«Quando o mundo se super-humanizar, lá estará o português para achar natural o que acontece, e portanto necessitado de reforma, e por conseguinte de diálogo. O último homem sobre a terra terá de ser um português que duvida do que é natural e que se indisciplina perante a consumação dos séculos» (Agustina Bessa-Luís).

 

Em semana do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Lusas pelo mundo há que enaltecer todos os Portugueses – indivíduos e colectivos, seja no território nacional seja na Diáspora –, que fazem ecoar o Hino e embandeirar as Quinas mais alto e mais além. E que não somente as figuras mais emblemáticas e mediáticas a nível planetário. Tantos e tantos casos de honra e de glória no foro local, fora da capital, sem (grande) projeção global! E não há somente aqueles usurpadores de impunidades, mas também há – com aptidão própria e para o bem comum – os sublimes conquistadores de oportunidades: há muitos e mais do que os primeiros, embora passem despercebidos.

 

E hoje centro-me e concentro-me num desses casos meritórios, de âmbito institucional/empresarial no país, por inúmeras e ótimas razões em prol da sustentabilidade ambiental, da biodiversidade e da mobilidade urbana; mostrando e demonstrando que o Algarve não é apenas sazonal, não é só turismo de “sol e praia”. Trata-se da INFRAMOURA, fundada em 2007 e situada em Vilamoura – que André Jordan (um dos mais influentes empresários do mundo) define como “a cidade turística mais bem-sucedida da Europa”, já que “não tem aspetos negativos”. Esta é uma questão de justiça informativa, que não unicamente solidariedade para com a região que enfrenta sérias ameaças até ao final do século, com as alterações climáticas reais.

 

Eis algumas dessas razões que evidenciam a Inframoura, pertencente ao município louletano:

– implementou um plano ambicioso de descarbonização visando reduzir 30% das emissões de CO2 da empresa até 2028, após em 2018 terem instalado uma central fotovoltaica e culminando este ano alargando-se a introdução de energias renováveis aos sistemas de armazenamento e distribuição de água, com a criação de mais duas centrais fotovoltaicas: uma nos estaleiros, possibilitando a transição energética com a produção de água quente aproveitando a energia solar, e outra na respetiva sede, num sistema complementado com uma componente de armazenamento do excedente em baterias recuperadas de veículos elétricos, assegurando a total autonomia energética do edifício. Este é o segundo exemplo a nível nacional (o primeiro criado advém do Porto Santo), sendo o primeiro em Portugal Continental;

– participou, entretanto, em dois fóruns. Um sobre o combate às perdas de água e outro sobre a tecnologia de medição como suporte da sustentabilidade e eficiência no uso da água, em que partilhou a sua experiência na estratégia para a redução de perdas aparentes em Vilamoura;

– o Centro de Congressos do Algarve é precisamente em Vilamoura;

– já no início de maio, durante quatro dias, realizou uma limpeza aos pinheiros nas estrada de Quarteira;

– atualmente, decorre na Marina de Vilamoura (a marina portuguesa mais premiada nacional e internacionalmente), tanto a exposição fotográfica ‘Photo Ark’, da National Geographic | Joel Sartore (até dia 30/09) num recinto com 400 m2 e depois de ter passado pelo Porto e por Lisboa, bem como o ‘International Boat Show’ (até 16/06);

– o Sistema de Bicicletas de uso partilhado (‘Vilamoura Public Bikes’), instalado em fev. 2012, regista números impressionantes de êxito. Funciona em 43 estações locais e 362 postes de parqueamento, com 260 bicicletas e 5.000 cartões de utilizador (já realizaram 465.000 viagens desde a sua implementação, correspondentes a 825.000 km percorridos). Utiliza a ferramenta HEAT, da OMS, poupando-se assim cerca de 450.000 euros a nível da saúde;

– Vilamoura surge como a nova “Meca” da Vela, não só pelo seu famoso torneio internacional, mas também por atrair regularmente centenas de atletas em treino para os Jogos Olímpicos;

– a realização do congresso mundial de Esqui, em 2022.

 

E não há grande obra que não tenha, por detrás, uma grande equipa, para além do seu diretor e entusiasta dinamizador, que valoriza sobremaneira a cultura do “nós”. Por isso o reconhecimento neste jornalismo de causas que prezo (e pelo qual rezo que não se perca) vai para toda a estrutura e para o concelho de Loulé, que merece este prémio de reconhecimento escrito, juntando os louros públicos já arrecadados. São eles: o prémio de mobilidade de bicicleta, atribuído pela Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta), e o prémio de reabilitação urbana, concedido pela Associação Industrial Portuguesa. A Inframoura é um reflexo esplêndido do engenho dos seus funcionários em geral, com nexo na intuição clara de José de Alencar: “O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis”. Verdade, elas estão à vista, duráveis e perduráveis.

 

Nesse engenho, reforço o formidável plano de mobilidade urbana, pioneiro no país (até pelos moldes que o caracterizam). Só para se perceber a dimensão: este excelente Sistema de Bicicletas de uso partilhado é eco lá fora e a Inframoura representará Portugal na ‘Velo-city Conference’ 2019, no fim do mês em Dublin (25-28/06). Esta é a maior cimeira anual mundial de políticas e planeamento para a mobilidade em bicicleta, apelando para as suas inovações, boas práticas e mudanças sociais e culturais, alavancadas pela utilização de velocípedes à esfera global.

E em Portugal – e para além desses dois troféus referidos –, que reconhecimento público-estatal consistente tem merecido a Inframoura por todos estes seus trabalhos alargados e avançados (olhando a outras regiões), cimentados no desenvolvimento urbano e na priorização ambiental sustentáveis?!… E quando falamos ou ouvimos falar em mobilidade urbana, num debate ou num programa televisivo, tenhamos consciência desta realidade e não fiquemos por outras de menor amplitude ou com algumas lacunas na sua operacionalização, comos os novos sistemas de trotinetes elétricas pelo país no último trimestre (Coimbra, Faro – que também terá bicicletas partilhadas –, Gondomar, Lisboa, Matosinhos, etc.).

Partilhemos e valorizemos casos de sucesso como os da Inframoura, em Portugal e dos Portugueses – eles existem: é preciso encontrá-los, divulgá-los e estimulá-los –, a fim de se multiplicarem e de não findarem.

 

Envolvamo-nos e desenvolvamos, portanto, um Portugal inclusivo na mobilidade e na sustentabilidade, de um todo para todos e com todos em tudo, para que da memória – sem qualquer escória – continuemos a fazer História e “um Portugal que não seja só este lençol de terra acabado na espuma do mar” (Agustina Bessa-Luís).