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Guerra comercial? ‘Earnings season’ deverá demonstrar resiliência das cotadas norte-americanas

A época de resultados das cotadas norte-americanos tem início esta semana, com destaque para os bancos JP Morgan e Wells Fargo. O desempenho das empresas nos últimos três meses poderá dar sinais dos tempos vindouros. Ainda assim, os analistas estimam aumentos nas receitas e nos lucros no cômputo geral do ano em curso.
10 Abril 2019, 09h30

Esta semana os investidores estarão de olhos postos nas empresas com o arranque de mais uma earnings seasons que se inicia esta sexta-feira. As cotadas norte-americanas vão apresentar os resultados dos últimos três meses.

A incerteza em torno do desempenho das empresas norte-americanas nos primeiros três meses de 2019 paira no ar, mas poderá ser um pronuncio do que será o resto do ano.

“Esta earnings season é muito importante para podermos assumir o que é que se pode passar nos próximos seis a nove meses. Se o primeiro trimestre foi apenas um percalço ou se vamos ter problemas em breve”, explicou o consultor de estratégia e investimento, Marco Silva.

Apesar de o S&P500 ter registado a maior subida dos últimos 20 anos nos últimos três meses, acumulando cerca de 13,5% neste período, a frente empresarial registou uma retração dos lucros.

“Todos os setores reduziram as estimativas para o primeiro trimestre, com as maiores contracções a virem das energéticas, materiais e tecnologias de informação”, referiu Marco Silva. “No geral, as expetativas para o S&P500 recuaram 7,2%, a maior queda desde o primeiro trimestre de 2016. Em 31 de Dezembro de 2018, as estimativas ainda apontavam para um crescimento dos lucros de 2,9%, mas neste momento as previsões apontam para um recuo de 3,9%”.

“Acho que há potencial de começarmos a ver as receitas das cotadas do S&P500, a quebrarem em alta as expectativas, com os investidores e analistas a reverem em baixa esta mesma  expectativa”, partilhou Carla Maia Santos, sales team leader da XTB, uma corretora. A analista sublinhou que o setor tecnológico deverá continuar a estar em destaque. “As FAANG [constituídas pela Facebook, Apple, Amazon, Netflix e Alphabet, dona da Google] têm sido as empresas ‘estrela’ das bolsas norte-americanas e com as novas entradas em bolsa de empresas como a Uber, a Airbnb, entre outras, este sector continua a ‘dar cartas'”, frisou.

Apesar do grau elevado de incerteza, haver surpresas positivas não é um cenário inteiramente descartado pelos analistas. Marco Silva apontou que, apesar da prevista queda dos lucros médios por ação de 40.21 dólares para os 37,33 dólares no S&P500, as receitas deverão aumentar 4,8% – “ou seja, a vítima principal foram as margens dos negócios”.

“O crescimento esperado dos lucros por ação é negativo em 3,4%. Contudo, isto não deverá impactar negativamente o mercado, uma vez que essa contração se deve à comparação com um período homólogo (primeiro trimestre de 2018), enviesado pelo impacto da reforma fiscal de Trump”, explicou João Pisco, analista financeiro e de mercados do Bankinter.

“Devemos antes olhar para as métricas “like-for-like”, eliminando o impacto fiscal, para que a comparação seja “efetivamente comparável”. Nessas condições, os números continuarão a ser bons e vemos margem para surpresas positivas”, acrescentou.

Marco Silva prevê que uma subida das vendas e dos lucros nos próximos três trimestres do ano, antevendo que, no cômputo anual, os lucros subam 3,7% e as receitas 4,9% face a 2019. Para os próximos três meses, o analista prevê que os lucros aumentem 0,1% e as receitas subam 4,5%, em termos homólogos.

“Com a quebra das bolsas no final de 2018, as perspetivas estão a ser reafectadas e penso que esta diminuição das expectativas pode ser muito positiva. As bolsas reagem de forma positiva, principalmente quando os resultados quebram em alta as expectativas. Ora, se estas expectativas estão mais baixas, mais fácil será serem ‘batidas’ em alta. Ou seja, o crescimento continua a existir e as possibilidades de um bom segundo trimestre também”, explicou Carla Maia Santos.

Fim da guerra comercial impulsionará bolsas 

Apesar do abrandamento da economia mundial – esta terça-feira o Fundo Monetário Internacional cortou as previsões de crescimento para 1,7% este ano -, as políticas fiscais norte-americanas e a atitude dovish adotada por Jerome Powell tem contribuído para o desempenho positivo dos mercados.

“A economia mundial apresenta sinais de abrandamento e a causa mais forte apresentada é a guerra comercial entre os dois gigantes comerciais, a China e os EUA. Nesta ‘guerra’, ambos os países têm vindo a aumentar os impostos à importação de bens, dificultando o comércio e colocando em causa a produtividade nacional”, realçou Carla Maia Santos. “Os EUA têm sido o país que menos impacto tem sofrido com esta ‘guerra’ porque o PIB interno depende só 30% do exterior”.

No entanto, antecipou que um acordo entre os dois gigantes comerciais contribuiria para impulsionar as bolsas, nomeadamente se se mostrarem números sobre o acordo e uma real diminuição dos impostos já em curso.

A analista sublinhou que a política monetária norte-americana tem contribuído para o desempenho ascendente dos índices bolsistas. “O aumento das taxas de juro é visto como um travão para o crescimento das bolsas, pois torna o capital mais caro e menos disponível para investimentos”, disse.

O presidente da Fed já veio a terreno anunciar que dificilmente iria alterar a taxa de juro diretora norte-americana.

“Não temos consistência nos indicadores económicos. Estamos na altura com maior incerteza dos últimos nove anos. Temos indicadores económicos, especialmente, nos EUA contraditórios. Não temos uma conjugação de indicadores que possamos ter uma certeza, para onde é que vamos”, salientou Marco Silva.

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