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Grupo Mello vendeu Brisa e vai apostar em novos negócios

A operação, que avalia a empresa em três mil milhões de euros, consagra domínio estrangeiro total nas concessionárias de autoestradas em Portugal.
2 Maio 2020, 09h00

A venda de 81,1% do capital social da Brisa por parte do Grupo José de Mello e do fundo de investimento Arcus a três gestoras de ativos e de fundos de pensões – APG, da Holanda; NPS, da Coreia do Sul; e SLAM, do grupo segurador Swiss Life, da Suíça – avaliou a maior concessionária de autoestradas em cerca de três mil milhões de euros, pelo que a verba a receber por cada um dos vendedores deverá ser de 1,2 mil milhões de euros. Trata-se de um dos negócios do ano, ainda mais assinalável por o mundo se encontrar em plena fase da Covid-19.

O fundo Arcus sai totalmente da estrutura acionista da Brisa, mas o Grupo José de Mello, além de reforçar de forma significativa o seu balanço em termos financeiros, vai manter-se na estrutura acionista, com cerca de 17% do respetivo capital social. Mas, se Vasco de Mello assegura o cargo de chairman da Brisa, prevêem-se grandes mudanças na gestão da concessionária, aguardando-se para as próximas semanas a nomeação de uma nova comissão executiva e de um novoCEO para a Brisa, a designar pelos novos donos da empresa.

O Jornal Económico sabe que um dos ‘racionais’ relevantes da transação para o Grupo José de Mello foi que o(s) comprador(es) tivesse experiência na gestão de infraestruturas e uma visão de longo prazo. Recorde-se que o Grupo José de Mello recebeu propostas de outros operadores do setor das autoestradas, como os grupos espanhóis Abertis ou Globalvía, ou o fundo francês Ardian, todos com presença no setor em Portugal. Foram também a jogo a China State Construction Engineering Corporation e o fundo de investimento Marubeni, do Japão, também já a operar em Portugal, mas este último afastou-se do processo antes da decisão final.

Na passada terça-feira, dia 28 de abril, o Grupo José de Mello anunciou a escolha do consórcio formado pela APG, NPS e SLAM para a venda dos referidos cerca de 80% do capital da Brisa, numa operação que deverá orçar em 2.400 milhões de euros, o que representa um dos maiores investimentos estrangeiros realizados em Portugal nos últimos anos e é também um sinal de confiança de importantes investidores internacionais na economia portuguesa, numa fase difícil provocada pelas incertezas da pandemia. O negócio envolve também a venda das participadas Via Verde (tecnologias) e Controlauto (centros de inspeção automóvel).

Não se esperando entraves por parte das autoridades da concorrência a este negócio, o grupo liderado por Vasco de Mello considera que a transação não se fica por aqui e fala na concretização de uma nova parceria estratégica com os compradores para aprofundar o seu compromisso nos processos de desenvolvimento e crescimento dos outros ativos que integram a sua carteira de participações e abrir cenários de novos investimentos em novas áreas de negócio. Neste caso, o investimento futuro até pode cingir-se às áreas de atividade em que o grupo já opera, como a rede CUF, na área da saúde; os químicos, com a Bondalti; ou as residências para a terceira idade. Além, claro, de o negócio em questão lhe permitir reforçar a sua estrutura de capitais e amortizar dívida.

Com esta operação, culmina também uma fase de transição radical no panorama nacional das concessionárias de autoestradas. Em menos de dez anos, os dois principais players do setor, a Brisa, do Grupo José de Mello, e a Ascendi, controlada pela Mota-Engil e pelo extinto GES – Grupo Espírito Santo, mudaram de mãos, tendo o seu controlo acionista passado para fundos estrangeiros, como a APG, NPS e SLAM, no primeiro caso, ou a Ardian, no segundo. Outras concessionárias de autoestradas também são controladas pelas já referidas Abertis ou Globalvía, mas também pela Ferrovial ou pela Eiffage, por exemplo. A partir de agora, as únicas concessionárias de autoestradas em mãos nacionais são uma ínfima minoria, em termos de dimensão e de receitas, e são controladas pela empresa pública IP – Infraestruturas de Portugal.

Artigo publicado no Jornal Económico de 30-04-2020. Para ler a edição completa, aceda aqui ao JE Leitor

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