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Genuinamente…Madeirense por um dia!

O pior ano da história do turismo é ou deverá ser, na minha opinião, um “catalisador” da maior aposta de sempre do nosso turismo na qualidade versus quantidade, mas sobretudo uma aposta na nossa “experiência” e na nossa autenticidade.
26 Fevereiro 2021, 07h15

A Organização Mundial do Turismo (UNWTO) considerou 2020 como o pior ano da história do Turismo desde o seu início. Numa história que remonta já, séculos e séculos, não há memória de uma paragem tão brusca, acentuada e drástica como aconteceu em 2020. Este novo ano de 2021 trouxe consigo esperança, mas as perspetivas para um retomar parecem ainda ser muito ténues e sobretudo muito incertas.

A UNWTO prevê, porém, que o futuro trará consigo um aumento da procura por um turismo de natureza, com mais atividades ao ar livre e um aumento das experiências denominadas de “slow travel”.

O “slow travel” pode ser encarado como uma forma de turismo que tem a sustentabilidade como alvo, mas é também uma forma de turismo que vai muito mais além, pois busca criar uma relação significativa com o local, com as suas pessoas e com a sua autenticidade. Esta forma de viajar tem, assim, variadas interpretações, mas foco aqui o facto de ser associada ao desenvolvimento de uma relação com o destino turístico, seja com os seus residentes, com a sua cultura, com a sua comida, com as suas tradições, ou seja, com a experiência de viver o “destino”. E porque razão falo hoje de “slow travel” quando o mundo precisa de retomar o turismo rapidamente?

Vivemos e estamos ainda a viver, arrisco-me a afirmar, a pior recessão em termos de turismo de sempre. Sendo o turismo o “ganha-pão” de regiões como a Madeira, a retoma do mesmo é um fator vital para a sobrevivência da nossa economia, mas sobretudo dos madeirenses. Há um ano escrevia neste mesmo jornal sobre a importância de promover o Ser Madeira, de promover um turismo de qualidade ao invés de quantidade, de apostar naquilo que nos faz ser nós mesmos, de apostar na essência da Madeira. O pior ano da história do turismo é ou deverá ser, na minha opinião, um “catalisador” da maior aposta de sempre do nosso turismo na qualidade versus quantidade, mas sobretudo uma aposta na nossa “experiência” e na nossa autenticidade.

Os primeiros indícios para o período pós-pandemia apontam para esta mudança de paradigma que apesar de já se vir sentindo nos últimos anos a pandemia, simplesmente, acelerou: o procurar viver experiências únicas, com significado, “saboreando-as” ao momento com todos os nossos sentidos. Por isso este “novo” turismo não é, nem deverá ser um turismo rápido, nem de quantidade, mas um turismo ponderado e assente na qualidade.

Mas a concretização deste paradigma só será possível, a meu ver, se formos visionários e apostarmos naquilo que nos faz únicos. E a nossa autenticidade é (ou deverá ser) a palavra-chave!

Se formos meras “cópias” de outros destinos, o que irá fazer o turista nos escolher? Pura sorte…diria eu. Mas se formos NÓS mesmos, marcaremos a diferença e aí teremos a nossa oportunidade.

Porém, o que significa sermos nós mesmos? Este “sermos nós” pode ter múltiplas formas, desde a nossa gastronomia, ao nosso bailinho da Madeira, à nossa “tão afamada” hospitalidade! Mas talvez mais do que isso, este “sermos nós mesmos”, significa levar o turista a sentir-se “madeirense por um dia”. E isso só é possível se oferecermos experiências autênticas!

Porque não levar o turista a uma tasca e preparar uma poncha? Porque não levar o turista a uma padaria “das antigas” e ensinar a fazer o nosso “pão de casa”? Porque não levar o turista a antigas ruínas e ensinar-lhe sobre a nossa história? Porque não levar o turista junto de uma bordadeira e ensinar-lhe a bordar como as nossas avós o faziam sentadas no portão das suas casas? Porque não ensinar a “empalhar” as nossas casas-de-santana, a nossa, talvez, mais famosa imagem de marca “além-mar” (apesar das poucas autênticas casinhas que ainda existem)? Isto é, para mim, o que significa viver e ser Madeira. E é isto que, como madeirense “de gema”, gostava que os nossos turistas levassem consigo no seu regresso a casa: uma experiência memorável, de bem-estar, repleta de autenticidade e de um desejo de cá voltar e sentir-se, novamente “Madeirense por um dia”, isto porque, ser único e original pode ser mais trabalhoso, mas com certeza vale muito mais do que ser uma mera cópia!

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