Governador do Bundesbank abre a porta a reforma do travão constitucional da dívida

O governador do banco central alemão abriu a porta ao levantamento ou flexibilização da norma constitucional que trava aumentos de dívida no país, argumentando que a necessidade de investimentos estruturantes, face a uma crise profunda, pode obrigar a tal.

Em declarações ao ‘Financial Times’, Joachim Nagel admitiu que a Alemanha pode ter de reformar o travão constitucional da dívida, que limita o país a 0,35% do PIB em nova dívida a cada ano orçamental. Mergulhada numa crise económica e industrial estrutural, a economia germânica terá de levar a cabo uma série de investimentos transformadores que requererão a violação desta restrição.

Seria, portanto, “uma abordagem muito inteligente” de Berlim retirar este limite, permitindo mais margem para investir em áreas cruciais para a sua economia, sobretudo no lado industrial, bem como para corresponder às exigências norte-americanas de gastos no sector da defesa.

Esta abordagem poderá passar por, por exemplo, distinguir em termos contabilísticos os gastos de consumo corrente dos gastos com investimentos, sugeriu.

Ainda com os EUA em mira, Nagel alertou para os impactos negativos das tarifas sugeridas por Trump, que já ameaçou impor taxas de 20% em todos os bens produzidos fora dos EUA – incluindo nos parceiros europeus. Este cenário aumenta a urgência alemã em reformar estes travões ao investimento, dado que o país se prepara para um segundo ano consecutivo de recessão e as perspetivas não são as mais animadoras.

Ainda assim, o governador germânico mostrou-se contidamente otimista, especialmente dada a proximidade das eleições que determinarão a nova solução governativa após a queda da coligação ‘semáforo’ que sustentava o governo liderado por Olaf Scholz. Naquelas que foram as declarações mais politicamente conotadas desde que assumiu a liderança do banco central alemão, Nagel falou numa “experiência passada que mostra que quando a Alemanha sente dores, acaba por mudar”, isto depois de ter aberto a porta à reforma do travão da dívida em 2022.