, o mercado francês está recetivo no setor da construção civil, uma área onde a emigração dos anos 60 do século passado foi relevante.
Na distribuição, os franceses têm um operador público disponível para os investidores e exportadores, o Business France. Dados citados pela Lusa referem que o Governo francês subiu de 6% para 6,25% a sua previsão de crescimento económico para 2021. Na apresentação do orçamento francês foi referido pelo ministro da Economia, Bruno Le Maire, que que era esperado para este mês de dezembro um nível de atividade idêntico ao período pré-pandémico. Este é o último orçamento do atual mandato do presidente Emmanuel Macron e fecha com um plano de investimento de 30 mil milhões de euros. Nas contas francesas o défice público deverá ficar nos 5% em 2022, bem acima do desejado por Bruxelas, enquanto o peso da dívida pública no Produto Interno Bruto tenha recuado ligeiramente para 114%.
O ministro da Economia francesa prometeu que a estratégia não será o equilíbrio das finanças públicas à custa de períodos longos de austeridade, mas antes através de reformas estruturais e classificou a opção de 2008 como um erro. O desemprego esperado para este semestre em França é de 7,6%, o mais baixo desde a crise financeiro de 2008. Foi realçado o impacto para empresas e famílias do custo de energia e a produção nuclear vai voltar a ser a opção para manter os valores de energia controlados, quer a nível de eletricidade, quer indiretamente no gás. Por seu lado, o plano “France 2030” apresentado a seis meses das eleições presidenciais. Visa relançar a França industrial, sendo que a inovação é crítica para o país financiar o modelo social. Uma das principais medidas será o investimento de mil milhões de euros em pequenos reatores nucleares, uma energia amplamente utilizada na França que não gera gases de efeito estufa. No entanto, não é consensual esta opção energética. O país vai ainda aplicar quatro mil milhões de euros no desenvolvimento de uma aeronave de baixo carbono e para produzir cerca de dois milhões de veículos elétricos e híbridos até 2030. Haverá ainda investimento na robótica para a agricultura.

 

Investimento imobiliário continua em alta
O imobiliário também tem sido um sector de destino do investimento francês. O clima e o custo de vida de Portugal têm atraído cada vez mais franceses, tanto como residentes, beneficiando de um quadro fiscal competitivo, como em turismo. No ano passado, um período atípido devido à pandemia, os franceses tornaram-se os turistas mais gastadores em território português, ultrapassando uma posição que era detida pelos britânicos. Segundo o Banco de Portugal, em 2020, os turistas gauleses deixaram 1.551 milhões de euros em Portugal. E lideraram, também, no primeiro semestre deste ano.
Em 2016, Reino Unido e China foram ultrapassados pelos franceses, que se tornaram os maiores investidores estrangeiros no imobiliário português. O estudo “Living Destination” apresentado recentemente pela consultora imobiliária JLL veio mostrar que esta realidade se manteve, apontando que os franceses são a terceira nacionalidade com maior peso na procura internacional por habitação no mercado português, contando com 16%, atrás de chineses e de brasileiros.
No final do ano passado, estavam inscritas no registo consular junto da Embaixada de França em Portugal, 16.787 pessoas, fazendo com que a francesa seja a oitava comunidade estrangeira mais importante do país.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.