Sob pressão por parte da oposição de direita (ver relacionadas), a Parpública divulgou ontem a documentação relativa à compra de uma participação acionista nos CTT que, tal como o Jornal Económico avançou em primeira mão na segunda-feira, teve lugar por ordem do Governo liderado por António Costa, em 2021, sendo mantida secreta até esta semana.
A holding do sector empresarial do Estado divulgou o despacho assinado por João Leão e o parecer da Unidade Técnica de Acompanhamento e Monitorização do Setor Público Empresarial (UTAM, que depende do Ministério das Finanças), que deu luz verde ao negócio. A informação ontem divulga revela que o Governo pretendia que a Parpública adquirisse até 13% do capital dos CTT, em bolsa, mas a empresa acabou por comprar apenas 0,24%, detendo neste momento 355 mil ações dos CTT avaliadas em cerca de 1,3 milhões de euros.
A compra de uma participação nos CTT foi justificada com a defesa do interesse público numa altura em que a qualidade do serviço postal estava a ser questionada, no seguimento da privatização que teve lugar poucos anos antes. A documentação revela ainda que o ministro das Finanças da altura, João Leão, decidiu que a operação deveria ser mantida em segredo para evitar a subida das cotações. Por esta razão, a Parpública ficou impedida pelas Finanças de referir as ações nos CTT na sua carteira de participações, passando a fazê-lo a partir de agora, tal como o Jornal Económico avançou na segunda-feira.
O objetivo da operação, de acordo com as fontes ouvidas pelo Jornal Económico, foi “piscar o olho” ao Bloco de Esquerda e ao PCP numa altura em que o Governo minoritário precisava da aprovação dos seus antigos parceiros da “geringonça” para assegurar a aprovação do Orçamento do Estado para 2021. O Bloco garantiu entretanto que não foi informado da compra das ações, ao passo que o PCP admitiu ter sido notificado pelo Governo, mas garantiu ter desvalorizado esse facto por considerar que não asseguraria o regresso dos CTT à esfera pública.
Ao contrário do que o Jornal Económico avançou na sua edição de ontem, a operação teve o parecer prévio da UTAM, mas o mesmo não foi divulgado no site de Internet desta entidade, por ter sido considerado um documento confidencial. Recorde-se que a lei exige que os pareceres da UTAM sejam publicados. A Direção do Jornal Económico publicou entretanto uma correção e uma nota a esclarecer o erro na informação publicada na edição de ontem.
Despacho previa que a partir dos 2% a compra fosse reavaliada
O despacho do ministro João Leão previa que assim que fosse atingido o limiar da obrigatoriedade de comunicação ao mercado (que na altura era de 2%), tivesse lugar uma pausa e a operação fosse reavaliada, uma vez que a partir daí teria de tornada pública. Para chegar a uma posição de 13%, a Parpública teria de informar o mercado sempre que passasse um dos limiares obrigatórios previstos na lei (5% e 10%), pelo que não seria possível manter a informação em segredo nem evitar a subida das cotações daí decorrente.
As alternativas à compra no mercado seriam a apresentação de uma Oferta Pública de Aquisição ou a compra de um bloco a outro accionista de referência dos CTT. As fontes contactadas pelo Jornal Económico consideram tais alternativas pouco exequíveis do ponto de vista político.
Taguspark
Ed. Tecnologia IV
Av. Prof. Dr. Cavaco Silva, 71
2740-257 Porto Salvo
online@medianove.com