Uma das escolhas que as populações dos diferentes países vão ter que fazer, durante as próximas décadas, é decidirem se querem manter a sua soberania nacional, ou se preferem caminhar para uma globalização efectiva, que culminará no desaparecimento dos Estados-nação e na criação de um mundo sem fronteiras, gerido a uma escala global.

Não se trata, em nenhum caso, de um processo a curto ou médio prazos. Contudo, importa perceber que há uma escolha de caminhos diferentes, que não são compatíveis: ou se mantém o mundo dividido em Nações, ou se aceita a globalização.

A tensão entre nação e globalização significa que, enquanto não se passa para uma nova forma de organização social, vive-se em permanente choque entre as forças globalizantes e a vontade da manutenção das soberanias e tradições nacionais.

Essa tensão já se tem manifestado, na prática, nas dificuldades sentidas pelas populações de diversos países em consequência da perda de autonomia nacional e do aumento da velocidade e magnitude da mudança e da incerteza. Tudo isso tem-se, também, repercutido no debate e escolhas políticas.

E nem sequer vivemos, ainda, uma verdadeira globalização: mundialmente, os fluxos económicos e populacionais internacionais são uma percentagem muita baixa dos fluxos totais. Quase todas as grandes economias vivem, ainda, essencialmente do comércio interno e com a mão-de-obra nacional.

Mesmo assim, as migrações (económicas, políticas e sociais), os fluxos financeiros internacionais, a concorrência global nos bens e serviços ou as redes sociais digitais têm, já, um impacto tal que se começa a tornar evidente, mesmo para o cidadão pouco informado, que o que acontece numa parte longínqua do mundo pode afectar a sua vida quotidiana.

Perante isso, todos vamos ser chamados a reflectir e a tomar decisões.

E não se pense (ou venda a ideia) que é uma decisão fácil.

É que se conseguimos perceber os benefícios da globalização – nomeadamente uma suposta tendência para provocar uma alocação mais eficiente dos recursos, o que gera um aumento da riqueza material global – os seus perigos não são somenos. Para além do já referido aumento da incerteza e da velocidade da mudança, há o problema da desigualdade crescente, da tendência para a uniformização cultural (perda da identidade nacional) e da desadequação das instituições democráticas existentes, que estão desenhadas para as escalas nacionais.

Para que um mundo globalizado não se converta numa ditadura mundial, governada por autocratas financeiros e empresariais pouco visíveis, temos que ser capazes de construir instituições democráticas de escala global. E esse processo será muito complexo, devido às barreiras culturais, linguísticas e de interesses que ainda afastam os povos.

Este é o tempo de enfrentar estas questões seriamente, e descobrir o que devemos fazer, pois não há soluções únicas, milagrosas ou espontâneas.

Aliás, assumir que a globalização é inevitável, uma consequência natural do progresso tecnológico, e estruturalmente benéfica, é o caminho certo para o desastre, por não se ter entendido o problema e, logo, não se ser capaz de encontrar as respostas adequadas.