À esquerda. Em Brasília, o primeiro-ministro António Costa veio defender a liberdade de fixação de residência entre os países da CPLP. São 250 milhões de pessoas que partilham a mesma língua e uma história que se cruza há vários séculos, e que, à partida, tornaria os membros desta organização uma espécie de superpotência de que praticamente só ouvimos falar quando tem lugar uma cimeira.

Mas há que colocar várias perguntas para lá do canto da sereia da política. Quer Portugal desafiar a União Europeia e as regras de Schengen precisamente agora, quando a crise dos migrantes está a despertar os piores sentimentos – os mesmos que tornaram possível que um Donald Trump chegasse a ser equacionado para Presidente dos EUA e uma Marine Le Pen para França?

Que consequências económicas tem essa abertura de fronteiras que Brasil e Angola já vieram, aliás, questionar? Quem tem poder de compra e ‘know-how’ dispõe hoje de condições vantajosas e liberdade de fixação de residência em Portugal – os chamados vistos ‘gold’ custam pouco para quem os pode pagar. As regras foram alargadas recentemente: tem residência portuguesa quem criar emprego, por exemplo. Ora, não é a isso que devemos almejar? Uma imigração com critério?

Do lado da emigração e da diáspora portuguesa: não terão os nossos parceiros da CPLP direito a regular também a forma como empresários e trabalhadores portugueses se integram na sua economia?

Dirão que estas questões não se colocam no projecto europeu. Pois não. Mas em tudo somos semelhantes, pois comparamos aquilo que faz dos vários membros democracias evoluídas com mecanismos de controlo e garante das liberdades pessoais e económicas. Para circularmos livremente tivemos que fazer um longo caminho. A CPLP precisa de fazer o seu.

À direita. Um candidato apoiado pelo Ku Klux Klan, um louco de extrema-direita neoliberal que castiga os empresários que ousarem deslocalizar indústria: ameaçou taxar em 40% os fabricantes de Detroit que abrissem fábricas fora dos EUA; que diz que acaba com a proteção social e o parco sistema nacional de saúde que ficou muito aquém da visão inicial de Barack Obama; e que rebaixa as mulheres e discrimina racialmente a um ponto só visto nos mais refinados programas de humor negro.

Fartos do ‘establishment’, que não se limita ao chamado “white trash” iletrado, desempregado e desesperançado, há letrados fóbicos do Estado que veem na iniciativa privada desregulada o segredo do crescimento económico, acreditando que por via do aumento do PIB se resolve o problema dos pobres, porque também o emprego aumenta. Ora, os EUA têm uma taxa de desemprego nula do ponto de vista estatístico, rondando os 5,5%. Perguntem aos americanos pobres como é ser pobre num país rico.

Bem sabemos que a política – e bem – é feita de desígnios e visões. Mas, na realidade, a criatura tende a ultrapassar o criador. Cuidado com Trump.