Aquele que outrora já foi um resort de cinco estrelas e que aos dias de hoje teve um custo de 90 milhões de euros para flutuar pela Grande Barreira de Corais, na costa nordeste da Austrália, vive agora em ruínas e ferrugem ao largo de um porto da Coreia do Norte enquanto aguarda pela sua demolição.
O ‘Four Seasons Barrier Reef Resort‘, também conhecido como o primeiro e único ‘hotel flutuante’, foi construído em 1986 num estaleiro em Singapura por uma empresa criada três anos antes por Doug Tarca, mergulhador e empresário italiano, cuja ideia inicial passava por transportar os turistas de barco para que pudessem usufruir da paisagem naútica composta por cerca de 2.900 recifes e 600 ilhas continentais que se estendem ao longo dos 2.200 km de comprimento entre as praias do nordeste australiano e a Papua-Nova Guiné.
Em declarações à “CNN”, Robert de Jong, curador do Museu Marítimo de Townsville, cidade de Doug Tarca, conta que o empresário começou por pensar em atracar os navios de cruzeiro antigos de forma permanente no recife, mas percebeu que seria mais barato e mais ecologicamente correto projetar e construir um ‘hotel flutuante’ personalizado.
Preso ao fundo do oceano por sete enormes âncoras, posicionadas de forma a não danificarem o recife, o ‘Four Seasons Barrier Reef Resort‘, acabou por ser inaugurado oficialmente a 9 de março de 1988. “Era um hotel cinco estrelas e não era barato. Tinha 176 quartos e podia levar 350 convidados. Havia um bar, dois restaurantes, um laboratório de investigação, uma biblioteca e uma loja onde se podia comprar equipamento de mergulho. Havia até um campo de ténis, embora ache que a maioria das bolas provavelmente acabou no [Oceano] Pacífico”, diz Robert de Jong.
Para chegar ao ‘hotel flutuante’ havia apenas duas formas: uma viagem de barco de duas horas ou de helicóptero, sendo que neste caso a deslocação custava cerca de 300 euros. Contudo, cedo se percebeu que a ideia apesar de original trazia um enorme contratempo: as condições climatéricas. “Se o tempo estivesse mau e fosse preciso voltar à cidade, o helicóptero não conseguia voar e o barco não conseguia navegar, o que causava muitos transtornos”, conta Robert de Jong.
Um ano depois de muitos enjoos, de uma caixa com munições da Segunda Guerra Mundial encontrada a três quilómetros do hotel ter provocado o pânico nos passageiros e de um ciclone ter atingido parte da estrutura uma semana antes da abertura, aliados aos problemas financeiros levaram que o ‘Four Seasons Barrier Reef Resort‘ tivesse de fechar as portas, tendo sido vendido em 1989 a uma empresa vietnamita.
Rebatizado como Saigon Hotel, mas mais conhecido como o ‘The Floater‘, ficou ancorado no rio Saigão quase uma década. “Foi um grande sucesso, e acho que a razão é que não estava no meio do nada, mas à beira-mar. Estava a flutuar, mas estava ligado ao continente”, diz de Jong.
No entanto, os prejuízos financeiros voltaram a atormentar o então ‘The Floater‘, mas em vez de ser demolido foi adquirido pela Coreia do Norte para atrair turistas ao Monte Kumgang, situado perto da fronteira com a Coreia do Sul. “Naquela altura, as duas Coreias estavam a tentar ter conversações entre si, mas muitos hotéis na Coreia do Norte não eram particularmente amigáveis para os turistas sul-coreanos”, refere de Jong, à “CNN”.
A terceira inauguração aconteceu em outubro de 2000, e o agora Hotel Haegumgang, era administrado pela empresa sul-coreana, Hyundai Asan. Durante vários anos a região do Monte Kumgang atraiu mais de dois milhões de turistas. Park Sung-Uk, porta-voz da Hyundai Asan, revela à “CNN”, que “o Monte Kumgang melhorou a reconciliação inter-coreana e serviu como ponto central para o intercâmbio inter-coreano, como o centro para a reunião de famílias separadas e para curar as tristezas da divisão nacional”.
Contudo, tudo isto viria a colapsar quando em 2008, um soldado norte-coreano matou a tiro uma mulher sul-coreana de 53 anos depois desta atravessar os limites da área turística do Monte Kumgang e ter entrado numa zona militar norte-coreana. Uma situação que levou a Hyundai Asan a suspender todas as atividades turísticas levando ao encerramento do Hotel Haegumgang.
“As informações são vagas, mas acredito que o hotel estava apenas a funcionar para membros do governo norte-coreano”, indica Robert de Jong. Já em 2019, o atual líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, visitou a área turística do Monte Kumgang, deixando críticas a muitas das instalações, entre as quais o Hotel Haegumgang, por serem precárias.
O líder norte-coreano ordenou assim demolição de muitas daquelas instalações como parte de um plano para redesenhar a área para um estilo mais adequado à cultura norte-coreana, algo que só ainda não avançou devido à pandemia, desconhecendo-se se este plano de demolição vai entrar em vigor brevemente, ou se irá mesmo acontecer. Até lá, o ‘hotel flutuante’ continua ao largo do porto norte-coreano onde enferrujado e em ruínas aguarda pelo fim dos seus dias.
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