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GV+A Arquitectos e Speisse “criam montra” em Portugal com edifício em Campo de Ourique

Empreendimento concluído no final deste mês de setembro representa investimento superior a dois milhões de euros, suportado pelo empresário Gonçalo Nobre da Veiga, dono das duas empresas. “Foi uma maneira de criar montra, em Portugal, para mostrar a nossa capacidade de trabalho”. Depois de Angola, GV+A Arquitectos e a construtora Speisse voltam-se para o mercado português.
Edifício projetado pela GV Arquitectos e construído pela Speisse na rua Campo de Ourique, em Lisboa
12 Setembro 2020, 09h50

Desde 2018 que o atelier GV+A Arquitectos e a construtora Speisse, ambas do arquitecto e empresário Gonçalo Nobre da Veiga  e já estabelecidas em Angola, procuram “criar montra” e evidenciar capacidade de trabalho, no mercado português. Algo que começa a concretizar-se mais acentuadamente com a conclusão da construção de um edifício de habitação na zona de Campo de Ourique, em Lisboa, prevista para o final deste mês de setembro.

Em causa está um empreendimento cujo investimento total ultrapassa os dois milhões de euros, cujo projeto é da GV+A Arquitectos e a obra da Speisse. Só a obra rondou os 1,2 milhões. A construção do edifício da rua de Campo de Ourique contempla três operações urbanísticas, desde o englobamento do lote contíguo, a demolição da ruína existente e a construção de raiz de dois lotes. O edifício ocupa uma área bruta construída de 1.004 metros quadrados (m2), sendo que cada apartamento custará em média um milhão de euros.

Em conversa com o Jornal Económico, o dono do atelier de arquitetura e da construtora explica que a conclusão da obra é de suma importância, pois representa a crescente aposta das duas empresas no mercado português, onde ainda ambas “têm margem de crescimento”.

O investimento realizado foi suportado pelo empresário Gonçalo Nobre da Veiga. “Sou o promotor, o projetista e o construtor. Foi uma maneira de criar montra, em Portugal, para mostrar a nossa capacidade de trabalho”.

A GV+A Arquitectos foi criada por Gonçalo Nobre da Veiga, em 2010, em Angola, depois do arquitecto e empresário ter passado pela Intergaup, gerindo os projetos urbanísticos do BCP no mercado angolano, e após ter trabalhado com a construtora mais antiga de Angola, a Siccal Andrades. Em 2015, criou a construtora Speisse para “ajudar os clientes” do atelier de arquitetura a “descobrir quem fizesse as obras”, uma vez que as principais construtoras naquele mercado “não estavam vocacionadas para obras abaixo dos dois ou três milhões de euros”.

“A estratégia [entre a GV+A Arquitectos e a Speisse] é o complemento entre as duas”, explica.

“As coisas correram bem” – diz Gonçalo Nobre da Veiga – e por isso, a partir de 2015, a GV+A Arquitectos, que já tinha escritório de backoffice, em Lisboa, começa a procurar realizar também projetos para o mercado português. Mas de forma “muito tenuemente”. Três anos mais tarde, a Speisse entra em Portugal. Com ambos os escritórios em Portugal, o empresário começou a realizar um trabalho comercial “mais profundo” e, em 2018, mais trabalho começou a surgir para as duas empresas, numa altura em que a procura começou a diminuir, Angola. ” Angola tem vindo a decair em termos de mercado, desde 2016, mas de forma mais acentuada desde 2018, com a queda do petróleo”, afirma Gonçalo Nobre da Veiga.

Por isso, como o mercado angolano “não está a necessitar”, Gonçalo Nobre da Veiga está, agora, mais focado em Portugal. O empreendimento de Campo de Ourique ganha relevância por ser um marco da nova estratégia do empresário. De facto, o edifício de Campo de Ourique não surgiu antes, devido aos licenciamentos necessários.

“Estamos a tentar aparecer no mercado há quase dois anos, só agora é que têm saído os licenciamentos”, conta. Instado a comentar essa demora, o dono da GV+A Arquitectos e da Speisse criticou o “tempão” que leva até as moradias obterem licenciamentos. “É absolutamente surreal e atrapalha tudo a todos os níveis. Há muita legislação e burocracia em cima dos projetos e isso é gravíssimo, porque as pessoas desistem dos projetos”.

“Tive um cliente turco que vinha com trinta milhões de euros para comprar dois ou três prédios e o homem literalmente foi fazer vida para outro lado. Andou quatro ou cinco meses a avaliar o mercado mas desistiu, quando percebeu que só em cinco anos é que poderia reaver o investimento – o risco é muito e eu não sei o que é o mercado daqui a cinco anos”, acrescentou.

Mesmo assim, o empresário imobiliário não desanima e acredita que ambas as empresas têm margem de crescimento, uma vez que só estão mais ativas em Portugal desde há dois anos.

“Nós estamos a crescer e há espaço para crescer e estamos com mais projetos do que o ano passado”, conta.

Além do edifício da rua de Campo de Ourique, a GV+A Arquitectos e a Speisse têm outros projetos em andamento, no mercado português, com o empresário a destacar dois.

O primeiro é uma moradia de hiper-luxo, na avenida Portugal, no Estoril, projetada pela GV+A Arquitectos. Como assim hiper-luxo? “Estamos a falar de quase 1.000 m2 de casa, com uma vista absolutamente genial e, por isso, decidimos pôr uma piscina no ultimo andar, mas não na cobertura do prédio porque era completamente básico. Por isso, temos uma piscina que é uma varanda em balanço, com um fundo em vidro. A imagem da casa é moderna, mas bastante sóbria”, explica.

A obra deste projeto, que será “claramente emblemático e muito importante para a GV+A Arquitectos” vai custar “se calhar quatro milhões de euros”.

Neste projeto, Gonçalo Nobre da Veiga não vai entrar com a sua construtora, por se tratar de uma “obra que não tem dimensão para a Speisse concorrer”.

O segundo futuro projeto destacado localiza-se na rua Professor Sousa da Câmara, perto dos edifícios Amoreiras. “Aí temos um projeto que é um prédio para a rua, que depois tem quase 1.000 m2 de terreno no interior. Existiam aí duas casas antigas e o que estamos a fazer é transformar tudo. Fizemos três casas, cada uma com o seu jardim – cada um com 150 m2”, detalhou.

O projeto de execução está a ser concluído pela GV+A Arquitectos, com o empresário a apontar o início das obras para novembro deste ano. “O investimento total rondará perto dos quatro milhões de euros”. O empresário admite “puxar” a construtora Speisse para a obra deste projeto.

Em simultâneo com a aposta de Gonçalo Nobre da Veiga no mercado português, a GV+A Arquitectos e a Speisse, têm projetos em mãos em Angola. Sem revelar muitos pormenores, o empresário conta que está nas mãos do seu atelier de arquitetura o projeto de um fábrica de fabrico de material eletrónico de uma marca chinesa, bem como o projeto do Centro de Inovação da Unitel, “onde vão colocar startups para fomentar o empreendedorismo angolano”. Ambos os casos estão em fase de projeto.

A Speisse, por sua vez, prepara-se para “começar uma obra para a Japan Tobacco International, o armazém e os escritórios centrais”, e está a negociar a “construção de um instituto do governo angolano”.

Apesar de a aposta no mercado português estar numa fase inicial, a presença da Speisse e da GV+A Arquitectos é sólida em Angola, o que garante números positivos para o empresário. Em 2019, a GV+A Arquitectos faturou “cerca de 500 mil euros”, entre Angola e Portugal, enquanto a Speisse teve receitas entre os 2,5 milhões e os três milhões de euros.

Para 2020 a perspetiva ainda é uma “incógnita”, tendo em conta o impacto da Covid-19 na atividade de ambas as empresas, tanto em Portugal como em Angola. Apesar das empresas de Gonçalo Nobre da Veiga terem perdido algumas obras, ou terem outras em stand-by ou verbas por receber de alguns clientes, devido aos efeitos económicos da pandemia, o empresário espera conseguir, este ano, assegurar 80% ou 90%  das receitas de 2019.

“No caso concreto de Portugal, vamos manter-nos em linha com o ano passado, porque vimos de uma base relativamente baixa e é fácil de crescer quando se é pequenino”, conclui.

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