A Eletricidade dos Açores (EDA) inaugurou esta segunda-feira um novo sistema de armazenamento de energia por baterias na ilha Terceira, no arquipélago dos Açores. O projeto, concluído ao fim de dois anos, deverá contribuir para a autonomia energética da região e representa “um passo significativo na integração de mais energias renováveis nos Açores”, diz a empresa.
O Battery Energy Storage System (BESS) inaugurado esta tarde na região autónoma tem uma potência instalada de 15 megawatts (MW), distribuída por seis inversores e uma capacidade de armazenamento de 10,5 MWh (megawatts por hora), no fim de vida útil (EOL). O projeto, concebido e implementado pela EDA, resulta de um consórcio entre a Siemens Portugal e a subsidiária Fluence, e contou com a colaboração da EDP, enquanto consultora principal de engenharia — que tem também uma participação de 10% na EDA.
Outras entidades estiveram envolvidas ao longo do decorrer da empreitada, nomeadamente a Norma Açores, a EDP Labelec e a DIgSILENT Ibérica.
A gestão de micro-redes é garantida por um software desenvolvido pela gigante alemã que é instalado em Portugal pela primeira vez e que permitirá a monitorização em tempo real de todo o sistema elétrico da ilha.
Além disso, prevê-se que a tecnologia permita a realização de estimativas mais aproximadas e fiáveis quanto à produção e consumo de energia na ilha para vários dias e horas. Esta previsão será feita com base nas previsões meteorológicas e nos dados estatísticos históricos. Essa conjugação de fatores e variáveis permite, segundo a Siemens, a maximização da integração de energias renováveis – sobretudo da eólica e da geotérmica.
Quanto à solar, está nos planos, garante a empresa.
O investimento total ascendeu a cerca de 14 milhões de euros, cofinanciado em 85% pelo Programa Operacional dos Açores 2020 (POA2020), derivado do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), “sem o qual não teria sido viável economicamente a concretização do mesmo”, salienta o presidente do Conselho de Administração da EDA, Nuno Pimentel.
“Este projeto recorreu às mais avançadas tecnologias e integra um sofisticado software de gestão de energia, suportado por algoritmos de previsão do consumo e de previsões meteorológicas”, explica, acrescentando que este projeto “é de referência a nível nacional e europeu”.
“Não só pelo caráter inovador e dimensão do sistema instalado, mas também porque irão ser necessárias soluções desta natureza para assegurar a integração estável nas redes elétricas, de quotas cada vez mais elevadas de energias renováveis de fontes muito variáveis”, concretiza o mesmo responsável.
“É um passo fundamental para o reforço da integração de energia renovável nos sistemas elétricos das nossas ilhas e para o reforço da autonomia energética e da sustentabilidade dos Açores”, diz ainda Nuno Pimentel.
Na sua intervenção, esta tarde na Terceira, o líder da energética aproveitou para recordar que o arquipélago ficou de fora do mercado liberalizado europeu, por decisão da Comissão Europeia, que classifica as nove ilhas como “micro-redes isoladas” – o que explica, diz, o aumento das tarifas de média e baixa tensão em janeiro deste ano. “Importa ter noção da nossa realidade e dimensão”, sublinha. “Nem sequer podemos falar de um mercado regional, mas sim de nove mercados isolados”.
Segundo a Siemens, o BESS “reduz a necessidade de utilização de grupos geradores térmicos e, em consequência, diminui o consumo de combustíveis fósseis importados”, um valor estimado na ordem das 1.152 toneladas de fuelóleo, todos os anos.
Esta redução deverá sentir-se nas emissões de gases de efeito de estufa, que deverão reduzir em 3.636 toneladas de CO2 por ano.
A verdadeira vantagem, diz a empresa alemã, é que o sistema reforça em 50% a produção energética da região utilizando “recursos renováveis e endógenos da ilha”.
Esta é a resposta “para os desafios mais prementes da atualidade”, explica o CEO da Siemens Portugal, Fernando Silva, que também é responsável pela unidade de negócio de Smart Infrastructure para a região ibérica. “Demos um contributo muito relevante para a jornada da EDA rumo a uma maior digitalização e sustentabilidade – não é exagero dizer que o que alcançámos juntos na Terceira é um reflexo do que queremos para o mundo”, acrescenta.
E que mundo é esse, segundo o líder da empresa? Um que tenha “um mix energético mais sustentável e uma maior capacidade de fazer face a eventuais crises que possam afetar este sector”.
Este é o primeiro de alguns projetos semelhantes que a EDA tem nos planos futuros, que antecipam intervenções em quase todas as nove ilhas da região autónoma.
No caso da ilha de São Miguel, o projeto é também apoiado pelo POA2020 e deverá estar concluído ainda este ano. Já os projetos nas restantes ilhas serão apoiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência e as obras deverão arrancar até ao longo do próximo ano, com um prazo de execução até ao final de 2025.
*O jornalista viajou para os Açores convite da Siemens
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