[weglot_switcher]

Galp desvaloriza 1,77 mil milhões após negócio na Namíbia

Petrolífera portuguesa fechou acordo com franceses para vender 40% de um bloco petrolífero na Namíbia e afundou quase 15% com investidores desiludidos com acordo. Companhia garante que tem acesso a ativos promissores no país africano e que não troca “dinheiro por valor”.
10 Dezembro 2025, 07h00

A Galp desvalorizou mais de 1,77 mil milhões de euros na bolsa de Lisboa na sessão de terça-feira após o fecho do negócio na Namíbia.

A companhia fechou a sessão a valer 10,284 mil milhões, depois de ter afundado quase 15% durante o dia de ontem. Os investidores não ficaram satisfeitos com o acordo alcançado na Namíbia com a TotalEnergies.

Os franceses ficam com 40% da área Pel 83, com a Galp a manter uma fatia de 40%. A companhia lusa fica com participações de 10% na PEL 56, onde fica Venus, e na PEL 91 com 9,4%. Os franceses ficam responsáveis por operar a PEL 83 e vão cobrir metade dos custos de investimento da Galp para exploração, avaliação e desenvolvimento do campo Mopane. A campanha de exploração e avaliação na PEL 83 será lançada nos próximos dois anos, com pelo menos três poços.
“É um operador conceituado com experiência em águas ultra-profundas como na Namíbia”, disse a co-CEO Maria João Carioca na terça-feira em conferência de imprensa. “Ficámos com exposição aos dois maiores recursos descobertos até hoje na Namíbia, Venus e Mopane. Estamos a aumentar o potencial. É absolutamente essencial ter um operador altamente credível, mas que também tivesse solidez financeira para avançar com este investimento ao ritmo certo”.
Na terça-feira mais de 11 milhões de ações da Galp trocaram de mãos face ao volume médio de 1,59 milhões dos últimos três meses.

A entrada de um sócio no consórcio da Galp é uma forma de “reduzir a exposição financeira e o risco”, e uma prática corrente nesta indústria, dadas as elevadas necessidades de investimento que podem atingir 10-12 mil milhões de euros ao longo de vários anos até um poço começar a produzir petróleo.

“Estamos muito cientes da importância deste ativo para a Galp. Era crítico reduzir o risco” e ter um operador com “arcaboiço e experiência.”.

A UBS chegou a prever em outubro que o negócio poderia ser fechado por 200 milhões de euros iniciais, mais três mil milhões em custos de projeto cobertos pelo comprador.

O acordo está sujeito à aprovação do governo da Namíbia, das entidades reguladoras e dos parceiros, esperando que seja finalizado durante o ano de 2026.

A área de Venus deverá arrancar com a produção até 2030, no melhor cenário possível, seguindo-se Mopane 2/3 anos depois, prevê a companhia.

Isto vai permitir “antecipar alguns fluxos de caixa. Temos uma ponte até chegar a um estado de maturidade ativo”, segundo a gestora.

A bacia de Orange ao largo da Namíbia é uma das zonas de fronteira mais recentes e que tem vindo a atrair mais atenção nos últimos tempos.
A Galp revelou anteriormente que a área de Mopane pode contar com 10 mil milhões de barris equivalentes de petróleo. A concretizar-se, pode vir a ser uma das maiores descobertas mundiais de petróleo na última década.
A Total está a negociar com as autoridades da Namíbia o desenvolvimento da área de Vénus, próxima de Mopane, mas que vai requerer o investimento de 11 mil milhões de dólares para a construção e exploração de um navio-plataforma com capacidade para extrair 160 mil barris diários.
Sobre a venda massiva de ações verificada na terça-feira, o co-CEO João Diogo Silva disse que a companhia tem uma “visão de longo prazo. Este é um caminho longo, com volatilidade, é um longo processo. Há um conjunto de indicadores que estarão a ser digeridos pelo mercado. Quem esperava benefícios mais de curto prazo, provavelmente terá ficado menos entusiasmado”, segundo o gestor.

Já Maria João Carioca disparou: “não trocamos cash por valor”, segundo a gestora que considera que na base do sell-off terão estado “investidores com perfil mais orientado para o curto prazo” numa perspetiva de “devolução de cash mais rápido”.

“O que para nós era absolutamente crítico era ter um operador com condições para avançar o mais rapidamente possível, com alinhamento relativamente ao ativo e com algum compromisso relativamente ao ritmo de execução”, afirmou a gestora.

No campo de Venus, os franceses estão a trabalhar na criação de um navio-plataforma (FPSO) com a capacidade de produzir 160 mil barris diários, esperando fechar a decisão de investimento em 2026.

A Galp realizou extensos trabalhos de avaliação na Namíbia, incluindo vários levantamentos sísmicos 3D e oito poços de exploração e avaliação desde 2012, quando iniciou as suas operações no país. Cinco desses poços foram perfurados desde dezembro de 2023, levando à descoberta de Mopane.

Como fica o mapa na Namíbia?

  • PEL83 – Galp (40%), TotalEnergies (40%, operador), Namcor (10%) and Custos (10%)
  • PEL56 – TotalEnergies (35.25%, operador), QatarEnergy (35.25%), Galp (10%), Namcor (10%), Impact (9.5%)
  • PEL91 – TotalEnergies (33.085%, operador), QatarEnergy (33.025%), Namcor (15%), Galp (9.39%), Impact (9.5%)
RELACIONADO

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.