[weglot_switcher]

Grandes questões para 2019: o risco da extrema-direita em Portugal, a onda de greves e a guerra comercial

Os movimentos de extrema-direita têm vindo a ganhar terreno por toda a Europa, mas o fenómeno ainda não se faz sentir em Portugal.
31 Dezembro 2018, 15h01

Por cá, os partidos de extrema-direita ainda não conseguiram entrar no Parlamento, como aconteceu, por exemplo, na Alemanha, Itália, ou mais recentemente, na Andaluzia. De igual forma, as forças de extrema-direita ainda não fazem parte dos partidos que reúnem um maior número de apoiantes, nem são a principal voz da oposição ao Governo, como acontece em França, Finlândia ou Dinamarca. No entanto, o Relatório Anual de Segurança Interna de 2017, divulgado em abril, veio alertar que a extrema-direita portuguesa se tem vindo a reorganizar e a conquistar novas franjas da sociedade. Estas organizações são facilmente identificáveis pelo seu discurso anti-imigração, anti-muçulmano e pelo euroceticismo. O seu crescimento é explicado pela crise migratória e financeira que assolou a Europa nos últimos anos e pela aparente incapacidade dos Governos europeus em lhe dar resposta. O relatório das secretas indica que os radicais de direita intensificaram os contactos internacionais e continuam a lutar pela “reconquista da Europa pelos europeus”. A Nova Ordem Social, Nova Portugalidade, Lisboa Nossa, Escudo Identitário e Portugueses Primeiro são algumas das organizações que se têm destacado no panorama nacional, mas o seu peso político é ainda pouco percetível. As eleições legislativas agendadas para o próximo ano podem vir a ser o primeiro teste à capacidade destes movimentos, não estando, no entanto, previstas grandes mexidas no espetro político atual, onde os partidos do “arco da governação” continuam a ter uma posição dominante.

As greves vão continuar a ser uma dor de cabeça para o Governo?

Sim, vão. De facto, 2019 perspetiva-se um ano de conflitualidade laboral intensa. Não só porque se mantêm os problemas que levaram, já, em 2018, trabalhadores de mais de 20 setores a paralisar a atividade, mas também porque estamos em ano de eleições (Parlamento Europeu a 26 de maio e legislativas a 6 de outubro) e os partidos que suportam o governo Socialista  – PCP e Bloco de Esquerda – têm necessidade de se distanciar para capitalizar nas urnas o descontentamento dos trabalhadores.

Os professores estão na primeira linha da luta contra o governo. Só pararão quando tiverem contados como tempo de serviço os nove anos, quatro meses e dois dias que estiveram congelados. Para o terceiro dia do novo ano, o maior sindicato do setor, a FENPROF, afeta à CGTP, tem marcada uma concentração à porta do Ministério da Educação, num ano que o seu Conselho Nacional proclamou como o ano de luta dos professores.

Os estivadores são outra dor de cabeça para o governo, como se viu este mês. Uma greve, como ficou demonstrado em Setúbal, é uma ameaça direta à Autoeuropa, que o mesmo será dizer a mais de 1% do PIB português.

Em ebulição continuam o setor dos transportes públicos, com destaque para os maquinistas da CP, e os enfermeiros com greves já anunciadas para o período que vai de 7 de janeiro a 20 de fevereiro. Os funcionários do Registo e Notariado, os funcionários do SEF, os guardas prisionais e os juízes, entre outros, também mantêm erguido o machado de guerra.

O Primeiro-ministro, António Costa, assobia para o ar e diz que não há razões para alarme social, mas a ministra da Saúde, Marta Temido, já admitiu usar “todos os instrumentos que, num estado de Direito, permitem que os cidadãos não fiquem reféns de reivindicações profissionais”.

O recurso à requisição civil  também parece pairar em algum momento de 2019 caso se venha a aprofundar o conflito em áreas tão sensíveis como a saúde (enfermeiros) ou os portos.

Guerra comercial: trégua ou escalada?

Em teoria, ninguém sai a ganhar numa guerra comercial. Mas isso não impediu o presidente norte-americano Donald Trump de começar uma, precisamente com um dos seus maiores parceiros comerciais: a China. Trump não recuou nem perante o coro de queixas que surgiram de todo o lado, nomeadamente da União Europeia – que chegou mesmo a acionar os mecanismos internos da Organização Mundial do Comércio (OMC) para formalizar essas queixas. E também não recuou quando o FMI, insuspeito de ter uma qualquer reticência face à Casa Branca, alertou para a evidência de que seriam os próprios Estados Unidos os primeiros a sentir as consequências perniciosas dos efeitos colaterais da guerra comercial.

Mas nem o próprio Donald Trump conseguiu ficar indiferente à notícia de que a General Motors, um dos maiores construtores norte-americanos de automóveis vai ter de fechar duas das suas empresas de montagem e duas unidades de produção de motores nos Estados Unidos e uma no Canadá, a que acrescentará o encerramento de duas outras fábricas não identificadas noutros países.

O presidente norte-americano apressou-se a reprovar a decisão – tendo mesmo chegado a chamar anti-patriotas aos seus gestores. Mas acabou por promover contactos com a China para se iniciarem conversações com vista à normalização das relações económicas. É que, por outro lado, Trump tem pela frente um ano difícil – durante o qual a economia norte-americana deverá começar a arrefecer, o que poderá fazer desaparecer essa espécie de ‘milagre económico’ que sustentou a sua imagem interna nesta primeira parte do seu mandato.

É por isso de esperar que a guerra comercial venha a abrandar nos próximos meses – até porque os preços das matérias-primas têm um impacto bem mais imediato e generalizado na economia real dos Estados Unidos que os ‘desconhecidos’ défices gémeos (orçamental e da balança corrente externa).

Artigo publicado na edição semanal do Jornal Económico de 28 de dezembro de 2018. Para ter acesso em primeira mão a todos os nossos conteúdos premium, aceda aqui ao JE Leitor.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.