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Governo francês debaixo de fogo com plano de austeridade

Depois de oito votos de censura em seis meses, François Bayrou enfrenta nova vaga de críticas após apresentar plano de austeridade e eliminação de dois feriados.
François Bayrou
Francois Bayrou, leader of French centrist party MoDem (Mouvement Democrate), arrives to attend the second plenary session of the Conseil National de la Refondation (CNR – National Council for Refoundation) at the Elysee Palace in Paris, France, December 12, 2022. REUTERS/Gonzalo Fuentes
17 Julho 2025, 07h00

O Governo francês já está debaixo de fogo depois de ter apresentado um plano de austeridade para o próximo ano.

A oposição francesa já está a afiar as garras e ameaça derrubar o Governo de François Bayrou por causa do seu plano de austeridade para 2026 que visa a redução do défice orçamental, numa altura em que a dívida já pesa sobre 113% do PIB.

O Governo de Michel Barnier caiu em dezembro, com o recorde de ter sido o executivo gaulês mais curto desde 1958, num voto de censura que juntou partidos de esquerda e a extrema-direita.

Menos de um ano depois, França ameaça tornar-se ingovernável, a apenas dois anos de novas eleições presidenciais. Ainda no início de julho, François Bayrou sobreviveu a mais um voto de censura, o seu oitavo em apenas seis meses no cargo.

François Bayrou, considerado um falcão da dívida, luta pela sua sobrevivência política, mas mais votos de censura seguem-se após a pausa legislativa de verão.

“Toda a nação deve trabalhar mais: para produzir, aumentar  a atividade nacional durante o ano e melhorar a situação de França. É por isso que proponho a remoção de dois feriados nacionais”, disse François Bayrou na terça-feira em Paris.

Uma sondagem realizada após o anúncio do pacote de austeridade revelou que a maioria dos inquiridos apoia os esforços para reduzir o défice. Mas 70% dos inquiridos rejeitam o fim de dois feriados, com 60% a rejeitarem também o congelamento de gastos sociais, segundo a sondagem da Harris Interactive citada pela “Reuters”.

A Reunião Nacional já pediu a cabeça de François Bayrou. Este é atualmente o partido político mais popular do país e tem os olhos nas eleições para a presidência da República francesa em 2027.

“Este Governo prefere atacar o povo francês, trabalhadores e pensionistas, em vez de caçar o desperdício”, disse Marine Le Pen, líder da Reunião Nacional de extrema-direita, na quarta-feira. “Se François Bayrou não rever a sua abordagem, vamos censurá-lo”.

Marine Le Pen criticou os sete anos de “gestão catastrófica” de Emmanuel Macron que foi “incapaz de fazer poupanças reais”: quase “20 mil milhões de euros em impostos e cortes. Sem poupanças nos custos da imigração, subsídios para as energias intermitentes incontroláveis, sete mil milhões em mais contribuições para a União Europeia, nada em burocracia em hospitais ou educação”.

“François Bayrou quer impor um ano em branco, uma purga fiscal e social, que custa sete mil milhões de euros, exatamente o custo do aumento das contribuições de França para a União Europeia”, acrescentou na sua reação nas redes sociais.

Outras vozes do partido deixaram críticas duras ao plano: “um ataque direto” à história de França, segundo o seu presidente Jordan Bardella que expressou a possibilidade de se unir a partidos de esquerda para derrubar o primeiro-ministro após o verão, semelhante ao que ocorreu com o anterior primeiro-ministro, Michel Barnier.

“Estão a mostrar-nos o dedo do meio”, disse, por sua vez, o deputado do partido Jean-Philippe Tanguy.

O presidente Emmanuel Macron corre agora o risco de perder novamente um primeiro-ministro, depois de Bayrou ter apresentado um plano que corta 44 mil milhões de euros ao orçamento de 2026 com o objetivo de reduzir o défice público de 3,3 biliões do país.

Uma das maiores reformas recentes em França foi o aumento da idade da reforma em 2023 que gerou muitos protestos e continua a ser bastante impopular.

Para ser aprovado, o Orçamento precisa do apoio de um dos maiores patidos da oposição, mas os Verdes, os Socialista e a França Insurrecta já criticaram a proposta de Bayrou.

Esta proposta poderá ser crucial para a sobrevivência do governo minoritário de Bayrou que já  reconheceu estar à “mercê da oposição” e admitiu que poderá não sobreviver politicamente para implementar seu plano.

‘L’austérité’ está prestes a chegar a França. O primeiro-ministro gaulês apresentou na terça-feira um pacote de medidas que visam reduzir o défice público de 3,3 biliões de euros.

O objetivo é cortar a despesa em 43,8 mil milhões de euros até 2026, reduzindo assim o défice para 4,6% do PIB. As medidas propostas serão debatidas no Parlamento francês após o verão.

“Temos de trabalhar mais como nação”, afirmou Bayrou em conferência de imprensa na terça-feira, citado pelo “Politico”, recordando casos recentes da Grécia e da Espanha durante a crise das dívidas soberanas, que agiram “rapidamente e decisivamente, mas com justiça e justeza”.

As medidas para atingir essa meta incluem a redução do número de funcionários públicos em 3 mil pessoas, o corte de entre 1.000 e 1.500 empregos em agências ou instituições públicas, uma diminuição de 5 mil milhões de euros nos gastos com a saúde, e o congelamento de salários na Função Pública, assim como nas pensões e subsídios, que são atualizados anualmente com base na inflação.

Além disso, o pacote prevê o fim de dois feriados: a segunda-feira de Páscoa e o Dia da Libertação da Europa, celebrado a 8 de maio, que marca a rendição da Alemanha nazi em 1945.

A líder do sindicato CGT criticou o fim do feriado de 8 de maio que celebra a “vitória contra o nazismo, numa altura em que a extrema-direita está às portas do poder”.

Já o economista Charles Wyplosz aplaudiu a proposta de orçamento que considerou “corajosa”.

Outro anúncio importante foi a criação de uma “contribuição de solidariedade” que será cobrada dos contribuintes com maiores rendimentos.

Em contraste, as Forças Armadas da França serão poupadas de cortes, uma vez que o presidente Emmanuel Macron anunciou recentemente um aumento da despesa militar para 64 mil milhões de euros até 2027.

Em 2003, outro primeiro-ministro francês quis eliminar dois feriados. Jean-Pierre Raffarin também quis eliminar a segunda-feira de Pentecostes. A medida avançou em 2005, com metade do país fechado e o outro aberto. Raffarn acabou por sair do Governo e o feriado regressou.

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