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Greve dos trabalhadores das administrações portuárias “põe em risco” sector agroalimentar, alerta FIPA

A Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares apela às partes envolvidas para que “cheguem rapidamente a uma solução” para este conflito laboral. Paralisação que se prolonga até 30 de janeiro está a afetar já o fornecimento e consumo de bens essenciais e a trazer prejuízos “incalculáveis e duradouros” para as empresas e para os seus colaboradores.
29 Dezembro 2022, 13h13

A Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA) alerta, nesta quinta-feira, 29 de dezembro, para a “grave situação” que a greve dos trabalhadores das administrações portuárias que deve prolongar-se até 30 de janeiro está a causar às empresas do sector agroalimentar. E apela às partes envolvidas para que “cheguem rapidamente a uma solução” para este conflito laboral. Em causa está o fornecimento e consumo de bens essenciais e a trazer prejuízos “incalculáveis e duradouros” para as empresas e para os seus colaboradores.

“A manter-se, a greve dos trabalhadores das administrações portuárias coloca em causa o normal funcionamento da indústria agroalimentar, sector para o qual os portos do continente, Madeira e Açores são porta de entrada de matérias-primas no país. De igual modo, compromete a exportação de bens e o cumprimento de prazos de entrega de encomendas, situação que coloca em causa relações futuras com o exterior”, avisa a FIPA.

Recorde-se que o Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Administrações Portuárias (SNTAP) convocou uma greve que deve prolongar-se até 30 de janeiro. De acordo com o pré-aviso de greve, os trabalhadores dos portos do continente e da Madeira estiveram em greve “das 00h00 do dia 22 de dezembro até às 24h00 do dia 23 de dezembro”, “das 00h00 do dia 27 de dezembro até às 24h00 do dia 29”. E estão agora previstas novas greves “das 00h00 às 24h00 dos dias 02, 06, 09, 13, 16, 20, 23, 27 e 30 de janeiro. O sindicato acusa as administrações portuárias de “ausência total de disponibilidade” para dialogar sobre a proposta de revisão salarial para 2023, tendo o SNTAP feito “vários pedidos de reunião” que ficaram sem resposta, “nomeadamente por parte das administrações de Sines e de Lisboa”.

A FIPA reconhece que a greve é um direito fundamental dos trabalhadores. Contudo, alerta em comunicado, “esta paralisação está a afetar já o fornecimento e consumo de bens essenciais e a trazer prejuízos incalculáveis e duradouros para as empresas e para os seus colaboradores”.

Segundo a FIPA, o risco de rutura no abastecimento de algumas matérias-primas para alimentação “é já uma realidade”.

“Face à situação, e caso não se encontre solução imediata para este conflito laboral, a FIPA entende que devem ser revistos e assegurados de imediato os serviços mínimos, uma vez que atualmente não comportam a descarga de matéria-prima de bens alimentares essenciais”, avança.

Esta Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares recorda que, durante a pandemia Covid-19, os sectores agroalimentar e portuário trabalharam de forma ininterrupta. Um modelo, diz, que “urge retomar, tanto mais que existem empresas, como as da fileira dos cereais, que têm uma dependência de matérias-primas importadas na ordem dos 80% e uma capacidade de armazenamento reduzida”.

Jorge Henriques, presidente da FIPA, salienta que “é pelo diálogo que têm de ser resolvidas as questões laborais”. As greves, diz, “só servem para destabilizar, ainda mais, a economia e sobretudo as empresas, que têm hoje pela frente uma difícil prova de sobrevivência, que passa por saber gerir num contexto de inflação e instabilidade, nunca experimentado pelas gerações no ativo”.

Produção de rações para animais em risco

Também a Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais (IACA) está preocupada com a repercussão desta greve nos custos no preço das matérias-primas para a produção de rações de animais que dão origem a carne, peixe, leite e ovos. É que, diz, a greve dos trabalhadores das administrações portuárias deixa, pelo menos, oito navios de matérias-primas para a alimentação animal com atrasos na descarga ou por descarregar, em dezembro e janeiro e os custos adicionais das empresas importadoras com a sobre estadia dos navios podem atingir, até final do mês de dezembro, mais de um milhão de euros, valor que pode duplicar em janeiro.

A IACA dá conta de que em Portugal as empresas produtoras de alimentos compostos para animais têm uma dependência de matérias-primas importadas de 80% e uma capacidade de armazenamento de cerca de cinco dias, pelo que face aos mais de dez dias de greve anunciados, a IACA estima que as empresas ficarão sem acesso a matérias-primas que garantam a continuidade da produção, situação que pode culminar na rutura de stocks a disponibilizar aos produtores pecuários e na degradação dos cereais e oleaginosas por adiamento dos seus descarregamentos.

Prevê-se que um dos portos mais afetados seja o da Trafaria, porto por onde passam as principais matérias-primas usadas na produção de rações para animais. Cerca de 60% do milho e 50% da soja usada na produção de rações para animais que dão origem a géneros alimentícios entram em Portugal através do terminal da Trafaria.

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