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“Gás natural passou a ser diabolizado” e “hidrogénio verde tem muitas pedras pelo caminho”, diz indústria portuguesa

O fim da aposta no gás natural e o começo da aposta ao hidrogénio verde, ainda com muitas incógnitas, foi hoje destacado pela CIP.
12 Dezembro 2022, 14h03

A associação que representa a indústria portuguesa veio hoje a público deixar alertas sobre o fim do gás natural e a aposta no hidrogénio verde.

“Cuidado. O hidrogénio verde é muito prometedor, mas há muitas pedras pelo caminho”, alertou hoje Jaime Braga da Confederação Empresarial de Portugal (CIP).

O responsável apontou as questões relacionadas com a localização dos projetos e o uso de água, matéria-prima necessária para produzir hidrogénio verde: “a água é um bem escasso”, destacou num discurso feito esta segunda-feira durante a conferência da Floene.

Jaime Braga também destacou o desejado fim do uso de gás natural.”O mundo cria salvadores e depois mata-os”, disse, perante a aposta inicial no gás natural.

“O gás natural passou a ser diabolizado há dois anos” e é “necessário fazer sobreviver o gás”. “Não há espaço para disrupções que não sejam essenciais. É necessário que a rede de gás possa sobreviver”, sublinhou, apontando que “todas as alternativas são bem-vindas”, como os gases de origem biológica. “Há que maximizar gases de origem biológica ou sintética”.

Jaime Braga apontou que os projetos locais de gás serão “essenciais”, mas que têm de ser “viáveis”, não dispensando um fornecedor a nível nacional.

“A rede nacional tem de ser competitiva. É necessário que haja escala e flexibilidade”, defendeu. Sobre o biometano, apontou que “não tem problemas para a rede”; sobre o gás sintético, “venha ele”; em relação ao hidrogénio “já foi dito que algum trabalho tem que haver”, se a “rede propriamente dita aguentará”.

“Aconteceu o mesmo com os biocombustíveis: eram a solução para os transportes e há 10 anos foram diabolizados e continuam a ser”, afirmou o também secretário-geral da APPB – Associação Portuguesa de Produtores de Biocombustíveis.

“Vivemos em contradição, temos de fugir delas. A maior parte das indústrias foi incentivada para o gás natural, as vantagens são inequívocas. Ambientalmente, demasiado processos foram violentamente estimulados nas dificuldades ambientais: é impossível queimar biomassa por causa das partículas; o fuelóleo tem o problema do enxofre”, acrescentou.

No início deste ano, recordou, a “CIP era diariamente invadida por telefonemas por empresas em pânico por causa dos preços do gás natural e eletricidade”.

E deu vários exemplos da dependência do gás natural na produção de várias indústrias: no sector vidreiro (80% de dependência); sector têxtil (74%); sector da cerâmica (70%); sector químico e alimentar (46%). “Podemos viver com pouca indústria, mas sem comer não podemos”.

A Floene anunciou hoje o lançamento de um Roteiro para a Introdução de Gases Renováveis no Sector Industrial Nacional, distinguido com o 1.º lugar na categoria ‘Medidas Intangíveis’, no Plano de Promoção da Eficiência no Consumo de Energia (PPEC).

Este projeto vai ser financiado pelo PPEC e foi aprovado pela ERSE e “pretendeu evidenciar, em especial junto do sector industrial, o papel relevante que os gases renováveis, como o hidrogénio e o biometano, podem assumir na otimização dos processos industriais e na descarbonização do sector”, segundo a Floene.

“Em causa estão sobretudo indústrias com elevada intensidade energética, designadas como hard-to-abate, como a cogeração, vidro, cerâmicas, metalurgia, siderurgia, produção de plásticos, entre outros”, acrescenta.

 

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