Ensina-nos qualquer dicionário online que ‘funcionar’ significa: exercer ou cumprir a sua função; estar em exercício; operar; mover-se; trabalhar; ter determinado, resultado ou efeito; ter êxito; resultar bem; estar em atividade.
Assim lido, funcionar parece ser simples, diria mesmo, caracterizador do ser humano e das suas organizações, ser-lhes inerente.
Acontece que, entre nós, frequentemente parece não ser assim.
Os mais velhos, ainda não tão velhos que a memória os traia, certamente se lembram de um tempo em que o país tinha grandes dificuldades para funcionar. As comunicações, todas elas, eram más, os locais de trabalho desconfortáveis, as pessoas tinham uma escolarização muito deficiente, a impreparação dos dirigentes era manifesta.
Houve, porém, um tempo em que tudo parecia querer melhorar. A escola, a informática, a formação contínua, algumas reformas legislativas, pareciam querer empurrar-nos para um outro patamar, para um novo standard de funcionamento.
Não teremos alcançado a excelência, mas percorríamos o caminho. De repente, qual doente crónico, parece que tivemos uma recaída.
De estruturas de atendimento modernas e personalizadas, passámos ao atendimento telefónico, distante, sem rosto nem responsabilidade; de respostas céleres e inteligíveis regredimos para a opacidade autoritária de outros tempos.
As notícias de elevadas pendências processuais assaltam-nos e reflectem-se na frequente incapacidade de exercício de direitos fundamentais. E não, não estou a falar das pendências dos processos judiciais ou na lentidão da sua tramitação, só por si denegadora de justiça.
Exemplo recente desta incapacidade de funcionar é o que parece passar-se com uma empresa que compra, barato e em moeda virtual, fotografias da íris dos portugueses. Poderemos aceitar que esta empresa, cuja idoneidade se não questiona, se instale em Portugal sem qualquer autorização e, tendo o país conhecimento de tal facto, nada funcione no sentido de sobre a matéria se tomar qualquer decisão? Em Espanha foi proibida.
Parecemos condenados a transportar para sempre a pesada mochila do não funcionamento. Até quando?
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.