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Inflação e salários

O vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, reafirmou esta semana que o Banco Central continua a considerar a subida da inflação como transitória, mesmo que seja um fenómeno quase omnipresente
25 Junho 2021, 01h34

O vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, reafirmou esta semana que o Banco Central continua a considerar a subida da inflação como transitória, mesmo que seja um fenómeno quase omnipresente. Não é totalmente claro se estamos perante uma convicção ou um desejo, mas é certamente a narrativa oficial. Importa destacar algo mais que de Guindos disse e que pode ser mais polémico: aconselhou a que os governos e as empresas não cedam à tentação de subir pensões e salários de forma automática, perante uma inflação mais alta em 2021 e que poderá chegar a 3% na Zona Euro. Caso contrário, o BCE poderá ser obrigado a tornar a sua política menos expansionista. Pode ser apenas uma ameaça, mas o recado fica dado.

Efetivamente, caso se trate de um fenómeno transitório, a subida de salários e pensões após apenas um ano de inflação implica que os países aumentem estruturalmente os seus gastos, pressionando ainda mais os já altos rácios de dívida e restringindo os seus limitados graus de liberdade na afetação da dívida pública. Também no caso das empresas, as subidas “automáticas” dificilmente serão revertidas e bastará que 2022 seja um ano de crescimento menos exuberante para que muitas empresas sejam incapazes de aguentar o novo nível salarial, originando desemprego. O mercado de trabalho deve ser isso mesmo – um mercado – mas a rigidez à baixa de remunerações raramente é tida em conta.

Finalmente, e talvez esta seja a maior preocupação de Luis de Guindos, a subida de salários e pensões teria o potencial de autoalimentar o fenómeno inflacionista, dificultando a vida ao BCE, governos e aos demais agentes económicos mais vulneráveis às altas de preços, potenciando o aumento da desigualdade e da coesão social.

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