Uma série de ataques em que os suspeitos eram imigrantes colocou a imigração em primeiro plano na campanha eleitoral alemã. O Bundestag alemão chumbou recentemente a lei anti-imigração que juntou os conservadores da CDU e o partido de extrema-direita AfD. O plano migratório do conservador Friedrich Merz previa, entre outras medidas, controlos fronteiriços permanentes, a recusa de requerentes de asilo e a detenção de estrangeiros que tenham recebido uma ordem para abandonar o país. A lei foi chumbada no Parlamento com 350 votos contra, 338 a favor e cinco abstenções. Doze deputados conservadores optaram por chumbar a lei, o que constituiu um golpe contra Merz.
O conservador colocou a migração no centro das atenções na sequência de um ataque com faca realizado por um requerente de asilo afegão rejeitado, que matou um homem e uma criança de dois anos. A série de incidentes relançou o debate em torno das regras de imigração, já aceso na sociedade alemã e um dos principais motivos para a ascensão da extrema-direita em recentes atos eleitorais. Entre as principais economias europeias, incluindo a França e a Itália, a Alemanha é o único país em que a aceitação dos migrantes tem vindo a diminuir.
De acordo com o relatório de migração do Governo alemão, realizado pelo centro de pesquisa do Departamento Federal de Migração e Refugiados (BAMF) com recurso a várias fontes, 2,7 milhões de pessoas chegaram à Alemanha em 2022, enquanto 1,2 milhões partiram. “2022 foi um ano com movimentos migratórios muito grandes”, disse Susanne Worbs, diretora do centro de investigação do BAMF.
A responsável relacionou estes números com “os efeitos de recuperação após os anos da pandemia do coronavírus de 2020 e 2021, mas sobretudo com a guerra de agressão russa na Ucrânia, que levou à fuga de milhões de pessoas”. A maioria dos migrantes que chegaram à Alemanha em 2022 veio da Ucrânia (41%), seguidos a uma distância clara pelos da Roménia (8%), Polónia (4%) e Turquia (3%).
No entanto, de acordo com o instituto alemão Ifo, a migração não tem influência sobre o aumento da criminalidade no país de acolhimento. Os especialistas concluíram que não há ligação estatística entre a proporção regional de estrangeiros e a taxa de criminalidade. “A suposição de que os estrangeiros ou pessoas que procuram proteção têm uma propensão maior ao crime do que os nativos não é sustentável”, sublinha o investigador Joop Adema.
A percentagem de alemães que afirmam que a sua situação financeira está a melhorar caiu drasticamente de 42% em 2023 para 27% em 2024, segundo a consultora Gallup. Ao mesmo tempo, acentua-se a falta de habitação a preços acessíveis, e o governo não está a conseguir cumprir o plano para a construção de 400 mil novas habitações a preços acessíveis por ano, devido às elevadas taxas de juro e aos custos de construção.
A insatisfação faz com que os alemães estejam entre os menos otimistas em relação ao nível de vida na União Europeia, juntamente com a Áustria e a Grécia. Estas fracas expetativas estão em linha com as previsões dos especialistas para a economia alemã, que registou uma contração pelo segundo ano consecutivo em 2024.
A Alemanha deverá ser o país com o desempenho mais fraco do bloco em 2025 e, de acordo com um estudo da Oxford Economics, a ameaça da “japonização” das economias avançadas, caracterizada por um período prolongado de baixo crescimento e baixa inflação, atacou o motor da economia da zona do euro e pode colocar em risco os indicadores macro de toda a região. Neste contexto, a evolução da Alemanha será crucial para o futuro da zona do euro. “O facto de a Alemanha estar a apresentar sinais de ‘japonização’ é um alerta”, refere a Oxford Economics. “Enquanto Espanha, Grécia e Portugal encontraram fórmulas para revitalizar o seu crescimento e não cair na armadilha do baixo crescimento e deflação, que pode afetar toda a região”, conclui o estudo.
A Alemanha vai atingir nos próximos três anos a meta de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) dedicado à defesa, pela primeira vez em duas décadas. Pouco tempo depois da invasão russa da Ucrânia, em 2022, o chanceler Olaf Scholz surpreendeu os aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) ao anunciar um “ponto de viragem histórico” que envolveu um fundo especial de 100 mil milhões de euros para revitalizar as Forças Armadas.
De acordo com uma sondagem levada a cabo pela televisão pública ARD, sete em cada dez alemães consideram que a ameaça à paz que o país e a Europa atravessam é séria ou muito séria. O estudo, divulgado em maio do ano passado, mostrou ainda que o político mais popular é, com uma grande margem, o ministro da Defesa Boris Pistorius. “No centro está a segurança porque, sem segurança, tudo o resto não é nada. Ao mesmo tempo, a segurança tem requisitos. A coesão produz segurança, o crescimento cria segurança. É por isso que estes objetivos não são exclusivos. Procuramo-los simultaneamente”, destacou Scholz, em comunicado.
No entanto, “existe ainda um enorme défice de financiamento de mais de 30 mil milhões de euros a partir de 2027”, calcula o economista Klaus-Heiner Röhl do Instituto de Economia alemã (IW) num artigo de opinião. É que as altas patentes alemãs pedem fundos adicionais, pois acreditam que, no espaço de cinco anos, a Rússia poderá atacar um dos Estados-membros da NATO.
Além do dinheiro, destaca-se também o investimento em recursos humanos. O ministro da Defesa, Boris Pistorius, apresentou uma proposta de serviço militar seletivo centrado em voluntários para reforçar as Forças Armadas. O objetivo é chegar a mais 200 mil reservistas, o que permitiria à Alemanha aumentar rapidamente as suas tropas para cerca de 460 mil em caso de guerra, praticamente o dobro do que pode reunir atualmente.
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