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Guerra comercial preocupa “seriamente” empresas portuguesas

O setor do aço e alumínio em Portugal poderá sofrer o impacto das subidas nas tarifas às importações nos EUA. Para a economia, o efeito deverá ser limitado.
29 Abril 2018, 13h00

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, relançou receios de uma onda protecionista global, que já está a fazer tremer o tecido empresarial português. No final de março, entraram em vigor os aumentos nas taxas alfandegárias à importação de aço e alumínio para os EUA. Apesar de não se aplicarem, para já, a aliados como a Europa, as negociações finais ainda não estão fechadas e as dúvidas mantêm-se.

“As empresas portuguesas estão seriamente preocupadas, especialmente as produtoras de aço e alumínio, onde o impacto direto destas medidas será bastante forte”, afirmou o presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, António Saraiva.

A importação de aço irá passar a pagar tarifas alfandegárias de 25%, enquanto para o alumínio o valor sobe para 10%. Rafael Campos Pereira, vice-presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP) explicou que as máquinas e equipamentos, a subcontratação industrial de peças técnicas de alto valor acrescentado e os produtos metálicos deverão ser as áreas mais afetadas.

Estes subsetores foram responsáveis por 535 milhões de euros exportados em 2017 para os EUA, um valor que cresceu 42% nos últimos dois anos. Sublinha que a produção nacional é relativamente pequena, “embora 15% da fábrica da Maia da Siderurgia Nacional tenha tido como destino os EUA, pelo que nesta indústria é possível que tenhamos efeitos mais visíveis”, afirmou Campos Pereira.

António Saraiva espera que se verifique uma redução significativa das exportações para os EUA e um aumento das importações destes produtos provenientes de países terceiros que, assim, desviarão as exportações dos EUA para a União Europeia.

Se o impacto direto para as empresas portuguesas até pode ficar circunscrito, os efeitos indiretos são sublinhados por ambos. “As empresas portuguesas estão preocupadas com o impacto que esta medida poderá ter em termos de escalada de uma eventual guerra comercial, que se poderá estender a outros produtos sensíveis para Portugal”, disse o responsável da CIP, que expressou recentemente estas preocupações a António Costa, na Concertação Social.

“O que tememos é que, em virtude dos produtos acabados nos EUA terem tendência a ficarem mais caros tendo em conta o aumento do custo da matéria-prima, se possa verificar uma pressão das empresas norte-americanas para se taxarem os produtos importados. Aí teremos consequências mais lesivas para as nossas empresas, mas que neste momento ainda é difícil quantificar”, acrescentou o vice-presidente da AIMMAP.

As exportações foram, no ano passado, um dos principais contributos para a aceleração do crescimento económico do país e, segundo o  economista-chefe da Caixa Económica Montepio Geral, a situação não se deverá alterar  devido à medida de Trump. Rui Serra explicou que “estes são produtos que o país praticamente não exporta para os EUA”. Em 2017, as exportações de metais de base e de minerais metálicos (que incluem um conjunto mais vasto de metais) representaram 3,54% e 0,78% do total das exportações portuguesas, respetivamente. Para os EUA, representaram apenas cerca de 0,23% e 0,02%.

Também neste caso, Portugal poderá ser afetado mais acentuadamente é de forma indireta, através dos impactos no rendimento e emprego dos parceiros comerciais e, consequentemente, nas exportações portuguesas para esses países”, afirmou. “O efeito mais negativo advirá do facto de estas medidas darem início a uma guerra comercial global que resulte num abrandamento do comércio mundial e, em última instância da economia mundial”.

Rui Serra lembrou ainda que continua em aberto se empresas europeias ficarão ou não isentas deste aumento. “O verdadeiro alvo das tarifas sobre o aço e o alumínio deverá ser a China”, disse.

 

(Entrevista publicada na edição de 23 de março)

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