Foi um início de ano difícil para os bancos. A recente crise não resultou apenas no colapso de três bancos norte-americanos e nos problemas do gigante Credit Suisse – que acabou absorvido por um seu rival, o UBS – mas também numa fuga maciça de capitais, que no caso dos Estados Unidos chegam a 61 mil milhões de dólares (cerca de 55 mil milhões de euros) apenas no primeiro trimestre. Os valores são da responsabilidade da Bloomberg, que antecipa que a JP Morgan, Wells Fargo e Bank of America reportem perdas de 521 mil milhões de dólares, a maior queda em uma década.
No mês passado, os clientes retiraram em massa depósitos dos bancos em parte por causa dos receios desencadeados pelo colapso do Silicon Valley Bank, mas também porque as taxas às operações passivas não acompanharam o enorme aumento das taxas das operações ativas. Com a concorrência dos rendimentos dos fundos de curto prazo – que acompanharem mais de perto esses aumentos – a corrida aos depósitos era uma consequência que qualquer aluno dos cursos de Economia saberia antecipar.
Assim, face aos levantamentos de depósitos, os fundos monetários de investimento estão a registar entradas líquidas significativas nos últimos meses. Só nas primeiras quatro semanas de março, o Bank of America estima que 300 mil milhões de dólares entraram nestes veículos devido ao reequilíbrio das carteiras de gestão.
Para concorrentes menores, como a Western Alliance, o problema é agravado. De acordo com analistas citados pelo jornal espanhol “Cinco Dias”, os clientes querem mais rentabilidade e a recente crise deixou-os nervosos, forçando-os a levar o seu dinheiro para bancos maiores e com maior capacidade de oferecer retorno. Dados divulgados em março pela Reserva Federal mostram que os depósitos em bancos comerciais norte-americanos caíram 98 mil milhões de dólares, mas subiram 15 mil milhões nos 67 maiores bancos do sistema.
A turbulência também pesou sobre as ações dos bancos, refere ainda o jornal. O índice bancário KBW caiu 19% este ano e perdeu 25% apenas em março. Os bancos regionais foram os mais afetados no período, com o First Republic Bank a cair 89% e a acender todas as luzes vermelhas de alerta em seu redor.
Há temores de que os próximos resultados dos grandes bancos aumentem a desconfiança sobre o futuro do sector: os analistas da Wedbush Securities, David Chiaverini e Brian Violino, citados pelo “Cinco Dias”, disseram que “já era um ambiente ferozmente competitivo para a tomada de depósitos e as recentes falências bancárias” agravarão a situação.
De qualquer forma, nem tudo são más notícias para o sector bancário: o aumento das taxas de juro está a levar as margens líquidas de juros para níveis recorde. A margem do JP Morgan, por exemplo, cresceu 22,2% ao longo do ano passado, para 52.462 milhões de dólares, o que permitiu que a receita total do grupo crescesse 6,55%. No caso do Wells Fargo, a subida da taxa de juro da Reserva Federal fez com que a receita líquida de juros subisse 26% no ano passado, para 44.950 milhões de dólares.
Agora, o que preocupa os analistas económicos são os resultados para os próximos dois anos. O Morgan Stanley baixou a perspetiva de lucros dos bancos em 2023 e 2024 e antecipou a erosão do NIM (receita líquida de juros sobre os ativos totais médios).
A tendência de fuga de capitais dos investidores para fundos seguros é também evidente nos mercados europeus. No caso de Espanha, nas primeiras quatro semanas de março, os fundos monetários captaram 600 milhões de euros, dos quais 490 milhões corresponderam ao CaixaBank, cujos gestores optaram por reequilibrar as suas carteiras para produtos seguros (com garantia total de capital) para evitar a volatilidade do mercado.
E em Portugal vários responsáveis de topo da banca já assinalaram que a concorrência das aplicações em fundos soberanos está a drenar capitais para fora do sistema bancário.
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