além da explicação pública que Emmanuel Macron entendeu fornecer aos franceses para explicar o caos político em que lançou o país – não queria deixar a nação resvalar para as mãos da extrema-direita – percebeu-se desde cedo que o presidente tinha em vista também as presidenciais de 2027, a que já não concorrerá, mas nas quais ter desempenhar um qualquer papel. A escolha de Michel Barnier surgiu debaixo dessa lógica, como explicava ao JE o embaixador Francisco Seixas da Costa, que chegou a ocupar o cargo em França. Barnier não fará sombra a quaisquer que sejam os planos de Macron para 2027: “Já não tem idade, e já o tentou uma vez”, sem sucesso, alias.
Enquanto isso, Edouard Philippe, que foi o primeiro primeiro-ministro de Macron, anunciou, com uma desusada antecipação, que estará presente nas eleições presidenciais de 2027 – na tentativa de ocupar o espaço que a saída de Macron deixará em aberto.
“Conheço Michel Barnier há muitos anos e acho que, na situação política bastante complicada e sem precedentes que estamos vivendo, a escolha de Michel Barnier pelo presidente da República é uma escolha muito boa”, disse Edouard Philippe em entrevista esta quarta-feira. “É uma boa escolha porque Michel Barnier é um homem experiente, metódico e íntegro, que sabe o que é debate e compromisso, que sabe ser firme também, que tranquiliza os nossos parceiros europeus, o que, na minha opinião, faz sentido, e acho que, nesta situação sem precedentes, ele é provavelmente o mais bem colocado para tentar avançar e fazer o país avançar.” continuou o líder da Horizons. “Michel Barnier pode ser mais conservador que eu, mas valorizamo-nos um ao outro e acredito que, no momento em que vivemos, não faria sentido tentar trabalhar exclusivamente com pessoas com quem concordaria em tudo, o tempo todo”.
Os dados ficam assim lançados: os dois caminharão em conjunto – possivelmente nos próximos dois anos, se tudo correr bem – e não se atropelarão um ao outro, indicam os analistas. Para todos os efeitos, Macron terá sempre uma palavra a dizer sobre o assunto.
“Mais uma vez, farei o meu melhor para ajudá-lo. Os deputados e senadores do Horizons querem garantir que este grande encontro, esta base sobre a qual Michel Barnier está a tentar apoio para governar, que tem 235 deputados, seja o mais sólido possível”, explicou o governador de Le Havre, acrescentando que não vê “nenhuma desvantagem” na recondução de membros do governo cessante. Os votos desta força política estão, portanto, assegurados.
Macron continua a espaldar a sua escolha. Esta quarta-feira na cerimónia de abertura do Conselho de Estado, o presidente disse que, como “as nossas democracias ocidentais foram profundamente afetadas, às vezes desestabilizadas por transições e choques” – clima, energia, geopolítica” e que perante essa constatação, defendeu uma “cultura fortalecida da eficácia da ação pública” e uma “simplificação das nossas ações coletivas”. Uma mensagem dirigida a Michel Barnier, dizem os analistas.
Entretanto, o visado continua a sua lenta caminha na direção de um consenso que não está garantido, mas sem o qual não poderá formar governo. Depois de se reunir com os parlamentares de cada um dos componentes da antiga maioria, Michel Barnier participará esta quinta-feira no regresso ‘de férias’ dos representantes eleitos da ‘sua’ Les Républicains.
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