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Futuro regime taliban em versão civilizada: “Queremos a paz com todos”

Numa inédita conferência de imprensa, o porta-voz do movimento radical, Zabihullah Mujahid, disse que o país quer paz, entendimento com o estrangeiro e não quer nenhum conflito: “não queremos nenhum inimigo interno e nenhum inimigo externo”.
  • Líderes talibã
17 Agosto 2021, 17h11

O porta-voz dos Taliban, Zabihullah Mujahid, comparecendo perante uma inédita conferência de imprensa durante a qual disse que o grupo se compromete em proteger o Afeganistão e não buscará vingar-se sobre aqueles que colaboraram com o anterior governo agora deposto ou com as forças estrangeiras que estacionaram no país nas últimas duas décadas. “Todos estão perdoados”, afirmou.

Mujahid afirmou ainda que os taliban planeavam parar às portas de Cabul, mas “como o governo anterior era tão incompetente”, decidiram avançar para a cidade para “garantirem a segurança”. A segurança das embaixadas estrangeiras é de “importância crucial” e os residentes de Cabul devem “ter certeza de que a sua segurança está garantida”.

E acrescentou: “Gostaria de garantir à comunidade internacional, incluindo aos Estados Unidos, que ninguém será prejudicado no Afeganistão, gostaria de garantir aos nossos vizinhos, países regionais, que não vamos permitir que o nosso território seja usado contra ninguém, contra qualquer país no mundo”.

O porta-voz do movimento afirmou que os taliban devem ser “tratado de acordo” com estes princípios pela comunidade internacional: “não queremos ter problemas com a comunidade internacional. Temos o direito de agir com base nos nossos princípios, regras e regulamentos religiosos, esse é o direito dos afegãos”. “A liberdade e a busca da independência são um direito legítimo de todas as nações”.

“Sabemos que temos passado por períodos e crises muito desafiadoras, muitos erros foram cometidos que beneficiaram os ocupantes, mas “queremos ter certeza de que o Afeganistão não será mais um campo de batalha”, enfatizou. “Não queremos repetir nenhum conflito, nenhuma guerra, e queremos acabar com os fatores do conflito”.

“Portanto, o Emirado Islâmico do Afeganistão não tem nenhum tipo de hostilidade ou animosidade com ninguém, as animosidades acabaram e gostaríamos de viver em paz. Não queremos nenhum inimigo interno e nenhum inimigo externo”, disse Zabihullah Mujahid.

Do mesmo modo, Mujahid explicou que quer contar com uma comunicação social “livre e independente”, mas adiantou as linhas vermelhas: “nada deve ser dito contra os valores islâmicos quando se trata das atividades dos media, portanto, os valores islâmicos devem ser levados em consideração”. Ou seja, os taliban esperam que a comunicação social “não trabalhe contra os valores nacionais, contra a unidade nacional”.

“Quando se trata de diferenças étnicas, diferenças religiosas, elas não deveriam ser realmente promovidas, os media devem trabalhar para que a unidade da nação tenha uma convivência pacífica e fraterna”, sublinhou.

Sobre os direitos das mulheres, um dos temas que mais preocupa a comunidade internacional, Mujahid disse que a questão era “muito importante” e que o Emirado Islâmico do Afeganistão está comprometido com os direitos das mulheres dentro da estrutura da sharia – o que é o mesmo que dizer que as mulheres passam a estar subjugadas ao regime islâmico radical – cumprindo-se assim os temores da comunidade internacional

“As nossas irmãs têm os mesmos direitos, poderão beneficiar desses direitos. Podem ter atividades em diferentes sectores e diferentes áreas com base nas nossas regras e regulamentos”, disse, destacando “a educação, a saúde e outras áreas”. “Gostaríamos de assegurar que não haverá qualquer discriminação contra as mulheres, mas é claro dentro dos nossos padrões”.

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