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“Iniciativa Pró-Montado”. Florestas estão na linha da frente no combate ao avanço da desertificação no país

Os promotores da iniciativa referiram os graves períodos de seca do Alentejo que estão a provocar consequências nefastas na desflorestação da região, o avanço do deserto para norte e o aumento dos períodos de fraca precipitação no país.
8 Agosto 2019, 07h46

Conservar o estado das florestas para combater a desertificação no Alentejo é o principal mote da “Iniciativa Pró-Montado Alentejo”, que foi redigida com o intuito de alertar o público e Governo do estado de seca e os períodos escassos de chuva que afetam a zona.

Para a recolha e análise de dados, reuniu-se um grupo que de cerca 30 produtores, cientistas, ambientalistas, dirigentes do setor, ex-governantes e autarcas que analisaram a evolução climático-florestal nas regiões do sul.

As primeiras conclusões, retiradas no ano passado, sugeriam que era necessário adaptar climaticamente o montado, mas face ao agravamento das áreas de desflorestação naquela área, os especialistas consideram ser necessário restaurar as zonas já degradadas e expandir a área verde de forma a criar uma mancha florestal – semelhante aos projetos de expansão florestal que se vêem na China e, mais recentemente na Etiópia.

Durante a conferência de imprensa, que decorreu, esta quarta-feira, na Academia de Ciências, em Lisboa, os especialistas reforçaram a ideia de que é necessário um “forte investimento público” na expansão da zona florestal, mais especialmente de sobreiros e azinheiras por serem resistentes ao calor. Consequentemente, com a implementação de mais árvores, dar-se-á o fenómeno de “evapotranspiração”, que pode influenciar ao aumento de queda de água.

“Há bastante área para o fazer”, acrescentou Pedro Sousa, gestor florestal. “Temos de expandir os atuais 835 mil hectares no Alentejo de sobreiros e azinheiras para uma área total de 1.5 milhões”, rematou afirmando haver um consenso técnico-cientifico de que deve haver manchas florestais continuas para promover o aumento de humidade, redução de temperatura e condições para criar nuvens. Tudo isto para que haja chuva.

Tudo isto para que haja sombra, também. De acordo com os especialistas, o ensombreamento é vital no âmbito da resistência às alterações climáticas de modo a  reduzir a temperatura (e evaporação consequentemente) do solo na estação quente.

Assim, construir essa barreira, amiga do ambiente, com base no montado de sobreiros e azinheiras, passa a uma recuperação de solos, uma melhor infiltração e retenção das águas da chuva e pelo adensamento do arvoredo existente. Ao mesmo tempo, estará a ser fomentada a coesão económica e social.

A “Iniciativa Pró Montado Alentejo”, que foi lançada em maio de 2018, vem então defender, e apelar ao Governo, a implementação de um Programa, com prazo de 20 anos, inserido no contexto da adaptação de Portugal às alterações climáticas. Este programa, não só contribuirá para uma maior captação, infiltração e fixação da água nos solos, como será um passo importante no rumo à Neutralidade Carbónica, para 2050. Para além disso, os presidente da associacao Quercus fez um apelo à importância em declarar um estado de emergência climática na região do Alentejo.

“Acho que era altura de pensarmos seriamente em fazer um desafio às várias autoridades e declarar emergência climática para o Alentejo”, afirmou Paulo do Carmo, adiantando que há países como a Alemanha, Bélgica, Canada e Estados Unidos que já o fizeram.

A informação avançada pelo grupo relembra que o Alentejo representa cerca 1/3 do território continental e que é a zona mais exposta às alterações climáticas, tendo 99% de de susceptibilidade à desertificação e o índice de aridez a triplicar nos últimos 30 anos. Os cientistas alertam que se nada for feito, os dados conduzirão a região à desertificação física e humana.

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