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“Há um risco bastante elevado de termos um tsunami de crises de dívida”, alerta Álvaro Santos Pereira

O diretor do Departamento de Economia da OCDE e antigo ministro da Economia defende a implementação de reformas estruturais, que a política monetária deve manter-se restritiva e que a política fiscal se prepare para futuras pressões de despesa.
4 Outubro 2023, 10h49

O diretor do Departamento de Economia da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) alertou esta quarta-feira para quatro riscos económicos – a persistência da inflação, a disrupção nos mercados alimentar e energético, o enfraquecimento da China e o elevado nível de dívida mundial – e enfatizou o problema da dívida.

Veja a intervenção completa de Álvaro Santos Pereira, diretor do departamento de Economia da OCDE:

“As economias avançadas estão com dívidas como nunca vimos – não só o Japão como os Estados Unidos [EUA], Reino Unido ou a própria França – mas são os mercados emergentes e os países pobres que nos preocupam muito. Há um risco bastante elevado de que possamos ter um tsunami de crises de dívida que não tínhamos desde os anos 80”, explicou Álvaro Santos Pereira.

Assista agora ao Outlook 2024 (jornaleconomico.pt)

As declarações foram proferidas no arranque da conferência “Outlook 2024”, que celebra os sete anos do Jornal Económico (JE) e reúne alguns protagonistas da economia portuguesa e lusófona e antecipa as tendências do país e do mundo no próximo ano. O evento decorre até às 18h30 no auditório Jerónimo Martins, na Nova SBE, em Carcavelos.

Segundo o antigo ministro da Economia, o crescimento económico está “relativamente baixo quanto ao que costuma ser a economia mundial, em velocidade cruzeiro”. “Quer nos EUA quer no Japão quer na zona euro temos enfrentado taxas de inflação como já não víamos há muitas décadas”, recordou.

Mostrando um gráfico que compara o salário real da população em 2022 com o rendimento disponível e o efeito da subida dos preços, o ex-governante demonstra que há países em que o salário real das pessoas está a baixar a uma média de 5%, embora nalguns chegue aos 20%.

“Às vezes, quando vemos governos, agentes económicos ou agentes políticos a dizerem-nos que a inflação é muito má, mas o que temos a fazer é parar a subida das taxas de juro, porque está a afetar muitas pessoas… Acho que este gráfico é que diz tudo: o impacto da inflação é dramático”, afirmou.

A OCDE fez uma revisão em baixa do crescimento da zona euro de 0,6% em 2023 e 1,1% em 2024. “Nos indicadores quer ao nível dos serviços quer ao nível da indústria tem havido um abrandamento que indicia que, provavelmente, a atividade económica está a baixar”, esclarece.

Até porque, prevê, apesar de a taxa de inflação estar a abrandar, ainda vai permanecer elevada em muitos países até ao próximo ano. Logo, o representante da OCDE defende que a política monetária deve manter-se restritiva, a política fiscal deve preparar-se para futuras pressões de despesa e reformas estruturais serem implementadas.

Álvaro Santos Pereira proferiu estas afirmações sobre a economia mundial após a intervenção do fundador do grupo Media Nove e proprietário do JE, N’Gunu Tiny, o que o motivou a deixar também uma mensagem de louvor ao investimento nos países de língua portuguesa, apelando a que as empresas e os governos apostem, cada vez, mais na lusofonia.

“Devia ser um imperativo nacional, e não só nacional, mas também da própria lusofonia. Estamos num mundo cada vez mais globalizado e realmente mais concorrencial. Nós, temos algo que nos une, a nossa história, a nossa cultura, a nossa língua. E a nossa língua devia ser utilizada de uma forma muito mais forte e assertiva não só para nos aproximar, mas também um fator de desenvolvimento económico”, sugeriu.

Como desígnios para os próximos tempos enumerou a necessidade de: diminuir as desigualdades de género, aumentar os investimentos na transição climática e apostar numa atitude reformista em toda a OCDE e em Portugal em particular. “Está na altura de arregaçarmos as mangas”, concluiu Álvaro Santos Pereira.

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