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Frederico Rosa: “O imobiliário no Barreiro não tem preços especulativos”

O Barreiro quer afirmar-se como alternativa a Lisboa para habitação e para o investimento no turismo. Frederico Rosa explica os projetos que estão a ser desenvolvidos e o que pretende para o concelho.
9 Setembro 2018, 20h00

Em entrevista ao Jornal Económico, o presidente da Câmara Municipal do Barreiro, Frederico Rosa, aponta como vantagens do Barreiro os “preços não especulativos” do imobiliário, a frente de rio e a proximidade de Lisboa. A autarquia procura investimento para recuperar imóveis, ter habitação de qualidade construída e um hotel. “O Barreiro é hoje em dia uma terra de oportunidades”, diz.

 

Quando se fala do Barreiro, pensamos sempre numa zona industrial degradada, com perda consecutiva de população. É essa a realidade hoje?

No concelho do Barreiro, estamos a perder população desde há cerca de 20 anos, principalmente pelo processo de desindustrialização. Agora, estamos a recuperar população, muito devido à classe média, com filhos, que está a descobrir que o Barreiro é uma zona boa e acessível para ter habitação e viver. E há muitas pessoas com raízes no Barreiro que estão a regressar. Estou convencido que vamos inverter essa tendência de perda de população nos próximos dois anos.

 

Qual é a população atual?

O concelho do Barreiro, dos mais pequenos em área da margem sul do Tejo, integrado na AML [Área Metropolitana de Lisboa], tem cerca de 78 mil habitantes, neste momento, dos quais cerca de 65 mil estão localizados na zona urbana, na própria cidade do Barreiro. Somos dos concelhos com maior densidade populacional do país.

 

Como explica esse fenómeno do regresso da população?

É preciso notar que do centro do Barreiro até ao Saldanha, entre barco [Soflusa] e metro [de Lisboa], estamos a pouco mais de 30, 40 minutos do centro de Lisboa, nos períodos em que há frequências muitas altas, de 10 em 10 minutos, em hora de ponta, e desde que os transportes estejam a funcionar de forma adequada. Temos transportes, quer autocarros, quer barcos, com frequência muito alta. Do centro da cidade do Barreiro até à estação fluvial dos barcos são cerca de cinco minutos. Esta é uma grande mais-valia, principalmente para as novas gerações, que abdicam da utilização da viatura própria e optam por transportes públicos. Outro atrativo para as pessoas que vivem em Lisboa é que a nossa cidade está muito perto, tem uma vida cultural intensa e tem oferta imobiliária a preços não especulativos.

 

O Barreiro ainda não foi afetado pelo aquecimento dos preços do imobiliário que se verifica na margem norte?

No nosso concelho ainda não há impacto ao nível dos preços do imobiliário para a maior parte das pessoas que estão a investir na reabilitação urbana, ao contrário do que sucede em grande parte dos municípios da AML. E a prova da nossa atratividade é que, nos primeiros quatro meses deste ano, através do IFRRU e das receitas de novas licenças de habitação, já ultrapassámos o que se fez em todo o ano passado. Na frente de rio [Tejo], desde que começou o programa IFRRU, já demos pareceres favoráveis a investimentos equivalentes a cerca de 2,7 milhões de euros para a reabilitação urbana de imóveis no concelho.

 

Qual o perfil dos investidores?

Temos pessoas que querem voltar e também temos pessoas que apostam numa lógica pura de investimento; além da procura de investidores estrangeiros, em particular da Europa do Norte.

 

Qual é a vantagem do Barreiro, hoje em dia?

A nossa vantagem neste aspeto é que não temos preços especulativos no imobiliário. E temos uma grande frente com 800 metros de extensão sobre o rio Tejo, que tem uma vista clara sobre as duas pontes [Vasco da Gama e 25 de Abril], a única que existe na margem sul com esta possibilidade. Trata-se de uma zona premium que tem a melhor vista sobre Lisboa. O Barreiro é e vai ser uma terra de oportunidades. Temos espaço, no centro da cidade, para construir, com qualidade.

 

Quais são os projetos imobiliários que a câmara

tem nesse sentido?

Um sinal importante é a recuperação por parte de privados de um edifício simbólico no Barreiro, o edifício Fénix, que começou a ser construído em 1982/83 e nunca chegou a estar pronto. É um edifício de habitação e de serviços que está a ser reconstruído numa aposta clara no crescimento da cidade pelos seus promotores. E era visto pelos habitantes do Barreiro como um caso perdido, localizado na avenida principal da cidade. Deverá estar finalmente pronto em 2019. Depois, temos um grande trigger de desenvolvimento da cidade do Barreiro, que é a Quinta do Braancamp, com cerca de 21, 22 hectares de frente de rio com vista para Lisboa, nos edifícios da antiga Corticeira Nacional.

 

Vai ser um condomínio fechado?

Não vai ser um condomínio fechado. Situa-se no centro do Barreiro, mas não é uma zona de passagem. Gostaríamos que fosse para habitação, hotelaria, restauração e lazer. Já tivemos propostas para vender, mas não é a venda do terreno que nos move. Nos contactos com investidores privilegiamos um projeto chave-na-mão que terá de respeitar certas regras. Acreditamos que podemos ter uma decisão em meados de 2019.

 

Qual o investimento previsto?

O projeto da Quinta do Braancamp envolve um investimento privado entre cerca de 90 e de 100 milhões de euros, naquilo que está a ser falado connosco.

 

Quem são os interessados?

Posso dizer-lhe que já existem dois a três grupos nacionais e internacionais interessados em adquirir este projeto. A área de construção na Quinta do Braancamp não é intensiva, mas sim em qualidade.

 

Quais são os outros projetos imobiliários previstos?

Ao pé da Quinta do Braancamp, temos um projeto sobre o chamado Moinho Pequeno, que estava em ruínas há muitos anos e que estamos a recuperar. Além da CUF, a atividade moajeira faz parte do património histórico e cultural do Barreiro, que recua ao tempo dos Descobrimentos. Como eu gosto de dizer, houve muito Barreiro antes das chaminés das fábricas. Por isso, também defendo que o Barreiro tem muito mais futuro do que aquele que às vezes se pensa. Estamos também a desenvolver um projeto de recuperação do património das chamadas caldeiras de Alburrica, no rio Tejo.

 

Como explica o conceito de zona ribeirinha ‘premium’ no Barreiro?  

Quando falo de uma zona ribeirinha ‘premium’ do Barreiro, pode surpreender, mas estamos a apenas um ano para que as análises das águas fluviais do Tejo nesta frente de rio sejam classificadas como boas para banhos, num caminho que poderá mais tarde levar-nos a candidatar à bandeira azul. Já tivemos quatro anos consecutivos de análises favoráveis nesse sentido, só falta mais um ano para que isso se consiga. Com tudo isto, queremos aproveitar e tirar partido de uma coisa que no Barreiro nunca aproveitámos, que é a vista única e fantástica para a cidade de Lisboa. A chamada ‘varanda’ de Lisboa.

 

De que outra forma é que poderá ser potenciada essa mais-valia?

Por exemplo, neste momento, não existe um hotel no Barreiro. Mas, agora, existe um projeto global neste sentido. Estamos a preparar também esse projeto, que prevê uma capacidade entre 100 e 150 camas. Dentro de um ano, este projeto deverá estar concluído com a criação de unidades de alojamento local por parte de alguns investidores com projetos em marcha.

 

Como autarca do Barreiro, quais são os seus outros objetivos?

Outro objetivo para concretizar em 2019 é concluir os programas Polis do Barreiro. Era um problema que estava bloqueado há cerca de seis anos devido a garantias bancárias. Essa questão ficou resolvida há cerca de um mês. Queremos também desenvolver uma nova frente de rio, no rio Coina. Estamos a ‘criar’ um novo local de destino no concelho. Primeiro, queremos concluir toda a zona verde da área. O resto de toda essa zona será para área habitacional. Estamos a preparar o caderno de encargos e o respetivo concurso público para que se possam começar as respetivas obras no final deste ano, início de 2019. As garantias bancárias para este projeto foram colocadas já no orçamento da autarquia e resolvidas com a banca entretanto.

 

Quais são as características deste terreno?

Estamos a falar de uma linha de terreno fluvial com uma extensão com cerca de dois a três quilómetros. O projeto original tinha alguns prédios com fins habitacionais mas já fomos abordados sobre a possibilidade de alocar alguns deles para habitação para estudantes, que está a ter muita procura no nosso concelho. Esta zona situa-se a cerca de 100 metros da estação fluvial do Barreiro. As obras deverão durar cerca de um ano.

Há também uma outra área muito apetecível na cidade do Barreiro, que é a relativa aos terrenos do antigo Futebol Clube Barreirense, que depois de um processo de insolvência demorado e complexo por parte do promotor imobiliário, sabemos já existem diversos investidores interessados.

 

Se tudo for concretizado, estamos a falar de uma revolução imobiliária no Barreiro, às portas de Lisboa…

Em suma, estamos a recuperar toda a envolvente ribeirinha do Barreiro, num concelho que neste momento tem zero camas na área da hotelaria. Temos de proceder a esta regeneração urbana, onde havia muitos prédios devolutos, que podem também ser aproveitados para alojamento local entre outras possiblidades.

 

Quer dizer que estão à procura de turistas?

Estamos atentos ao fenómeno do turismo. Por isso, o nosso posto de turismo, que estava localizado no centro do Barreiro, foi por nós deslocalizado para a estação dos barcos, para termos uma melhor noção dos turistas que nos visitam.

Outro dos aspetos em que estamos a trabalhar é na revisão do PDM [Plano Diretor Municipal], que já data de 1994 e nunca foi revisto. Dentro de um ano, espero ter a nova versão do PDM revisto. É uma das principais metas que temos em equação, para que haja um referencial de desenvolvimento adequado do concelho para o futuro.

 

Apesar deste novo dimanismo, como está a evolução do emprego no concelho?

A flutuação do desemprego do Barreiro está muito associada à evolução da atividade económica na própria cidade de Lisboa. O Barreiro foi muito fustigado pela crise. Agora, também está a recuperar em função da recuperação da margem norte. Tradicionalmente, o desemprego no Barreiro é superior à taxa média nacional de desemprego. No entanto, com esta recuperação da população no Barreiro e com estes projetos, o objetivo é que possamos ter um contributo positivo para a criação de emprego local, menos dependente de Lisboa, e também de proximidade aos outros concelhos limítrofes.

 

No futuro, acha possível ver-se o Barreiro de uma forma diferente da atual?

Gostava que se começasse a ver o Barreiro como uma cidade ideal para trabalhar (emprego), para viver (habitação) e para desfrutar (cultura, lazer e ambiente). E que o Barreiro voltasse a ter capacidade empregadora. O Barreiro é hoje em dia uma terra de oportunidades.

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