[weglot_switcher]

Inflação homóloga em São Tomé e Príncipe cai em maio e aproxima-se de um dígito

Boletim mensal INE são-tomense confirma trajetória de descida da taxa de inflação. Osíris Costa, economista da direção dos Estudos Económicos do Banco Central de São Tomé e Príncipe, falou com o JE sobre os “problemas estruturais” da produção doméstica em São Tomé e Príncipe, sobretudo na oferta de produtos hortícolas e tubérculos, assinalando a volatilidade e fragilidade do setor primário.
23 Junho 2025, 20h57

A taxa de inflação homóloga em São Tomé e Príncipe desceu para 10,5% em maio, prosseguindo a tendência de queda dos últimos meses.

Os números constam do mais recente boletim do Instituto Nacional de Estatística (INE) são-tomense, que reporta uma redução de 6,1 pontos percentuais sobre a taxa observada no mesmo mês homólogo. Em maio deste ano, a taxa de variação mensal foi de 0,4% em maio, caindo 0.5 pontos percentuais face a abril (0,9%).

Numa análise para o Jornal Económico (JE), Osíris Costa, economista da direção de Estudos Económicos do Banco Central de São Tomé e Príncipe, lembra que o setor primário, que emprega cerca de metade da população são-tomense, “é muito frágil e volátil”. Ao mesmo tempo, alerta para a volatilidade e redução na produção hortícola e a captura de peixe, que explicam, em parte, “a pressão que se tem observado”.

“No geral, neste momento já não estamos a observar a inflação importada. Temos problemas que são estruturais à nossa produção doméstica, sobretudo a oferta de produtos hortícolas, tubérculos, entre outros. É muito volátil”, analisou, alertando que o “país tem estado a observar efeitos das alterações climáticas cada vez mais significativos neste setor”.

O economista afirma, ainda, que o atual nível de inflação doméstica “é muito superior” ao da Covid-19. “Os problemas estruturais internos a nível de oferta agravaram-se muito e há muitos fatores que podem explicar isto, como a emigração em larga escala. Hoje temos menos pessoas a produzir no setor primário. E isto pode, de facto, ter aqui influência. Fala-se de muitas terras abandonadas. Há aqui situações de risco muito assinaláveis para a estabilidade de preços”, explicou. 

Em 2024, a taxa de inflação fixou-se em 14,5%, com o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) a preverem uma descida da taxa para um dígito já este ano. O FMI aponta para os 9,6% já em 2025. Em 2026, deverá atingir os 7%, segundo o BAD.

Osíris Costa recorda que foi em 2016 que se começou a “observar uma inflexão da curva da inflação no sentido crescente”, depois de ter atingido o “valor mais baixo” (4%) no ano anterior. “Estávamos a fazer uma convergência, digamos assim, com a inflação portuguesa, por força da ancoragem. Mas depois passou-se observar uma divergência. Em 2019/2020, já tocava nos 9,5%, aproximando-se dos dois dígitos em 2021, à boleia das “crises que se observaram a nível global e com o choque energético que alterou completamente a inflação a nível global”. 

Em 2022, a inflação em São Tomé e Príncipe atingiu 25,2%, período em que a “crescente pressão interna também que já se estava a observar relativamente à redução e a volatilidade da produção doméstica”. “As políticas que se adotaram na altura, sobretudo do lado fiscal, não ajudaram a contrariar esta pressão que se observou e que foi importada. Tivemos o maior défice primário justamente no ano em que se observava uma grande pressão inflacionista, quer importada, quer da inflação que decorria da produção doméstica, hortícola e piscatória”, recordou.

“Agora estamos a 11%. Estamos a caminhar para um dígito, que é o que se pretende. E o défice primário caiu de 5,2″ em 2022, e agora está muito próximo de 1,8”, continuou o professor universitário.

Recuando ao boletim mensal do INE, olhando para as classes de despesas, a “Restauração, Hotéis, Cafés e Similares” (3,1%), “Habitação, Energia e Combustível” (1,5%) e “Educação” (1,5%) apresentaram as variações positivas mais significativas numa análise em cadeia. Em contracorrente, as classes do “Mobiliários e Artigos de Decoração” (- 0,2%) e “Saúde” (-0,1%) foram as que menos contribuíram.

BAD prevê inflação nos 7% em 2026. É possível? 

Questionado sobre se acompanha a previsão do banco multinacional, Osíris Costa assume “moderação” na análise.

“Não seria assim tão otimista. Acho que pode cair para os 9% (ou aproximar dos 8,5%), mas não mais do que isto”, comentou.

“Vamos continuar seguramente a adotar medidas monetárias restritivas que limitam – e muito – o acesso do Estado ao financiamento por via das instituições financeiras. Porque isto era um fator que, na minha opinião, realimenta a pressão. Ou seja, nós vamos contrair ainda mais a procura agregada”, continuou o também consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Por outro, continua, o Governo vai avançar com “alguma reposição do poder de compra das famílias”. “O governo vai fazer a revisão da grelha da massa ao nível do setor público. Não se fazia isto há alguns anos. Nós atravessámos um surto inflacionista bastante significativo, com um impacto muito significativo no poder de compra das famílias. E eu penso que este ano vai ser um ano de alguma reposição do poder de compra. No próximo ano, que vai ser um ano eleitoral, esta reposição ainda poderá ser mais significativa. Não sei até que ponto estas medidas poderão comprometer ou não esta meta de 7%; já se fala em greves”, analisou.

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.