Quando se ouve falar de crianças sem casa devido às crescentes dificuldades de acesso à habitação causadas pela crise económica, a implementação de soluções tangíveis torna-se absolutamente crucial. A segregação socio-habitacional piora a cada dia que passa e estudos apontam para a pressão do turismo e a financeirização do mercado imobiliário, levando ao encarecimento da propriedade e do arrendamento, reduzindo a oferta de habitações acessíveis. No entanto, esta é apenas uma parte do problema.

O que estão as pessoas a fazer em relação a isso? A pergunta formulada pela arquiteta Raquel Rolnik há dez anos na ONU, é decisiva para que qualquer país consiga enfrentar a urgência habitacional. A questão remete para a necessidade de sair da reflexão e passar à ação com novas formas de acesso à habitação. Uma geração de jovens começou a procurar estilos de vida alternativos, baseados na partilha de bens e serviços. A economia partilhada mudou o paradigma de que é preciso possuir algo para poder usufruir. Esta mudança de valores sociais também se reflete na arquitetura.

Na última década, temos assistido a um movimento social crescente que defende a partilha e a participação coletiva. As cooperativas de habitação em propriedade coletiva têm emergido como uma possível solução para estabelecer uma nova relação entre os habitantes e as suas cidades. Na Europa, existem excelentes exemplos de projetos cada vez mais inovadores, muitos concebidos e realizados através de iniciativas populares, que procuram quebrar o paradigma da propriedade individual, promovendo a propriedade coletiva e a gestão participativa dos espaços habitacionais.

Estas iniciativas não visam apenas oferecer habitação acessível, mas também estabelecer uma ligação mais profunda entre os residentes e o meio urbano. Além disso, promovem práticas sustentáveis, privilegiando materiais ecológicos, projetos de eficiência energética e espaços partilhados que incentivam a interação social.

Em Portugal, a Rede Co-habitar tem tido um papel fundamental. Na semana passada, reuniu cerca de centena e meia de pessoas de diversos coletivos no evento “Novas Formas de Viver”, na Garagem Sul do Centro Cultural de Belém, no âmbito da exposição dedicada ao tema “Habitar Lisboa”.

A rede, em articulação com outros projetos europeus, defende o investimento em modelos alternativos de habitação como as cooperativas. Hoje em dia, estas podem representar um passo significativo na implementação de soluções tangíveis de comunidades mais inclusivas e equitativas. As soluções apresentadas não só providenciam uma habitação, como também promovem valores de colaboração, solidariedade e autonomia, fortalecendo os laços entre os habitantes e as suas cidades. A interação social não é uma questão despicienda.