A escolha do Campo de Tiro de Alcochete como localização para receber o novo aeroporto de Lisboa mereceu a atenção da imprensa brasileira, nomeadamente da “Folha de S.Paulo” (jornal de referência que iniciou este mês uma parceria de partilha de conteúdos com o JE), publicação onde se pode ler um artigo de opinião assinado por Rodrigo Tavares, professor catedrático convidado da Nova SBE.
Com a designação “Lisboa vai finalmente ter um novo aeroporto? É cedo para celebrar”, este docente destacou que a construção do novo aeroporto “passou a ser o arquétipo da incapacidade dos portugueses de tomarem decisões estratégicas”. Fazendo referência a algumas referências da cultura brasileira, como o escritor Nelson Rodrigues e o humorista Millôr Fernandes, que no entender do autor “expuseram com perspicácia as mazelas da vida brasileira”, realça o gestor que uma visita ao aeroporto Humberto Delgado é um retrato da “boçalização e caricutarização dos portugueses”.
Para o autor, há uma característica que explica o atraso na decisão e que no entender de Rodrigo Tavares “diferencia portugueses de brasileiros”: “A maioria dos portugueses não tem cultura de risco e empreendedorismo, o que pressupõe tomar decisões difíceis e frontais e assumir responsabilidades. A mera possibilidade de saírem dos seus espaços de segurança, marcados pela constância e previsibilidade, gera um incómodo superior aos impactos negativos da paralisia decisória”.
“A transferência de responsabilidades, e principalmente a insegurança individual que lhe subjaz, não torna apenas dormente a gestão pública e privada. Também gera desconfiança, ressentimento e sobrecargas. E inveja, sabotagem e micro-difamação. Em “Os Lusíadas”, o patrono do novo aeroporto escreveu que, em sua jornada marítima até à Índia, os portugueses tiveram de lutar contra criaturas marinhas monstruosas. Para construírem o novo aeroporto as criaturas marinhas são eles próprios”, destacou.
O primeiro-ministro de Portugal, o social-democrata Luís Montenegro, anunciou na terça-feira que o Governo aprovou a construção do novo aeroporto da região de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete, com a denominação Aeroporto Luís de Camões, com vista à substituição integral do Aeroporto Humberto Delgado.
O Governo aprovou ainda o desenvolvimento de um plano de investimentos faseado que assegure o aumento de capacidade do Aeroporto Humberto Delgado.
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