O Banco Central Europeu (BCE) está reunido esta quarta e quinta-feira, sendo quase certo que deixará os juros sem mexidas, sublinhando a incerteza que se mantém pela via comercial. O euro tem apreciado bastante contra o dólar nas últimas semanas, o que arrisca deixar a autoridade monetária numa posição menos confortável, algo reconhecido pelos próprios responsáveis do banco, mas mudanças não são esperadas por enquanto.
Com oito cortes consecutivos para trás e a taxa diretora em 2%, os juros na zona euro estão alinhados com a leitura mais recente da inflação, que coincide ainda com o objetivo de médio prazo do BCE para o indicador de preços. Perante este cenário, o consenso entre analistas e investidores é que o ciclo de descidas na moeda única está concluído, pelo que a reunião de julho não trará mexidas nas taxas.
Há ainda a possibilidade de novo corte, mas só em setembro. Para Martin Wolfburg, economista sénior na Generali Investments, o fraco crescimento, a força desinflacionária que a apreciação do euro tem criado e os riscos descendentes levarão o BCE a cortar mais uma vez como “seguro” contra esta tendência.
A Ebury converge nesta visão, acrescentando que a presidente Lagarde, “que tem uma apetência para dar muito pouca informação prospetiva, tem ainda menos incentivo para sinalizar o caminho daqui para a frente”.
Por outro lado, com a UE à beira de uma guerra comercial com os EUA, a incerteza que tantas vezes tem sido frisada pela presidente do BCE regressa em força. O prazo para chegar a acordo com os parceiros transatlânticos está à porta (já na próxima semana, dia 1 de agosto) e há indícios de que, na ausência de um entendimento, Bruxelas retaliará – o que arrisca nova pressão sobre os preços e a inflação.
“A especulação sobre um cenário sem acordo UE-EUA está a crescer. Há relatos de que alguns países estão a pedir medidas retaliatórias à medida que veem as probabilidades de um acordo caírem”, escrevem os analistas do banco ING, apesar de não perspetivarem novo rally para o euro contra o dólar.
O euro valorizou mais de 12% contra a divisa norte-americana desde o início do ano e está atualmente na casa dos 1,17, apesar de uma ligeira correção na última sessão. No entanto, numa média ponderada pelos fluxos de comércio, a moeda única fica bastante acima deste valor comparando com o dólar, apontando para algo mais próximo dos 1,60.
Luis de Guindos, vice-presidente do BCE, reconheceu no encontro anual em Sintra que um euro acima de 1,20 dólares tornaria o cenário “mais complicado”, ecoando preocupações de vários governadores de bancos centrais nacionais e de investidores. Por outro lado, a influência da política da Fed no euro é muito superior ao inverso, o que deixa o BCE mais vulnerável às escolhas monetárias norte-americanas.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com