Como professora, vivi a transição para o ensino à distância e agora enfrento o desafio da Inteligência Artificial (IA). Vejo o potencial da tecnologia com otimismo, reconhecendo a necessidade de ponderar as implicações éticas das soluções que adotamos. Defendo a experimentação, seguida de reflexão sobre os resultados obtidos, para melhor avaliar oportunidades e riscos.

Inicialmente, utilizei a IA para tarefas administrativas como a revisão de textos, traduções, redação de mensagens simples, partindo de uma lista de tópicos, a par de esporádicas utilizações lúdicas.

Agora, é um instrumento diário em muitas atividades. Exploro várias ferramentas na preparação de aulas, para identificar e rever literatura. Fico surpreendida com os resultados do Scopus AI, do Consensus ou do Elicit.

Comparo os resultados do Copilot e do Gemini no resumo de relatórios e artigos, formulação de perguntas, resposta e sua correção, sugestão de novas perguntas, preparação de apresentações, transformação de notícias em pequenos casos, elaboração de grelhas de correção. A cada passo descubro novas aplicações e instrumentos.

Em sala de aula, encorajo os alunos a experimentar diferentes ferramentas, promovendo reflexão que os conduza à utilização responsável da IA, agora e no futuro. Proponho exercícios em que alunos, individualmente e em grupo, aprendem a formular perguntas claras quanto ao objetivo, ao contexto e às fontes de informação a utilizar pela IA.

Sensibilizo para a importância de analisar criticamente os resultados, comparando, entre pares, as respostas de diferentes modelos de IA face à mesma pergunta, identificando os erros e discutindo os limites, a par do questionamento sistemático sobre os modos de utilização, que potencie a inteligência humana. Escuto as sugestões de aplicações descobertas pelos alunos.

Com os meus colegas discuto os desafios e implicações da IA no papel dos professores, nos métodos pedagógicos e de avaliação, na investigação e nos serviços prestados à comunidade. Perguntamos em que medida o preço elevado de várias destas ferramentas irá excluir utilizadores e como tal é compatível com a defesa da concorrência e com discursos corporativos que sublinham preocupações de inclusão, justiça e responsabilidade social.

A integração da IA no ensino superior abre portas para uma profunda transformação, colocando-o ao serviço das necessidades da comunidade académica e da sociedade em geral. O ensino, impulsionado pela IA, pode criar espaços de experimentação, descoberta e inspiração para as novas gerações. Através da personalização da aprendizagem, da otimização da pesquisa e da cocriação de soluções inovadoras para problemas reais, a IA pode impulsionar o desenvolvimento social e económico, respondendo aos desafios do presente e do futuro.

A responsabilidade recai sobre a comunidade académica na promoção da utilização da IA de forma ética e transparente, garantindo a disseminação dos benefícios por todos os setores da sociedade.