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Gozar

Só para os residentes na Madeira, o Estado terá alegremente pago no ano passado 38 milhões de euros de reembolso.
14 Junho 2019, 07h15

Esta quarta feira (5 junho) fomos confrontados pela inusitada notícia de que a administração da TAP, conjuntamente com um pequeno e selecionado grupo de trabalhadores da empresa onde se incluía a mulher de Fernando Medina, foi contemplada com um bónus de produtividade de 1,17 milhões. A mulher de Medina, por exemplo, foi o único elemento do departamento jurídico no qual está há cerca de um ano, a gozar de tal benesse. E já que falo em gozar, é importante que se diga que este prémio de desempenho é atribuído num ano em que a Companhia de Bandeira, as famosas “caravelas do sec XXI” como a intitulou António Costa, ou o instrumento que garantiria a “coesão do país (…) com as Regiões Autónomas e (…) a continuidade territorial e (…) salvaguarda do sector estratégico como é o turismo”, nas palavras escritas em tempos por Paulo Cafôfo, teve prejuízos na ordem dos 118 milhões de euros. Um gozo. Já o divertido CEO Antonoaldo, o tal que dizia que os preços praticados para a Madeira são “módicos”, e que mostrou que do telemóvel dele era possível reservar viagens para a Madeira a preços camaradas, continuou a gozar assegurando que os tais “bónus atribuídos com base na meritocracia” (citei), poderiam ainda ser maiores se tivesse havido lucro. Morri!

Recordo que estes “meritosos” resultados já incluem a mais de meia dezena de milhões de euros que a companhia aérea de capitais públicos não receberia se não se encavalitasse no subsídio de mobilidade para Madeira e Açores, aplicando tarifas verdadeiramente “pornográficas”, que exigem um adiantamento colossal aos cidadãos, e que constituem um auxílio de Estado encapotado. Só para os residentes na Madeira, o Estado terá alegremente pago no ano passado 38 milhões de euros de reembolso. Digo “terá” porque são números que, pelos vistos, não interessa àqueles patuscos revelar. É acrescentar verba similar para os Açores e seguir o conselho do Guterres: “é fazer a conta”. Escrevo estas linhas no dia em que paguei, ida e volta para o continente português, 1680€ e 84 Ct, para 4 pessoas, duas delas com uma “tarifa criança” que desconhecia existir, mas que fazem com que o valor que tenho a receber exclua mais do que os 80€ e 84ct que ficam acima do limite máximo do subsídio. Contas muito complicadas para este pequeno espaço, mas que são um gozo para quem paga e, principalmente, quem recebe. 1680€ é mais do dobro do que pagarei pela viagem e estadia numa ilha do Mediterrâneo, no espaço temporal que medeia a ida e vinda do Continente.

É gozar, não é? Que não, que o Governo da República nada pode fazer. Que a TAP é uma empresa privada, não obstante a República deter 50% do capital, indicar o ‘chairman’ e ter poder de veto no CEO, e ter no ‘board’ um administrador madeirense, alegadamente nomeado por quota de proveniência regional. E partidária. Esta é a narrativa gozona do PS regional e nacional quando lhe são pedidas justificações face a esta pouca vergonha. Mas…… eis que o Governo acicatado pela escândalo dos bónus e da patética justificação do gozão Antonoaldo, é obrigado a vir a terreiro falar de uma “quebra de confiança face ao acionista Estado”. Oh Diabo! Então não era esse acionista que mandava menos que o contínuo que guarda a porta de sede? Agora, face ao burburinho público a poucos meses de eleições, puxa dos galões próprios como quem puxa orelhas alheias? É gozar, não é? E que dizer da oposição regional, simultaneamente a candidatura mais longa da história de democracia ocidental, que face à evidência de que na República jaz um governo, não resolve o problema dos madeirenses, entre outros, no campo das tarifas da TAP e na revisão do subsídio, que são problemas concomitantes, mas que são distintos e não devem ser confundíveis, e face ao gozo público que se tornaram as promessas de murros na mesa, prefere acusar o Governo Regional de “não se sentar à mesa das negociações” com a República? Mas quais negociações? Não é o Governo da República o acionista da TAP e quem estabelece o subsídio de mobilidade? Não é este que tem a faca, o queijo, e já agora o pão e a manteiga na mão? Vamos negociar o quê? Para o Estado cumprir a sua função constitucional com esta parcela é necessário dar algo em troca, é isso? É como se os meus filhos de 9 e 11 anos me pedissem para comer e eu dissesse: “alto lá, vamos aqui negociar”! Temos de negociar uma obrigação inalienável? Estamos todos a gozar com coisas sérias? Não é melhor assumirem que o Governo Central se comporta de forma abjecta para com esta parcela de Portugal, castigando-a até que aceite ficar sob o seu jugo através dos comissários regionais liderados por Cafôfo? Como estou farto que gozem com a minha Ilha, vou mas é de férias para a Ilha de Gozo (Malta).

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