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Guerra aberta entre EUA e Irão não é provável, defende analista

O sub-diretor-geral de Política de Defesa Nacional considerou em declarações à agência Lusa que “uma guerra aberta entre o Irão e os Estados Unidos não é provável”, mas apontou como um dos “efeitos diretos” a “desestabilização no local”.
3 Janeiro 2020, 19h08

O coronel Nuno Lemos Pires disse hoje que mais ataques no Médio Oriente e tentativas de raptos de norte-americanos são consequências prováveis da morte do general iraniano Qassem Soleimani de madrugada em Bagdad num ataque norte-americano.

O sub-diretor-geral de Política de Defesa Nacional considerou em declarações à agência Lusa que “uma guerra aberta entre o Irão e os Estados Unidos não é provável”, mas apontou como um dos “efeitos diretos” a “desestabilização no local”.

“As consequências podem ser várias: obviamente vamos assistir a um maior número de ataques na região, mais indiretos mais diretos; pode haver assassínios de americanos, raptos, tentativas pelo menos”, indicou.

O especialista em assuntos de segurança e defesa adiantou que outras das consequências podem ser o “aproveitamento do [grupo ‘jihadista] Estado Islâmico para poder ganhar alguma base de apoio (…) o aumento do preço do petróleo (…) e o extravasar da situação” para países como a Síria e o Iémen.

Qassem Soleimani, comandante da força de elite dos Guardiães da Revolução iranianos, Al-Qods, morreu hoje num ataque dos Estados Unidos com um ‘drone’ [aparelho aéreo não-tripulado], em Bagdad, juntamente como o ‘número dois’ da coligação de grupos paramilitares pró-iranianos no Iraque Hachd al-Chaab, Abu Mehdi al-Muhandis, e outras seis pessoas.

“Na leitura de circunstância tivemos aquilo que chamamos uma ‘parada resposta’”, explicou Lemos Pires, adiantando que no ataque à embaixada norte-americana em Bagdad na véspera de Ano Novo “se pôs em causa a soberania dos Estados Unidos” que responderam deste modo.

Para o especialista, a “grande incógnita” é “o que quer dizer a vingança terrível que o Irão anuncia”.

“Quão longe está disposto a ir um governo com grandes problemas, um país que vive uma crise económica profunda, que está dividido (…) Mas que vai haver alguma coisa vai haver”, disse.

O líder supremo do Irão, o ayatollah Ali Khamenei, prometeu vingar a morte de Soleimani e o Conselho Supremo de Segurança Nacional iraniano disse que a vingança ocorrerá “no lugar e na hora certos”.

“Os Estados Unidos devem saber que o seu ataque criminoso ao general Soleimani foi o maior erro do país. (…) Os EUA não evitarão as consequências desse erro de cálculo”, afirmou o conselho em comunicado.

Para os seus apoiantes, como para os seus críticos, Qassem Soleimani, que desempenhou um papel importante no combate aos ‘jihadistas’, é o homem chave da influência iraniana no Médio Oriente: reforçou o peso diplomático de Teerão, nomeadamente no Iraque e na Síria, dois países onde os Estados Unidos estão envolvidos militarmente.

O diferendo entre os Estados Unidos e o Irão é longo e a tensão tem vindo a subir desde que o Presidente norte-americano retirou em meados de 2018 o país do acordo nuclear internacional de 2015, restaurando sanções devastadoras para a economia iraniana.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, avisou hoje que “o mundo não pode permitir outra guerra no Golfo”, numa referência ao ataque que matou o general iraniano, apelando “aos líderes para mostrarem o máximo de contenção” neste momento de tensão.

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