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Gabriel Bernardino promete “simplificação regulatória” na ASF salvaguardando proteção do consumidor

“Somos aforradores, mas não somos investidores de longo prazo. Os resultados são um mercado de seguros que precisa de crescer 50% para atingir a média europeia, e fundos de pensões estagnados há mais de uma década”, aponta o novo presidente do regulador dos seguros.
22 Setembro 2025, 17h56

Teve hoje lugar a cerimónia de apresentação pública do novo Presidente do Conselho de Administração da ASF, Gabriel Bernardino, sucedendo a Margarida Corrêa de Aguiar, cujo mandato chegou ao termo.

No seu discurso, Gabriel Bernardino disse que a sua visão para o futuro da ASF – Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões assenta em três pilares essenciais. “O primeiro, assegurar uma supervisão independente e rigorosa. O segundo, fomentar a proteção e a resiliência social e económica e o terceiro, impulsionar a transformação digital, a eficiência e o talento”.

O novo presidente da ASF considera que “para concretizar esta visão, e em linha com as melhores práticas internacionais, a supervisão será dinâmica e baseada no risco, orientando os seus recursos para as áreas de maior criticidade, definidas pelo binómio risco-impacto”.

“Este modelo exige supervisores com elevado espírito crítico e conhecimento do mercado, pois a aplicação automática de matrizes de risco gera uma falsa sensação de segurança, sendo muitas vezes incapaz de capturar as ameaças emergentes e mais complexas”, continuou.

“Esta mesma lógica de evolução reflete-se na supervisão da conduta de mercado, que transita internacionalmente de um modelo focado na avaliação dos processos e da governação para um centrado nos resultados. Neste contexto, aprofundaremos a nossa análise do impacto real dos produtos e serviços nos consumidores, assegurando uma proteção substantiva — que se materializa em resultados justos e adequados — e não numa mera formalidade”, prometeu o novo presidente da ASF.

“Assumimos, também, a simplificação regulatória como um objetivo estratégico, sempre salvaguardando a estabilidade financeira e a proteção do consumidor”, sublinhou Gabriel Bernardino que diz que “analisaremos o quadro regulamentar nacional para averiguar se os requisitos que excedem a base europeia se justificam pelo benefício que trazem, sem criar encargos desproporcionais que inibam a competitividade e a inovação”.

“Finalmente, continuaremos a assumir a nossa participação ativa na Autoridade Europeia dos Seguros e Pensões Complementares de Reforma e no sistema europeu de supervisão como um pilar estratégico. Garante-nos uma visão global dos riscos, impulsiona a nossa modernização e torna-nos um supervisor mais influente e eficaz”, acrescenta.

No plano nacional, diz, “continuaremos a reforçar a cooperação com o Banco de Portugal e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários no âmbito do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros, pois uma visão integrada dos riscos é indispensável para a estabilidade do sistema financeiro”.

“Somos aforradores, mas não somos investidores de longo prazo”

O novo presidente da ASF lembrou que “os seguros e os fundos de pensões são pilares da resiliência das sociedades modernas, com uma dupla função: proteger o presente e financiar o futuro” e que “através da mutualização de riscos, funcionam como um amortecedor sistémico contra choques individuais; ao mesmo tempo, o seu capital paciente, investido a longo prazo, é o motor do crescimento económico”.

“Em Portugal, este papel já é vital, com os setores a gerir conjuntamente no final do ano passado cerca de 74 mil milhões de euros e a devolver anualmente 12 mil milhões à sociedade em indemnizações e pensões”, revelou Gabriel Bernardino.

No entanto, diz, “esta importante dimensão esconde profundas lacunas de proteção. A primeira é o nosso paradoxo, é que somos aforradores, mas não somos investidores de longo prazo. Os resultados são um mercado de seguros que precisa de crescer 50% para atingir a média europeia, e fundos de pensões estagnados há mais de uma década”, aponta o novo presidente do regulador dos seguros.

Gabriel Bernardino alerta que “o custo desta inércia é uma imensa oportunidade perdida: mais de 70 mil milhões de euros que poderiam deixar os depósitos bancários de baixo rendimento para reforçar as futuras pensões dos portugueses e financiar a nossa economia”.

A segunda grande lacuna, na opinião do responsável pela ASF, “é a nossa falta de proteção contra catástrofes naturais, agravada pelas alterações climáticas. A solução, inspirada em modelos internacionais de sucesso, passa por um sistema de responsabilidade partilhada entre o setor privado e o Estado”.

“Neste modelo, alavanca-se a capacidade global do mercado segurador para cobrir a esmagadora maioria das perdas, e o Estado atua apenas como garante de última instância, assegurando uma recuperação mais rápida e pré-financiada que protege a estabilidade de todos”, defendeu.

Recorde-se que em janeiro deste ano a Autoridade de Supervisão dos Seguros e Fundos de Pensões (ASF), então liderada por Margarida Corrêa de Aguiar, entregou ao Ministério das Finanças a prometida proposta para criar um fundo para proteção em caso de eventos sísmicos em Portugal.

“Aqui chegados, mais do que procurar culpados no passado, importa definir o contributo que cada um de nós pode dar para construir um futuro mais resiliente”, disse, acrescentando que o contributo dos reguladores, é o compromisso de “evoluir para uma visão mais moderna e abrangente da nossa missão em que as lacunas de mercado são vistas como um verdadeiro risco para a proteção dos consumidores, sobretudo os mais vulneráveis. Esta nova visão implica também uma nova forma de comunicar: mais clara, mais próxima dos cidadãos e capaz de mobilizar a sociedade para a importância destes temas”.

“Do mercado, esperamos um contributo decisivo para a confiança, apostando na transparência para superar o estigma das ‘letras miudinhas’ (dos contratos de seguros) e na formulação de novos produtos, mais simples, com estratégias de investimento mais adequadas e comissões que não corroam a rentabilidade a longo prazo”, disse.

“Do poder político, espera-se liderança e coragem para enfrentar a “tragédia do horizonte”, que gera resistência a medidas com custos imediatos e benefícios futuros”, acrescentou.

Por fim, da sociedade civil, que, “ancorada nas urgências do presente e com baixa literacia financeira, mantém a crença quase messiânica de que, no fim, ‘o Estado resolverá’ — deseja-se uma maior consciencialização dos riscos por forma a gerar a exigência pública que tornará a inação insustentável”.

Gabriel Bernardino, referiu ainda que a ausência de reformas estruturais “é um verdadeiro fracasso coletivo” e que “quebrar este círculo vicioso exige um esforço conjunto, para que o país assuma que a resiliência de amanhã se constrói hoje”.

“Posso garantir-vos: a ASF assumirá plenamente as suas competências para fazer a sua parte”, promete.

O novo presidente da ASF disse também que novos desafios se perspetivam “que exigem inovação por parte da regulação e do mercado”.

“O envelhecimento da população é um dos exemplos mais prementes e a ASF verá como muito positivo o desenvolvimento pelo mercado de soluções inovadoras adaptadas aos novos paradigmas da longevidade. Por exemplo, na desacumulação inteligente da poupança, criando opções flexíveis que permitam converter o capital acumulado em diferentes formas de rendimento, adequadas às várias fases e necessidades da longevidade, cobrindo os custos da dependência e dos cuidados de saúde de longa duração, ou na oferta de soluções como a hipoteca inversa, que permitam desbloquear o património imobiliário dos nossos idosos, muitos deles ricos em património, mas pobres em liquidez”, referiu.

Hipoteca Inversa na resposta à longevidade

O novo presidente da entidade reguladora defendeu também a criação de “um quadro regulamentar claro e seguro para a hipoteca inversa” e diz mesmo que “é uma necessidade social urgente para garantir a muitos cidadãos dignidade e autonomia na longevidade”.

“É fundamental que as seguradoras, as entidades mais preparadas para gerir o risco de longevidade, sejam chamadas a desempenhar um papel central neste novo mercado”, conclui.

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