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Hong Kong: camisas dentro das calças, atropelamentos e repórteres atingidos com ácido

Já lá vão 115 dias desde o início dos protestos em Hong Kong. Três meses depois do começo dos confrontos, e pela primeira vez desde o início dos confrontos, um manifestante foi baleado. A União Europeia apela para que se cessem os confrontos e que se dê inicio a um “diálogo construtivo”.
1 Outubro 2019, 16h46

No 70.º aniversário da fundação da República Popular da China, os desacatos em Hong Kong assumem novas proporções com as autoridades a disparar balas reais contra os manifestantes. Esta manhã, um jovem de 18 anos foi atingido no peito e mais de 30 ‘rebeldes’ foram detidos pela polícia.

Num vídeo publicado na rede social Facebook, as forças de segurança já lamentaram o incidente, mas explicaram que os disparos foram efetuados por um polícia que temeu pela sua vida e dos seus colegas, num momento em que foi atacado. “As forças policiais não queriam ver ninguém ferido, pelo que ficamos muito tristes com isso. Alertámos os manifestantes para que parassem de violar a lei imediatamente, pois esta será aplicada rigorosamente”, disse uma responsável da polícia.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Dominic Raab, condenou os ataques, afirmando que o uso de munições reais pela polícia de Hong Kong foi desproporcional. “Embora não haja desculpa para a violência, o uso de munição real é desproporcional e apenas corre o risco de piorar a situação”, afirmou Raab em comunicado.

“Este incidente sublinha a necessidade de um diálogo construtivo para tratar das preocupações legítimas do povo de Hong Kong. Precisamos ver alguma restrição e redução de escala tanto dos manifestantes como das autoridades de Hong Kong,” concluiu.

Também os jornalistas estão a ser alvos. De acordo com o South China Morning Post, um operador de câmara e um repórter da televisão TVB foram atingidos por ácido alegadamente lançado por manifestantes, estando a receber tratamento hospitalar. Os ataques a jornalistas levaram a RTHK, serviço público de radiodifusão de Hong Kong, a retirar os seus profissionais das ruas.

As autoridades aconselham as pessoas a ficarem em casa e a União Europeia já emitiu um comunicado para que os protestos cheguem ao fim. “Apesar de terem sido tomadas medidas positivas para envolver vários setores da sociedade no diálogo, são necessários esforços adicionais para restaurar a confiança”, disse a porta-voz da UE Maja Kocijancic. “Mais de três meses depois do início dos protestos, o direito à reunião e o direito ao protesto pacífico devem continuar a ser respeitados em linha com o direito básico dos compromissos internacionais”, acrescentou.

Mas os manifestantes continuam na rua, e até promovem novas estratégias para combater as autoridades e os infiltrados que, muitas vezes, são quem provoca mais danos. De acordo com South China Morning Post, os pró-democracia pedem aos ‘rebeldes’ que enfiem as camisas dentro das calças como forma de serem identificados e de dificultarem o acesso a armas escondidas de baixo da roupa.

“Acham que é demasiado nerd enfiar as camisas nas calças? Olhem que pode salvar vossas vidas!”,  lê-se numa das publicações no site LIHKG. “A todos, enfias as camisas no 1º de outubro para que os infiltrados que tenham armas consigo possam ser identificados”. Anexada à publicação, vem uma foto dos “Quatro Reis Celestes da Musica Pop”, Leon Lai Ming, Aaron Kwok Fu-shing, Jacky Cheung Hok-yau e Andy Lau-Tak Tak. Os quatro com uma foto tirada na década de 1990, na qual cantores têm as suas camisas enfiadas nas calças.

Outros pediram mais cautela e sugeriram arregaçar as calças também, temendo que os policias pudessem esconder revólveres nos tornozelos.

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