Pedro Nuno Santos (1977): Uma vida dedicada ao partido
“No PS, só me falta isso”, ser secretário-geral, afirmou Pedro Nuno Santos, em maio de 2018, na antecâmara do 22º Congresso do PS. Em entrevista à Antena 1, o então secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares fez um balanço da legislatura, focando-se nas negociações com o BE, PCP e PEV para a aprovação dos sucessivos orçamentos do Estado, processo em que desempenhou um papel essencial. E explicou a moção setorial que propôs ao Congresso do PS, com uma base ideológica de esquerda (ou mais à esquerda em comparação com a atual liderança). A manifesta ambição de Nuno Santos levou mesmo António Costa, em pleno Congresso, a refrear-lhe o entusiasmo. “Anuncio desde já que não meti os papéis para a reforma”, declarou o líder do PS.
Aprovado o quarto e último Orçamento do Estado nesta legislatura, Pedro Nuno Santos acabou por ser promovido a ministro das Infraestruturas e da Habitação, em fevereiro de 2019. Subiu assim mais um degrau na carreira política, aproximando-se do seu objetivo assumido: conquistar a liderança do PS. Mas terá entretanto que superar este novo desafio, gerindo pastas muito complicadas e dispondo de pouco tempo para deixar a sua marca até às eleições legislativas de outubro. Na prática serão cerca de sete meses de preparação para a legislatura seguinte, isto se o PS permanecer no poder e Nuno Santos se mantiver no mesmo cargo.
Nascido em São João da Madeira, Aveiro, em 1977, Nuno Santos licenciou-se em Economia, no ISEG-UTL, e quase não tem currículo fora da esfera política. A sua experiência profissional resume-se ao grupo empresarial da família, Tecmacal, um grupo de empresas de serviços e comercialização e desenvolvimento de equipamentos industriais, sediado em São João da Madeira. Quanto à política, já foi quase tudo menos líder do PS, como o próprio salientou. Desde secretário-geral da JS até presidente da Federação de Aveiro do PS, passando por sucessivos mandatos de deputado à Assembleia da República, pela vice-presidência do Grupo Parlamentar do PS e pelos mais recentes cargos de secretário de Estado e ministro no XXI Governo Constitucional.
Está desde já posicionado para disputar a sucessão de Costa, quando essa janela de oportunidade se abrir, presumivelmente a médio prazo. E conta com alguns aliados de peso no aparelho do partido ao qual dedicou quase toda a sua vida, nomeadamente Duarte Cordeiro (outro político da “geração de 70” em ascensão) que assinou a referida moção setorial no último Congresso e acaba de lhe suceder no cargo de secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (tal como já acontecera em 2008, quando Cordeiro sucedeu a Nuno Santos na liderança da JS).
Curiosamente, o único ex-líder da JS que chegou a líder do PS foi António José Seguro, sem grande sucesso. Um dado histórico pouco auspicioso para a ambição de Nuno Santos, ou talvez uma motivação adicional.
Fernando Medina (1973): O sucessor natural de Costa
Licenciou-se em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto e completou mestrado em Sociologia Económica no ISEG-UTL. Aproximou-se do PS durante a liderança de António Guterres, tendo integrado o gabinete do então primeiro-ministro em 2000, como assessor para as áreas da Educação e da Ciência. Após a queda do Governo foi trabalhar como economista na Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal.
No primeiro Governo de José Sócrates, que tomou posse em 2005, Fernando Medina assumiu o cargo de secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional. No Governo seguinte tornou-se secretário de Estado da Indústria e Desenvolvimento. Seguiu-se um mandato de deputado à Assembleia da República, eleito em 2011, tendo sido vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS. Até que em 2013 transitou para a vice-presidência da Câmara Municipal de Lisboa, a convite do presidente António Costa. Dois anos depois, quando Costa tomou a liderança do PS (derrubando António José Seguro) e cessou funções na autarquia de Lisboa, foi Medina que lhe sucedeu na presidência. Cargo para o qual seria eleito nas autárquicas de 2017.
Medina está claramente na primeira linha de sucessão de Costa na liderança do PS, antevendo-se uma provável disputa com Pedro Nuno Santos (a confirmar-se, será mais um confronto entre a ala centrista e a ala de centro-esquerda do PS, tal como em 2004, quando José Sócrates derrotou Manuel Alegre e João Soares). Além da visibilidade inerente ao cargo de presidente da maior câmara municipal do país, Medina protagoniza um espaço semanal de comentário político na TVI, no qual tem vindo a ensaiar um discurso político de âmbito nacional, preparando o caminho para voos mais altos.
Além de Nuno Santos e Medina, há que ter em atenção outros políticos emergentes da mesma geração como Ana Catarina Mendes (1973) e Pedro Marques (1976), os quais também terão uma palavra a dizer no processo de sucessão de Costa. No cargo de secretária-geral adjunta do PS, Mendes poderá vir a integrar o próximo Governo, se se confirmar a vitória do PS nas legislativas de outubro. Quanto a Marques, está a caminho de Bruxelas, encabeçando a lista de candidatos do PS às eleições europeias de maio, tendo cessado funções como ministro do Planeamento e das Infraestruturas.
Luís Montenegro (1973): O desafiador à espera dos resultados
Formado em Direito, Luís Montenegro nasceu em Aveiro e iniciou a sua atividade política em Espinho, tendo presidido à JSD de Espinho entre 1994 e 1996, ao mesmo tempo que era vogal da Assembleia Municipal de Espinho. Mais tarde ascendeu ao cargo de vereador na Câmara de Espinho, de 1997 a 2001, até ser eleito deputado à Assembleia da República, em 2002, pelo distrito de Aveiro. Consumava-se assim a passagem da política local para a política nacional, embora tenha mantido sempre a ligação a Espinho, chegando até a candidatar-se à presidência da autarquia, em 2005, perdendo então para um candidato do PS.
Paralelamente à atividade política, Montenegro foi exercendo advocacia, sendo atualmente sócio da firma Sousa Pinheiro & Montenegro (SP&M Advogados). Na Assembleia da República, ao longo de 16 anos, foi membro de diversas comissões e desempenhou vários cargos. Acabou por se destacar sobretudo como presidente do Grupo Parlamentar do PSD, entre 2011 e 2017, atravessando o difícil período de governação de Pedro Passos Coelho e também a primeira fase de oposição ao atual Governo.
Quando Rui Rio foi eleito presidente do PSD, no início de 2018, sucedendo a Passos Coelho, Montenegro não entrou na corrida mas avisou que estaria a preparar-se para o fazer no futuro próximo. “Desta vez decidi dizer ‘não’. Se algum dia decidir dizer ‘sim’, não vou pedir licença a ninguém”, declarou em pleno Congresso do PSD. Em abril de 2018 renunciou ao mandato de deputado e, nos meses seguintes, criticou duramente a estratégia da liderança de Rio. Até ao ponto em que tentou mesmo derrubá-lo, no início de 2019, sendo travado por uma votação muito tensa no Conselho Nacional do PSD.
Ideologicamente, Montenegro defende um PSD mais à direita, mais liberal na economia e mais hostil relativamente ao PS de Costa, em evidente contraste com a estratégia política de Rio.
Desde essa tentativa falhada de assalto à liderança, Montenegro resguardou-se, abandonando os espaços de comentário político que protagonizava em vários meios de comunicação social. Aguarda pelos resultados das europeias e legislativas, agendadas para maio e outubro, respetivamente. Se se confirmarem as derrotas do PSD, como prenunciam as sondagens, decerto que voltará a desafiar a liderança de Rio. Essa será a segunda batalha de uma guerra interna em curso.
Carlos Moedas (1970): Um nome para o futuro próximo
Formou-se em Engenharia Civil e mais tarde completou um MBA na Harvard Business School, EUA. Passou pelo banco de investimento Goldman Sachs, em Londres. De regresso a Portugal, dirigiu a consultora imobiliária Aguirre Newman Cosmopolita e posteriormente fundou uma empresa de gestão de investimentos, a Crimson Investment Management.
Aproximou-se do PSD durante a liderança de Pedro Passos Coelho, tendo coordenado o setor económico do gabinete de estudos do partido. Em 2011 encabeçou a lista de candidatos do PSD no distrito de Beja e foi eleito deputado (algo que o PSD não conseguia em Beja desde 1995), mas acabou por integrar o Governo de Passos Coelho, no cargo de secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro.
No final de 2014, Moedas cessou funções no Governo e rumou a Bruxelas, para ser nomeado comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação. Tem realizado desde então um trabalho meritório, reconhecido até por eurodeputados de outros partidos. E há quem o aponte como um putativo futuro líder do PSD.
Ao contrário de Moedas, mais reservado, até pelo cargo que ocupa, tanto Pedro Duarte (1973) como Miguel Morgado (1974) não escondem a sua ambição de disputar a liderança do PSD. Estiveram aliás na iminência de avançar, no início do ano, quando Montenegro tentou derrubar Rio e abrir um processo de sucessão. Duarte foi líder da JSD, trabalha como diretor na Microsoft Portugal e desde há alguns anos que prepara o seu caminho para concorrer à liderança do PSD. Por sua vez, Morgado ganhou protagonismo durante a liderança de Passos Coelho e pretende impulsionar uma reconfiguração ideológica, estratégica e geracional do PSD e do espaço político de direita e centro-direita. Nesse sentido, aliás, vai lançar amanhã o “Movimento 5 de Julho”, com o objetivo assumido de”refundar a direita em novas bases e tendo em conta o país de hoje”.
Assunção Cristas (1974): Ascensão de uma filiada tardia
Ao contrário de muitos outros políticos da sua geração, Assunção Cristas não tem um percurso limitado à militância partidária e ao exercício de cargos políticos. Aliás, filiou-se muito tardiamente no CDS-PP, em 2007, a convite do então líder Paulo Portas que tentava atrair novos quadros para o partido. A estratégia de Portas viria a surtir efeito, possibilitando uma renovação geracional no CDS-PP que viria a resultar na sua própria sucessão, no início de 2016, após a queda do segundo Governo de Passos Coelho.
Antes de se dedicar à política, Cristas formou-se em Direito e deu aulas na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Também foi consultora jurídica na sociedade de advogados Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva e Associados, a qual tem ligações históricas ao CDS-PP. Lançada por Portas, foi deputada à Assembleia da República entre 2009 e 2011, integrando depois o Governo de coligação PSD/CDS-PP, no cargo de ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território.
Em 2016 tornou-se a primeira mulher de sempre a assumir a presidência do CDS-PP. Desde então que procura elevar o partido a uma posição predominante no espaço político de centro-direita, superando o PSD, algo que já conseguiu fazer ao nível local, em Lisboa, nas eleições autárquicas de 2017. Resta saber se foi apenas um fenómeno isolado, ou se poderá ser replicável ao nível nacional.
Outro jovem quadro lançado por Portas, Adolfo Mesquita Nunes (1977), depois de um meritório desempenho como secretário de Estado do Turismo, estava a tornar-se uma referência incontornável para o futuro próximo do CDS-PP. Contudo, não sem surpresa, acaba de aceitar um convite para ingressar no conselho de administração da empresa Galp Energia, o que implicará um afastamento da política ativa (ou pelo menos uma maior discrição). Entretanto já se demitiu da vice-presidência do partido, mas vai manter-se como coordenador do respetivo programa eleitoral para as legislativas.
Catarina Martins (1973): Líder improvável e histórica
Tal como Cristas no CDS-PP, também Catarina Martins é a primeira mulher a assumir a liderança do BE, embora se trate de um partido mais recente e tenha começado por ser uma liderança bicéfala, em co-coordenação com João Semedo, entre 2012 e 2014. Desde muito jovem que participou em diversos movimentos cívicos e políticos, mas só viria a aderir formalmente ao BE em 2010, integrando logo a respetiva direção. Antes já tinha sido eleita deputada à Assembleia da República, em 2009, nas listas do BE mas com estatuto de independente. Seria reeleita em 2011 e 2015.
Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, além de um mestrado em Linguística, Martins tem um percurso invulgar (centrado no setor cultural, sobretudo em companhias de teatro) para um líder partidário em Portugal. Não obstante, já ficou na história como a líder que conquistou o melhor resultado eleitoral de sempre do BE, nas legislativas de 2015, com 10,19% dos votos e 19 mandatos. Acresce a inédita solução de Governo formada nesse mesmo ano, baseada em acordos de incidência parlamentar (entre o Governo do PS e o BE, PCP e PEV), que aproximou os bloquistas do centro político e da esfera governativa. E avança para as legislativas de 2019 com a assumida ambição de vir a integrar o próximo Governo.
A eurodeputada Marisa Matias (1976) é da mesma “geração de 70” e poucos ficarão surpreendidos se algum dia chegar à liderança do partido. Este ano volta a encabeçar a lista de candidatos bloquistas às eleições europeias e também já foi candidata à Presidência da República, em 2016.
João Ferreira (1978): Pendulando entre Bruxelas e Lisboa
Pelo menos desde o início da presente legislatura que se especula sobre uma possível mudança na liderança do PCP, mas recentemente foi o próprio secretário-geral Jerónimo de Sousa que apontou nesse sentido, admitindo não continuar no cargo após o Congresso de 2020. “Inevitavelmente, é da lei da vida, acabarei po ter responsabilidades no partido diferentes, alteradas, embora com um sentimento: não vou calçar as pantufas, vou continuar como militante”, disse recentemente Jerónimo de Sousa. A especulação intensificou-se ao ponto de ter entretanto ressalvado que não se trata de um dado adquirido, podendo manter-se na liderança se os militantes assim o entenderem.
Na linha de sucessão de Jerónimo de Sousa destaca-se João Ferreira, atual deputado ao Parlamento Europeu (e em pré-campanha eleitoral para a sua reeleição, encabeçando mais uma vez a lista de candidatos da CDU) e vereador na Câmara de Lisboa. Desde 2009 que Ferreira está no Parlamento Europeu. Em 2014 obteve mesmo um resultado histórico como cabeça-de-lista: 12,68% dos votos e três mandatos para a CDU.
Formou-se em Biologia e foi bolseiro de investigação científica no Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa. Também trabalhou como técnico de consultoria numa empresa privada de estudos e projetos na área do ambiente, do ordenamento e da gestão do território. Ao nível político falta-lhe apenas experiência ao nível da Assembleia da República, o que poderá ser um obstáculo no seu eventual caminho até à liderança do partido. Desde logo porque, ao tornar-se secretário-geral em 2020, não teria assento na bancada parlamentar dos comunistas, tendo que liderar a partir de Bruxelas e da autarquia de Lisboa.
Em situação inversa encontra-se João Oliveira (1979), outro sucessor natural de Jerónimo de Sousa na liderança do PCP._Ao contrário de Ferreira, destacado em Bruxelas desde 2009, Oliveira está na Assembleia da República desde 2005. É o atual líder da bancada parlamentar do PCP, servindo como uma espécie de “braço direito” do secretário-geral. Aliás, foi uma peça essencial nas negociações parlamentares inerentes à atual solução de Governo (a denominada “geringonça”). É também um nome incontornável para o futuro próximo dos comunistas.
Artigo publicado na edição nº 1981 de 22 de março do Jornal Económico
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