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Jerónimo Martins sem medo da entrada da Mercadona em Portugal

A distribuição em Portugal promete ‘aquecer’ nos próximos meses com a anunciada entrada do gigante espanhol, mas Pedro Soares dos Santos vai manter a estratégia e investir mais 150 milhões.
24 Fevereiro 2017, 11h10

O Grupo Jerónimo Martins não tem qualquer receio do impacto que poderá provocar no mercado nacional de distribuição a anunciada entrada do gigante espanhol do setor, a Mercadona.

Questionado ontem, na conferência de imprensa de apresentação dos resultados da Jerónimo Martins relativos ao exercício de 2016, o CEO do grupo, Pedro Soares dos Santos, desdramatizou a situação e respondeu: “quando eles vierem, logo vejo; se calhar, eles é que vão sentir a concorrência acrescida”.

Pedro Soares dos Santos admitiu mesmo que tem dúvidas de que a Mercadona concretize a entrada no mercado nacional de distribuição. “Primeiro, tenho de ver se entram mesmo. Se eles [Mercadona] fizerem o mesmo que fizeram em Itália e em França, onde também anunciaram a entrada e não a chegaram a concretizar… Em Itália, chegaram a ter 150 pessoas a trabalhar e depois desistiram de entrar”, explicou o presidente executivo do Grupo Jerónimo Martins.

“Tenho de ver para crer, como São Tomé”, concluiu Pedro Soares dos Santos. Recorde-se que a Mercadona anunciou no verão passado, em julho, a entrada no mercado nacional, com a previsão de abertura das quatro primeiras lojas no mercado nacional em 2019.

“Nesta primeira fase de expansão, a empresa prevê investir 25 milhões de euros e criar aproximadamente 200 postos de trabalho aos quais se irão somar os colaboradores contratados para cada uma das lojas”, assegura um comunicado distribuído pela Mercadona a 10 de fevereiro.

Nessa data, a Mercadona anunciou também que passou a integrar a APED – Associação de Empresas de Distribuição. “Para a Mercadona, este é um passo muito importante pois consideramos que a APED é uma associação com muito prestígio a nível nacional e internacional, como entidade que desenha, define e desenvolve estratégias de apoio à distribuição, mas que também aprofunda e abre caminhos de diálogo com os outros stakeholders da cadeia agroalimentar”, sublinhou na ocasião Elena Aldana, diretora de relações externas da Mercadona em Portugal. “Queremos contribuir com tudo o que pudermos para sermos uma mais-valia para o setor e para a associação de que já somos membros”, sublinhou Elena Aldana, dando aparentemente a entender que a Mercadona vê a entrada no mercado nacional como uma opção estratégica, a longo prazo. Ainda no início deste ano, a Mercadona anunciou a abertura de um centro de coinovação em Matosinhos, para adaptar a sua oferta aos hábitos e preferências do consumidor português e relembrou que pretende abrir, numa primeira fase, quatro lojas, para o que está a contratar 150 colaboradores em Portugal.

A entrada da Mercadona em Portugal é vista por diversos especialistas nacionais do setor da distribuição como um sinal da retoma da economia nacional. E o aparecimento desde player de peso é encarado como um fator de concorrência acrescida, que poderá levar a um pressão sobre o fator preço, com um eventual esmagamento de margens nos principais operadores do setor no nosso País.

Contactada pelo Jornal Económico, a Sonae, o outro grande grupo nacional do setor da distribuição, escusou-se a comentar a questão da anunciada entrada da Mercadona no mercado nacional e do seu potencial impacto nesta área de atividade.
Seja como for, Pedro Soares dos Santos parece não estar muito preocupado com essa eventualidade. O CEO do Grupo Jerónimo Martins reafirmou ontem a manutenção da aposta estratégica do grupo, não só nos mercados internacionais da Colômbia e da Polónia, mas também em Portugal. Do total de 700 milhões de euros de investimento previstos pelo grupo para este ano, 150 milhões serão canalizados para o nosso mercado.

“Continuamos a acreditar fortemente neste País. Vamos investir na modernização de lojas e de centros de distribuição. Olhamos para Portugal com um destino crucial para nós e para o nosso futuro. É aqui que está a nossa escola, a nossa cultura, o nosso valor. Foi aqui que nascemos”, destacou Pedro Soares dos Santos. O CEO da Jerónimo Martins adiantou que em Maio deverá ser inaugurado o novo centro de distribuição logística em Alfena/Valongo, para servir a região norte do País, estando programado ainda para este ano o arranque das obras relativas ao centro de distribuição logística de Lisboa.
Sobre o ano passado, o responsável do Grupo Jerónimo Martins considerou o crescimento ocorrido na economia nacional como “tímido”, embora reconheça ter havido um aumento do consumo interno que permitiu um aumento das vendas em todas as insígnias, neste caso, no Pingo Doce e na Recheio.

No Pingo Doce, Pedro Soares dos Santos destacou a aposta crescente nos segmentos de restauração e de
take away.  “O Pingo Doce já não é só uma companhia de supermercados, mas também uma companhia que oferece soluções alimentares, que é uma companhia de restauração”, defendeu o CEO da Jerónimo Martins.
A Pingo Doce é uma das maiores  forças da Jerónimo Martins, estando presente com 413 lojas em mais de 300 cidades e localidades do País, empregando mais de 28 mil colaboradores. Pedro Soares dos Santos assegura que 2,5 milhões de famílias portuguesas são clientes do Pingo Doce. O EBITDA desta cadeia de supermercados atingiu 192 milhões de euros no ano passado.

Por seu turno, a cadeia Recheio, direcionada para o canal HORECA – Hotelaria, Restauração, Cafetaria, terminou o ano passado, em que celebrou o seu quinto aniversário, com 285 lojas aderentes e um EBITDA de 47 milhões de euros.
Mas também na frente externa, o ano de 2016 foi de crescimento para a Jerónimo Martins. “2016 foi um ano muito bom, com recorde lucros com a venda da Monterroio, em que atingimos todas as metas, em que tivemos vendas muito boas nos três países em que operamos”, resumiu Pedro Soares dos Santos. As vendas consolidadas do grupo atingiram 14,6 mil milhões de euros, uma subida de 6,5% face a 2015. Os lucros, excluindo a venda da Monterroio, fixaram-se em 361 milhões de euros.

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